domingo, março 16, 2008

Volúpia com Paixão

Teve uma noite péssima, mal pregou o olho e já estava no carro, dirigindo rumo ao consultório. Mais um dia "tarja preta" o esperava. Vida de psiquiatra, sabe como é ...

Ana (Subtexto: Mais uma visita a esse psiquiatra que mais parece o meu paciente): Bom dia, doutor!

Dr. Genésio (Subtexto: Lá vem a Clara, coitada. Não tem cura e fica me pagando a troco de nada...): Bom dia, Clara!

Ana (Subtexto: Ufa, o bafo de sempre!): Doutor, o senhor me chamou de quê?

Dr. Genésio (Merda, sempre troco o nome dela): Ana, claro!

Ana (Subtexto: Saaaaaco!): O senhor está bem? Que cara é essa?

Dr. Genésio: Não dormi bem, sabe. Edinalva, outra vez, com suas crises...

Ana (Subtexto: Lá vem... Mais uma sessão em que não vou conseguir falar nada...): Entendo. Chato isso de sua esposa, né, o senhor havia comentado que não tem cura...

Dr. Genésio: É, não tem. A última dela foi sair de casa dizendo que resolveria de uma vez por todas a crise entre China e Tibet. Foi direto a uma agência de viagens e comprou uma passagem para a Índia onde, em sua mente doentia, encontraria com Dalai Lama, para um chá das cinco. Sabe, Clara, quer dizer, Ana, eu não agüento mais. Está pesado demais. Já pensei até em suicídio.

Ana: Doutor, não, pelo amor que você tem a Krishna!

Dr. Genésio: Pois Krishna tem me deixado na mão, você nem queira saber...

Ana (Subtexto: Agora chega, tô pagando essa porcaria, ele vai ter que me ouvir): Eu sei, eu sei. Mas, então, doutor, como eu dizia na sessão passada, aquele grilo ainda continua dentro da minha cabeça. E ele percorre o meu sangue, doutor, com a determinação de um vampiro. E está mais para Dusseldorf do que pra Drácula! Daí você já pode imaginar a gravidade...

Dr. Genésio: Sabe, Clara, eu estive pensando em tirar umas férias. Viajar, sabe. Desligar um pouco dessa vida que me deixa louco, desse ambiente pesado... O que você acha?

Ana: Não sei, doutor. O senhor sabe que minhas últimas viagens têm sido de ácido e chá de cogumelo.

Dr. Genésio: Cogumelo... Paris seria uma boa pedida, não?!

Ana: Doutor, eu vou indo...

Dr. Genésio (Subtexto: Como é mesmo o nome dela? Lembrei!!): Ana Clara, você pintou as unhas de vermelho essa semana. É um bom sinal. Sinal de que a depressão lhe abandona aos poucos. Muito bem, filha. A cor?

Ana (Subtexto: Hein?): O que tem a cor, doutor?

Dr. Genésio: Que esmalte você tem nas unhas?

Ana (Subtexto: Era só o que me faltava...): Volúpia com Paixão. É a última moda!

Dr. Genésio (Subtexto: Hummm... O mesmo que Sharon Stone usava nas filmagens de "Atração Fatal"): Bom saber, querida. Bom saber.

Ana vai embora.

Dr. Genésio: Dona Marta, quer dizer, Clara. Ou seria Pâmela? Secretária, pode mandar entrar o próximo psiquiatra!

segunda-feira, março 10, 2008

Limonada

No final do ano passado, assisti na Tv a uma entrevista com um desses numerólogos, astrólogos, tarólogos... Bom, não importa o que ele era, mas me chamou a atenção uma de suas colocações: "Escreva num papel as suas metas para 2008. Escrever é um grande passo para materializar nossos desejos e nos ajuda a visualizar melhor o que realmente queremos." O depoimento me pareceu ter parentesco na auto-ajuda, a figura do cara era meio esquisita, enfim, eu não sabia muito bem o que eu estava fazendo presa àquela situação: um fim de semana ensolarado e eu, grudada na Tv, ouvindo conselhos para o ano que chegaria dentro de alguns dias.

