segunda-feira, julho 11, 2005
Caco, o sapo
O despertador tocou mais cedo e ela acordou confusa, sem saber que dia era, que horas eram, onde estava... Por um segundo, ela sentiu que não se encaixava. Em nada. Que não fazia parte desta dimensão. Mas, de repente, a ordem se fez presente fazendo-a perceber que tudo permanecia igual. Os mesmos cheiros, barulhos, a mesma disposição dos móveis. Dali, El Bosco e Velazquez lhe sorrindo, como sempre.
Levantar não foi difícil, ativar a memória também não. Tratava-se de uma segunda-feira, dia agitado no Reino da Imaginação. Dia em que as mentes inquietas retomam a atividade, sempre mais em baixa nos fins de semana. Abriu logo a agenda e contou os compromissos: onze. Fez uma pausa. Onze? Teve que se controlar para não tomar um sonífero e voltar para a cama.
Seu coração batia diferente, não sabia se por causa de ansiedade ou pelas emoções vividas no dia anterior. Foi para a internet, tinha que pagar contas. Não entendia... Sua mãe sempre lhe disse que era uma princesa. E, segundo os livros a que tinha acesso, princesa não paga contas, não se aborrece, não tem onze compromissos. O que houve de errado? "Bem-vinda à vida real", disse uma voz.
Logo na página inicial do computador, formou-se a figura de um sapo, desses que se parecem com príncipes sob o efeito de alguma magia. Ficou intrigada. Ele falava com a princesa do outro lado da tela, mas ela não conseguia entender. Estava confusa. Fechou o navegador e foi ver os e-mails. Mas, a imagem daquele sapo ficou na cabeça. Vestia uma camisa branca, usava brinco e tinha o charme de Caco, o sapo dos Muppet´s. Lembra? Vai dizer que o Caco não era de parar o trânsito?! Aliás, outro dia, a princesa havia ouvido essa expressão, "de parar o trânsito", de alguém muito especial... O técnico de som do castelo. Um cara bacana, bom caráter, talentoso. Ficou feliz.
Enfim, mais um dia começava no Reino da Imaginação. Os jornais publicando as vergonhas do governo e as agendas das celebridades mais vazias do momento. O barulho da obra nos jardins do castelo, pessoas angustiadas, aparentemente felizes e realizadas por toda parte, a música de Cartola e tudo mais... Tudo igual. Mas, um igual muito gostoso. Um igual que alimentava a luta diária da princesa por um lugar ao sol, que lhe trazia força para lutar contra os monstros do Reino - e que monstros! - e que fazia dela alguém incansável.
Ao contrário dos outros dias, ela não comeu a maçã envenenada, não adormeceu e não achou que todos acabavam por se transformar numa única pessoa. Ali, diante dela, na base de sua mente inquieta, estava o produto de uma diferença transformada, de uma luz, de um tesouro perdido. Ela acordou com a disposição de um leão faminto e foi tentar encontrá-lo. A contagem regressiva já começou...
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Um comentário:
é Belzinha, começo a pensar se hoje mais vale um sapo no computador do que principe encantando no mundo da imaginação...
Fico feliz que seu fim-de-semana tenha sido um tanto quanto peculiar...uma volta na terra de gigantes (que trocam vidas por diamantes, sorry! este foi o que de realidade e que droga de realidade estamos vivendo).
Beijocas, Re
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