sábado, fevereiro 28, 2009

Silêncio com bg


Já que a Índia tá na moda, vamos a um provérbio que vem de lá: "Quando falares cuide para que suas palavras sejam melhores que o silêncio". 

Outro dia estava conversando com alguns amigos sobre a música e o silêncio. Todos falavam sobre suas preferências e descreviam o papel que cada uma dessas figuras desempenhava em suas vidas. Lembro-me bem do que disse, quando chegou a minha vez: "Eu prefiro o silêncio. Não que eu goste daquele silêncio em que não se ouve nada, gosto de um silêncio com bg, se é que vocês me entendem. Apesar de adorar música e reconhecer o seu poder sobre nós, simples mortais, se eu tivesse que escolher entre ouvir música ou ouvir o silêncio, ficaria com a segunda opção numa escala de 70% pra 30%". 

Curiosa essa colocação para uma pessoa que trabalha falando pelos cotovelos e ouvindo música, não?! Ganho a vida assim e gosto muito do que faço, mas ando em busca de realizar o que o provérbio que inicia esse post aconselha. A cada dia que passa fica mais claro pra mim o poder que há no silêncio e o bem que ele me faz.


domingo, fevereiro 15, 2009

Sinais dos tempos


Tenho 33 anos. Quem me conhece sabe que essa frase será falsa por mais dois meses e alguns dias, que é quando realmente completo a idade de Cristo. Mas, já que tô quase lá, arredondei. Não sei se isso é praxe, mas posso falar de mim. Quando passei dos 30, comecei a perceber diversas coisas interessantes em volta. Hoje, vou me ater a uma delas. Com apenas 33, sou sempre uma das mais velhas nas turmas de trabalho. Tanto nos fixos, quanto nos projetos em que me envolvo com início, meio e fim. Ser uma das mais velhas com apenas 33 me leva a pensar que o mercado está mesmo muito perverso. Ou você se firma enquanto está nos idos dos vinte e pouco ou então... Só que contamos nos dedos as pessoas que conseguem esse feito tão cedo. Uma outra causa disso é que empregadores têm pago cada vez pior seus profissionais e o mais novos, normalmente, têm mais disposição para se submeter à condições não tão boas de trabalho. Chegam cheios de disposição e, diante de um mercado tão duvidoso, precisam adquirir experiência a qualquer custo. Afinal de contas, o tempo passa para todos, não é? Mas, preciso confessar que isso me causa uma certa frustração. Sempre gostei de me espelhar em pessoas mais velhas, de olhar pra fulano querendo ouvir: eu sou você amanhã (Lembram do comercial? Era de que mesmo??)! Onde estão vocês, caríssimos gurus? Onde foram parar?

Bom, deixa eu voltar aos meus 33. Quem me lê há mais tempo, sabe que uma das coisas que mais prezo na vida é envelhecer. Já dizia nosso grande Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam." Pois eu atendo ao pedido desse grande mestre com prazer. E acho uma diversão olhar para os mais moços e ver que, para alguns, pareço uma senhora de seus 80 anos. Minha relação com o sol mudou, com o Carnaval também. Com a família, com o cachorro, com os amigos, com o mundo. E  sinto-me mais inteira. Mesmo que essa sensação nem sempre seja prazerosa. Há dor também num ser que se sente mais completo a cada dia, pois ela é parte da nossa construção como indivíduos. E vou me sentindo melhor a cada mudança de olhar, a cada percepção diferente, a cada certeza nova e a cada dúvida nova também. Sim, as dúvidas do passado vão dando lugar as do presente e assim por diante. Mas, o que seria de nós se não fosse o tempo, esse cara que nos transforma - se  formos minimamente inteligentes - para melhor.? Na Índia, os mais velhos são cumprimentados com toques nos pés, em respeito aos caminhos que já percorreram. E não há nada mais bacana do que os caminhos que percorremos, sejam eles físicos ou emocionais. Sem o tempo, os caminhos não se fazem e sem os caminhos, não há crescimento. Portanto, vivam os dois! E vivam os meus 33 adiantados!

Obs: A inspiração para esse texto veio de uma crônica que li hoje, na revista do jornal "O Globo", de autoria do cantor e compositor Bena Lobo. Vale a pena ler!!

Obs 2: A foto que ilustra essa crônica é da mão de um chinês de mais ou menos 70 anos. Eu o flagrei num momento de pura diversão, quando tocava seu instrumento musical e cantava em plena praça pública, na poluída Pequim. Que o tempo me permita ser assim quando crescer! Insha-Allah!