quarta-feira, agosto 30, 2006

Só pode ser ficção...

A sensação é de que estou sentada na poltrona de um cinema vendo um filme de tema bizarro, cruel, desumano. Mas, quando caio em mim, percebo que não é filme. Realizo que aquela empresária realmente entrou na clínica veterinária, interessada em alugar o espaço para sua filha fazer daquilo um consultório dentário. E no caminho, cruzou com alguém... Doente? Não, perverso mesmo. Um vigia de 29 anos, que a dividiu ao meio e jogou as metades de seu corpo em ruas de Botafogo, aquele bairro pelo qual todos nós passamos quase sempre. Não era minha mãe, não era minha conhecida, mas sinto dor. Dor por ela, por sua família e por todos nós, reféns de uma cidade muito louca. De mundo muito louco. Mundo esse que os cineastas mais viajantes do planeta - mesmo aqueles movidos à muita droga - jamais imaginaram criar. Quanto mais realizar que esse mundo é real...

segunda-feira, agosto 21, 2006

Ele...

Da garagem dá pra sentir o cheiro do incenso. A porta se abre e o cenário é um mix de América do Sul com Continente Europeu. Logo o fondue é servido. De carne. Carne. Ela não come carne, mas nesse dia está sedenta por um pouco de sangue em seu paladar. Havia ficado vermelha de raiva pouco antes e era de uma noite assim que precisava. Velas acesas, tom alaranjado no ar. Há muitas, muitas coisas passando em sua cabeça, mas uma voz a faz parar e prestar atenção. Coisa rara. Por mais que pensamentos outros lhe invadam a mente, a voz é mais forte. Grossa, imponente, sincera. Um hiato, um hiato sem fim se dá. Com muita, muita intensidade. E quando ela percebe está colocando a panela suja, usada na pia e os objetos em ordem para que mais um dia logo se inicie...

quinta-feira, agosto 17, 2006

Viva Cora!

Leiam a crônica da Cora Ronai, no "O Globo", de hoje. Ao ler o último parágrafo - onde ela diz que não aconselha uma vinda ao Brasil, mais específicamente ao Rio - me vejo em minhas viagens por aí, falando com os estrangeiros que conheço e que têm muita vontade de vir pra cá. Mas o curioso é que, quando conto que faço isso para as pessoas, todas - sem exceção - dizem: "Não faça isso, você é louca. Falando mal da cidade onde você vive..." Como se o Rio fosse uma das sete maravilhas do mundo. Essa cidade é uma vergonha, e quem a comanda também. O país, nem se fala. E o mais inaceitável é que vamos assistir - calados e inertes - a uma reeleição bizarra. Medo, pena, indignação... É isso o que sinto. De um Rio de Janeiro que dizem um dia ter sido maravilhoso. Eu não vi. Minha geração não viu. E, na minha visão pessimista de um país que não tem jeito e uma cidade completamente partida, as próximas também não vão ver.