segunda-feira, agosto 20, 2007

Fragilidade na China

O cenário era Beijing, na China. Tudo corria bem se não fosse aquele tombo insperado. Um tombo que rendeu àquela mãe uma cirurgia, em plenas férias e do outro lado do mundo. A filha do meio olha em volta e não acha os irmãos, que estão entretidos em meio aos templos e à riqueza da cidade que visitam. Chineses se aglomeram em volta daquela mulher que tem a testa sangrando e o braço quebrado. Mas estava tudo bem momentos atrás... Como pôde tudo mudar numa fração de segundos? A língua falada pela multidão é incompreensível. De repente, como uma miragem, aparece uma jovem prestativa e bem intencionada, que fala um pouco de inglês. Os irmãos chegam, um policial também, as pessoas aglomeradas e curiosas finalmente se afastam e aquela mãe, agora fragilizada e impotente diante daquela situação inusitada segue rumo ao hospital, num carrinho motorizado. O hospital é público, porém pago. E vem a notícia: ela precisa ser operada. Os irmãos pedem auxílio à Embaixada Brasileira em Pequim. Tudo certo. Conseguem a remoção para um hospital particular, um dos melhores da cidade. Ávidos por uma segunda opinião, com esperança de ser algo mais brando, ouvem: ela precisa ser operada em, no máximo, 48 horas. Os três irmãos, do outro lado do mundo, sem mais ninguém da família por perto, têm uma decisão a tomar. Precisam pensar rápido.

Sala de cirurgia, anestesia geral. No corredor, pernas aceleradas para um lado e para o outro. Angústia. Preocupação. Duas horas. Três horas. Mais um pouquinho e ela sai do centro cirúrgico bem, sem dor. Três dias de internação, os ânimos estão mais calmos. Ela passa bem e pode voltar ao quarto de hotel. Ainda falta uma semana para terminar a viagem. Volta antecipada? Nada. A viagem seguiu, muito bem, como se aquela família não tivesse sofrido absolutamente mal algum. O que poderia ter se transformado num caos, nas piores férias de todos os tempos para cada um, foi uma experiência enriquecedora, vivida em conjunto. Um momento de profundo auto-conhecimento, de valorização da vida e de momentos como aqueles.

Foi na China... E isso fez com que a condição de fragilidade de cada um aumentasse muito. Uma fragilidade que nos acorda, que nos faz pensar e, principalmente, nos diz que estamos vivos. Uma fragilidade que segundo Jean Claude-Carrière "é nossa fonte escondida, o motor de toda emoção e de toda beleza. Devemos aceitá-la. Reivindicá-la. Sejamos frágeis, porém flexíveis. E calmos diante do desconhecido".

2 comentários:

Anônimo disse...

Bel,
A história, real, vista pelos seus olhos ganha uma outra dimensão com esse relato lindo, tão bem feito.
O que te difere de outros blogueiros, amiga, é sua sensibilidade.
Parabéns! E continue nos deliciando com seus textos.
Beijos,
Re

Marco disse...

Olá, Isa, a Bela. Estive um mês sem computador. O meu PC deu um piripaque e me deixou afastado do ambiente blogueiro.
Beleza de texto, heim? Eu fiz uma catarsezinha e me coloquei no lugar de um dos filhos da mulher. Caraco! seria preciso muita calma naquela hora. E no final, como bem disse Shakespeare, tudo acaba bem. Beleza! Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.