Atendendo a pedidos, cá estou eu a falar sobre a China de novo. O que me parece muito bom. Afinal, recordar é viver.
No ano em que eu nasci, 1976, a China começava a se abrir para o mundo, em decorrência da morte de Mao Tsé-Tung. Muitas mudanças ocorreram nos cenários agrícola, industrial, militar e tecnológico para proporcionar ao país desenvolvimento econômico e humano também, por que não?! Bom, onde quero chegar com essa introdução que mais parece uma dissertação de mestrado?! No turismo. Sim, porque uma das consequências dessa abertura da China para o mundo foi permitir a entrada de estrangeiros no país. Mas isso foi se dar, de fato, na década de 90. Até então, havia poucos ET's na capital chinesa e a vida deles era completamente separada da dos habitantes locais.
Corta.
2008. Há quarteirões em Beijing onde se vê mais "laowai" do que gente de olhos puxados. Os turistas brotam das estações de metrô, de dentro dos táxis, dos hotéis e de monumentos que mais parecem ter saído de um filme de Zhang Yimou ( "Lanternas Vermelhas"). O mundo, definitivamente, voltou seu olhar para a China e parece manter firme o foco até agora.
O mais interessante é que, até ir pro outro lado do mundo, eu só tinha visitado lugares onde sempre foi muito fácil não dar pinta de gringa. Na Europa, na América do Norte e na América do Sul, pessoas com meu tipo físico disfarçam bem e andam pelas ruas como se fossem locais. Se a língua não for uma barreira, então, melzinho na chupeta. Agora eu pergunto: e na China, meu amigo, como é que a gente faz? Não faz. Não há como disfarçar. Nem adianta tentar. Somos fisicamente diferentes, falamos línguas inimigas e até gesticulamos de formas opostas. Quer um conselho? Relaxe e aproveite a experiência. Mulheres loiras, de olhos relativamente claros e pele branca são consideradas atrizes de Hollywood por lá, praticamente irmãs de Angelina e Brad. A quantidade de vezes em que fui abordada na rua para tirar fotos é digna de entrar pro Guiness. E dizem que a foto vai parar na mesinha de cabeceira, na cômoda, enfim, em qualquer lugar de muito destaque na casa dos chinas. Só vivi algo parecido quando cobri o Rally Internacional dos Sertões e fui para regiões muito remotas do nosso Brasil, onde crianças vinham tocar em helicópteros - e em mim - para saber se éramos de verdade. Mas, na China, sei lá, a coisa parece tomar outra proporção.
Agora me diz, vai: é ou não é incrível saber que a uma hora dessas uma família inteira de pequineses toma café da manhã olhando para a fotinho dessa "laowai" de mente inquieta?! Que o menino que sonha ser engenheiro estuda ao lado da figura de alguém que ele mal conhece, que os amigos jantam sob o olhar de uma brasileira que um dia se aventurou em terras distantes e disse "sim" a um singelo pedido para tirar uma foto. Voltei ao Brasil com um pedacinho da China e, de certa forma, a China ficou com uma pequena parte de mim.