quinta-feira, setembro 06, 2007

Santiago

Acabo de voltar do cinema com a mente mais do que inquieta e não resisti ao computador... Isso para deixar registrada a minha emoção provocada por um homem, que infelizmente não está mais entre nós: Santiago. O filme que acabo de ver leva esse nome e foi dirigido por João Moreira Salles. Santiago foi o mordomo da família do cineasta durante cerca de vinte anos.

Não vou perder meu tempo aqui descrevendo este homem. Não dá, só vendo o filme para ter noção de tamanha grandeza. Desta vez, o blog funciona mais como um bloco de notas do que como qualquer outra coisa. Os mais assíduos sabem que gosto de anotar frases, pensamentos que me chamam a atenção e afins...

Numa cena do documentário, Santiago diz que fazia arranjos de flores como ninguém. E, de um jeito doce e profundo, se compara Michelangelo quando fez a estátua de Davi. "De tão perfeita, o artista disse que só faltava a escultura falar". E Santiago diz sobre seus arranjos de flores: "Eram tão perfeitos, por que não cantavam? Olhava para eles e esperava que cantassem". Aqui pode parecer solto, mas no clima do filme vira uma poesia, carregada do emocionante gestual de Santiago.

Outra: ele cita uma personagem de Dante Alighieri, na "Divina Comédia". Francesca era o nome dela. E diz: "Francesca é personagem de uma das histórias de amor mais lindas que a humanidade conheceu. Mas, nunca ninguém lhe deu muita atenção. Dante foi o único que conseguiu lhe dar um nome, uma voz e um tormento".

Um nome, uma voz e um tormento... E não é disso que todos nós somos feitos?

Assistam.

9 comentários:

Marco disse...

Querida Isa, a Bela
Eu não vi ainda o "Santiago", mas vi uma profunda resenha que o Sergio Britto fez do filme em seu programa. E das cenas que ele mostrou, me tocou particularmente a que João narra que viu Santiago tocando piano de casaca. E perguntou a razão. "Mas é um Beethoven!", explicou ele. Muito legal!
Bom feriado. Carpe Diem. Aproveite o dia e a vida.

Anônimo disse...

Oi Isabela, ontem um dos entrevistados do Jô foi o João Sales para falar sobre o filme, apenas vi algumas cenas, mas que pareceu de uma delicadeza incrível!! acho que esse fim de semana já tenho um programa escolhido :-)
Ps. Adorei os outros textos e vc tem + 1 leitor (a) assídua!
beijos,
Claudia

isabella saes disse...

Marco e Claudia, não percam o filme. Pois é, essa parte do Beethoven é muito bacana. E eu acabei perdendo a entrevista no Jô. Era muito tarde... Obrigada pelos comentários e apareçam sempre! Cláudia, obrigada por virar assídua!! Hehehe...

Anônimo disse...

Bel,
Ainda bem que tenho você amiga para me colocar a par do mundo do cinema. Ando tão fechada neste mundinho televisivo que suas dicas são sempre dádivas.
Vou procurar ver este filme.
Valeu.
Beijos
Re

Florenza Monjardim disse...

Bella minha bela! Vi a entrevista no Jô e pude perceber o incômodo do João ao falar do filme. É um filme autobiográfico, pois sobretudo é o olhar do João para o Santiago. Santiago é desnudado até mesmo pela arrogância do então menino João. Lembra da cena final? Bons filmes servem pra isso: sonhos podem se materializar.
um beijo looooooooongo pra vc, darling!

Geraldo Thomaz Jr. disse...

Tem gente que diz que "Santiago" fala sobre o Santiago. Na minha cabeça, o João Moreira Sales fez uma autobiografia no filme. Santiago é o coadjuvante na história.
E digo mais: se ele fizesse a 13 anos atrás, ainda seria inconsciente, mas nessa edição de agora, ele sabe que o foco era ele, e não o Santiago.
Faz sentido?

isabella saes disse...

Faz total sentido! E o que me impressionou no filme também foi a forma como ele tratava seu "personagem"... E a voz grosseira de uma mulher em off o tempo todo, igualmente arrogante. Obrigada pela visita e seja sempre bem-vindo!

Geraldo Thomaz Jr. disse...

Por mais incrível que possa parecer, a voz arrogante é a do João, sabia?
O voz do narrador é a do irmão dele.
Isso muda a visão de todo o filme, não?

isabella saes disse...

Sim, eu sei que a voz é do irmão dele. Mas, falo da voz feminina... Ele tem uma espécie de assistente no filme... Enfim... Acho que o fato da narração ser do irmão é uma tentativa de se distanciar do que está sendo dito.