Se você estava meio na dúvida sobre a sanidade mental da autora do blog, agora vai ter certeza sobre suas suposições.

E não é que a mocinha que vos escreve pegou um papel e enumerou suas metas para 2008?! Eu acreditei naquilo. Não sei o que me fez crer naquele homem, cujo depoimento era possivelmente o de um charlatão. Mesmo assim, listei meus objetivos e tenho o papelzinho guardado com o maior carinho, num lugar secreto, para preservar o maridão e a faxineira de um pedido (feito por eles, é claro) de separação.

Agora é que você não volta mais ao blog... Sei que estou correndo esse risco, mas que aspirante à escritora não se arrisca nessa vida?

Foi quando voltei pela primeira vez ao papelzinho e descobri que duas das metas já haviam sido cumpridas. Uma delas, que era para o segundo semestre do ano, se adiantou e me fez um bem danado de bom. A outra... Ah! A outra eu posso dividir com você (aliás é a única que posso divulgar): tomar mais limonada. Tem coisas que a gente pára de fazer, sem explicação, por falta de tempo ou porque não lembra mesmo... Mas que são coisas que a gente ama. E eu havia parado de tomar limonada. E eu amo muuuuuuito uma limonada bem refrescante! Este ano, minha casa virou, praticamente, um limoeiro.

Enfim, para terminar esse papo de comadre, chego à conclusão de que aquele "ólogo" qualquer tinha uma certa razão... (pausa para reflexão) Ou foi a força do meu pensamento? Ou a posição dos astros no momento em que desejei tudo aquilo? Ou a intensidade das palavras? Ou a tinta daquela bic abençoada? Só sei que, depois disso, eis o meu conselho: seja por que motivo for, escreva suas metas, meu amigo. Afinal de contas, não tira pedaço e ainda dá um reforço pros neurônios na hora de contar para os netos quais eram seus desejos naquele ano tão remoto...

segunda-feira, março 03, 2008

Conga - A Mulher Gorila

Leitora quase assídua da "Super Interessante" que sou, deixo aqui registrada a minha surpresa em descobrir, através da edição de Janeiro/08, que "Conga - A Mulher Gorila", aquela moça "sexy" que se transformava numa macaca louca, desvairada dentro de uma jaula muito da tosca, no Tívoli Park, teve origem num personagem real: a mexixcana Julia Pastrana.

"Nascida em 1834, Julia desenvolveu uma forma severa de hipertricose, doença raríssima que atinge uma em cada 300 milhões de pessoas, deixando o corpo coberto de pelos pretos."

Julia foi descoberta por um comerciante e passou a ser exibida em freak shows, que divertiam a audiência da Europa e dos EUA, nos séculos XIX e XX. Morreu aos 26 anos, durante o parto de seu único filho, que também faleceu três dias depois de vir à luz. O mais macabro dessa história toda? O empresário mandou mumificar os dois cadáveres e continuou a exibí-los. Mais tarde, as múmias passarm às mãos de um showman norueguês que viveu às custas de mãe e filho por vinte anos... Hoje, finalmente, Julia e sua cria descansam no Instituto Forense de Oslo, longe da curiosidade alheia.

É nessas horas que a gente descobre que não sabe mesmo é de nada. Tudo bem que saber que a Conga tem origens no México, etc e tal não é a coisa mais importante do mundo. Mas, confesso, pra mim é um prazer me informar sobre coisas que não interessam à grande maioria. Mais do que nunca, a teoria - que já virou clichê - de que "Nada se cria, tudo se transforma" é mais do que pertinente no mundo de hoje.

Ah! E desculpem a sessão nostalgia, mas não posso deixar de me abater ao realizar que os incríveis tempos de Conga, no Tívoli Park, não voltarão jamais.