Pode não significar nada pra você. Mas, pra mim, muito significou. Na última sexta-feira precisei entregar um documento importante numa determinada empresa, localizada numa rua que pertence à categoria "inferno para estacionar". Pois bem, peguei o meu carro e lá fui eu rezando para encontrar uma vaga. Já estava atrasada para o meu próximo compromisso e, se não achasse uma vaga de primeira, não poderia ficar dando voltas e mais voltas, situação essa que me fez ficar um tanto quanto apreensiva. Coisas do mundo moderno. Bom, não achei vaga, a rua estava lotada de carros em vagas permitidas e não permitidas e, à medida que eu chegava perto, pensava rápido no que ia fazer. Foi quando parei em frente ao local e vi um motoboy. Deu-se o seguinte diálogo:
Isabella, sorrindo, como sempre: Moço, tudo bem?
Moço, muito cordial: Tudo!
Isabella: Você vai entrar aí?
Moço: Vou!
Isabella: Você me faz um favor?
Moço: Sim!
Isabella: Pode deixar esse envelope na portaria pra mim? É que não estou achando vaga...
Moço, já pegando o meu envelope: Claro!
Isabella: Obrigada!
Moço: De nada. Tchau!
Parti com o carro sem sequer ver o que o motoboy havia feito com o envelope e sem saber se ele havia entrado, de fato, na empresa.
O ocorrido: Isabella entrega um envelope, endereçado ao financeiro de uma empresa, a um completo desconhecido.
Pensamentos após o ocorrido: "Devia ter esperado o cara entrar, pelo menos pra ver se ele entrou no lugar onde eu estava pensando. Perguntei se ele ia entrar "aí". O "aí" dele poderia ser diferente do meu "aí". Que louca eu sou, meu Deus. Como é que eu entrego um envelope com um conteúdo importante desses assim para uma pessoa que eu nunca vi?" E por aí vai...
Perguntas feitas a mim mesma após o corrido: Seria essa uma atitude inocente, de alguém que ainda acredita na raça humana? Seria eu uma pessoa que confia no outro acima de tudo? Será Isabella um E.T, de passagem pelo Rio de Janeiro, uma cidade onde - segundo os periódicos lidos no espaço - malandro não tem vez? Teria sido apenas mais uma leve distração, que havia me tirado da órbita por alguns instantes, fazendo com que eu realizasse coisas não muito comuns para alguém que vive numa metrópole? Ou, mais simples do que tudo isso, teria eu realmente acreditado naquele honesto motoboy que, prontamente, atendeu o meu pedido?!
Digo "honesto" porque, independente do que tenha acontecido comigo nessa fração de dia, o envelope chegou ao seu destino e passa bem, obrigado! E digo mais: tive uma atitude que, hoje em dia, nem náufragos habitantes de ilhas desertas conseguem ter. E sabe que gostei?! Algo me diz que ainda não fui engolida pela desconfiança que reina nesse nosso "admirável mundo novo"!