Tenho 33 anos. Quem me conhece sabe que essa frase será falsa por mais dois meses e alguns dias, que é quando realmente completo a idade de Cristo. Mas, já que tô quase lá, arredondei. Não sei se isso é praxe, mas posso falar de mim. Quando passei dos 30, comecei a perceber diversas coisas interessantes em volta. Hoje, vou me ater a uma delas. Com apenas 33, sou sempre uma das mais velhas nas turmas de trabalho. Tanto nos fixos, quanto nos projetos em que me envolvo com início, meio e fim. Ser uma das mais velhas com apenas 33 me leva a pensar que o mercado está mesmo muito perverso. Ou você se firma enquanto está nos idos dos vinte e pouco ou então... Só que contamos nos dedos as pessoas que conseguem esse feito tão cedo. Uma outra causa disso é que empregadores têm pago cada vez pior seus profissionais e o mais novos, normalmente, têm mais disposição para se submeter à condições não tão boas de trabalho. Chegam cheios de disposição e, diante de um mercado tão duvidoso, precisam adquirir experiência a qualquer custo. Afinal de contas, o tempo passa para todos, não é? Mas, preciso confessar que isso me causa uma certa frustração. Sempre gostei de me espelhar em pessoas mais velhas, de olhar pra fulano querendo ouvir: eu sou você amanhã (Lembram do comercial? Era de que mesmo??)! Onde estão vocês, caríssimos gurus? Onde foram parar?
Bom, deixa eu voltar aos meus 33. Quem me lê há mais tempo, sabe que uma das coisas que mais prezo na vida é envelhecer. Já dizia nosso grande Nelson Rodrigues: "Jovens, envelheçam." Pois eu atendo ao pedido desse grande mestre com prazer. E acho uma diversão olhar para os mais moços e ver que, para alguns, pareço uma senhora de seus 80 anos. Minha relação com o sol mudou, com o Carnaval também. Com a família, com o cachorro, com os amigos, com o mundo. E sinto-me mais inteira. Mesmo que essa sensação nem sempre seja prazerosa. Há dor também num ser que se sente mais completo a cada dia, pois ela é parte da nossa construção como indivíduos. E vou me sentindo melhor a cada mudança de olhar, a cada percepção diferente, a cada certeza nova e a cada dúvida nova também. Sim, as dúvidas do passado vão dando lugar as do presente e assim por diante. Mas, o que seria de nós se não fosse o tempo, esse cara que nos transforma - se formos minimamente inteligentes - para melhor.? Na Índia, os mais velhos são cumprimentados com toques nos pés, em respeito aos caminhos que já percorreram. E não há nada mais bacana do que os caminhos que percorremos, sejam eles físicos ou emocionais. Sem o tempo, os caminhos não se fazem e sem os caminhos, não há crescimento. Portanto, vivam os dois! E vivam os meus 33 adiantados!
Obs: A inspiração para esse texto veio de uma crônica que li hoje, na revista do jornal "O Globo", de autoria do cantor e compositor Bena Lobo. Vale a pena ler!!
Obs 2: A foto que ilustra essa crônica é da mão de um chinês de mais ou menos 70 anos. Eu o flagrei num momento de pura diversão, quando tocava seu instrumento musical e cantava em plena praça pública, na poluída Pequim. Que o tempo me permita ser assim quando crescer! Insha-Allah!