quinta-feira, julho 12, 2007

Que mico...

No consultório psiquiátrico...

Dr. Gerúndio: O que está havendo, Clara, porque estamos com essa carinha, hein?!

Clara: Afoguei meu mico no leite.

Dr. Gerúndio: Não sabia que você estava criando um mico, filha. Sabe que é proibido?!

Clara: Não crio mais. Ele morreu.

Dr. Gerúndio: E isso está mexendo muito com você, não é?! Conte o que houve...

Clara (muito perturbada): Estava assistindo "Law & Order" e, ao mesmo tempo, alimentava Sebastião, meu mico, segurando seu pescoço, fazendo tipo um carinho, sabe...

Dr. Gerúndio: Estou compreendendo...

Clara: Não sei o que houve, acho que me distraí e quando vi, tinha afundado a cabeça dele dentro do leite... Tentei socorrê-lo, fazer respiração boca-a-boca, mas de nada adiantou. Sabe, doutor, estou muito mal, nunca pensei que fosse tirar a vida de um ser humano...

Dr. Gerúndio: Filha, você não fez de propósito e, além do mais, sua relação com esse mico estava causando uma dependência psico-transgênica muito nociva à saúde. E você sabe o que Freud pensa das dependências...

Clara (tirando umas barbinhas que crescem de vez em quando no queixo, fruto da testosterona que seu corpo produz exageradamente): Mas o fato, doutor é que eu e Sebastião nos amávamos e eu tirei a vida da porra do mico. Não consigo me perdoar. Ele ficará para sempre em meu coração.

Dr. Gerúndio: Então, filha, o importante está sendo essa sua consciência bonita do amor. Sabe (já deixando escapar um choro e também seus sérios problemas neurológicos), tive um carneirinho uma vez... Nas férias, meus pais me deixavam na fazenda e me pagavam quando as aulas iam recomeçar. Ficávamos eu e o carneirinho. Fui pular a cerca, ele veio atrás de mim...

Clara: E...

Dr. Gerúndio: A cerca era elétrica e o carneirinho foi eletrocutado ali, na minha frente. Eu não podia fazer nada... Ele padeceu em meus braços (agora ele perde o controle de vez e chora copiosamente).

Clara: Doutor, não sei o que dizer... Que bom que o senhor me entende, então. Mas, já está na minha hora, vou indo... Combinei com o pessoal da igreja de ver "Transformers" no cinema... Além do mais, está um dia lindo. Um sorvete de manga cairia muito bem... Depois o senhor precisa me contar daquela viagem que fez ao Congo... Era para estudar o que mesmo? (ela vai saindo sorrateiramente e suas palavras vão ficando cada vez mais baixas)

Fade out.

O casal...

Lá fora ouço o toc, toc, toc da obra que não acaba... Aqui dentro o ambiente se faz acolhedor, friozinho gostoso, vinho tinto acompanha. No alto da estante me deparo com dois bonequinhos de biscuit, um casal de velhinhos, presente da minha mãe. Disse ela representar eu e maridão num futuro distante. A senhorinha é muito linda, tem um coque todo arrumadinho e faz tricot. Já ele carrega sobre o nariz uns óculos pesados e lê algo que minha imaginação diz que leva capa de couro. Tenho trabalhado muito, sempre olhando para esse casal. E olhar para eles tem me feito pensar em tantas coisas que, para a tristeza de meus quatro leitores assíduos, não vou listar por aqui...

Frases

"Simplicidade é algo que se alcança". Essa eu ouvi do meu sábio sogrão e não me saiu da cabeça...

"O que não é legítimo não dura". Essa veio da minha professora de canto, um doce e muito sábia também.