domingo, março 27, 2005

Gute Reise!

Um belo dia, uma de minhas melhores amigas me disse: "Bel, estou apaixonada por um alemão e vou para a Alemanha viver com ele."

Um silêncio se fez por 5 segundos, consegui me recompor e, diante daquelas palavras tão puras, movidas a amor, só pude dizer que a admirava muito e que estaria sempre ao seu lado, mesmo com um oceano nos separando.

Pois bem, amigos, ela correu atrás, tirou sua cidadania portuguesa e me deu a notícia, assim de supetão, que parte nesta terça-feira, 29/03/05. O coração acelerou, senti que o chão não estava mais sob meus pés por alguns segundos e depois, finalmente, comemoramos! Aquele jantar no japonês, numa rua qualquer do Leblon, vai ficar pra sempre na minha mente inquieta!

Não sinto isso como uma perda, mas sim como uma conquista. Ah, sim, porque a conquista de meus amigos é minha também! Além do mais já perdi um amigo de verdade, que saiu deste plano. Sei bem o que é isso. E o que estou sentindo agora é muito diferente... Uma mistura de saudade adiantada com felicidade plena, por ver alguém que amo se realizando. Que coisa boa!

Boa viagem, amiga guerreira, amiga sonhadora! Que você seja sempre assim desse jeito, que a Alemanha lhe reserve só boas surpresas e que a nova vida que lhe espera em terras germânicas seja sempre generosa e só lhe dê alegrias!

Abelardo e Elisângela

O celular de Elisângela toca...

E: "Alô!"

A: "Oi, meu amor!"

E: "Oi! Nossa, isso foi mesmo 'transmimento de pensação'. Tinha acabado de pegar o telefone para ligar pra você, meu lindo!"

A: "Isso acontece porque a gente se ama, minha flor."

E: "É... E aí, como foi o dia hoje?"

A: "Ótimo. E o seu almoço de trabalho com o Vladmir?"

E: "Ótimo também. Resolvemos várias coisas pendentes".

Uma pequena pausa se dá...

E: "Então, tá, gatinho, tô com um sono louco, vou dor..."

Elisângela é interrompida.

A: "Porque a monogamia é realmente um problema."

E: "Quê?"

A: "A monogamia. Vivemos numa hipocrisia sem fim. Todo mundo finge que acredita em monogamia, mas ela não existe. Ah, mas não mesmo!!!"

Neste momento, Elisângela sentiu o coração apertar e pensou: "Ele bebeu de novo e resolveu tirar da cartola mais uma de suas pérolas. O alvo mais próximo e vulnerável? Eu, sempre eu". Na verdade, o erro da moça foi ter dado corda para o que o namorado falava. Mas, tudo parecia tão bem... O papo fluía tão gostoso, com tanto carinho... Elisângela não resistiu e deu trela. Talvez seu inconsciente quisesse ver onde Abelardo iria chegar com toda aquela inquietação mental.

E: "Ei, o que houve? Estávamos conversando tão bem. Que sentido faz esse papo agora, meu amor?"

A: "Faz muito sentido e eu quero falar sobre isso. Você acha que, se a gente ficar o resto da vida juntos, vamos conseguir não olhar para o lado?"

O fato, minha gente, é que o questionamento de Abelardo é o de muitas pessoas por aí. Senta só numa rodinha de bar pra ver se esse papo de "fidelidade", "hipocrisia", bla, bla, bla ... não surge?! Ah, surge...

E: "Não. E nem eu quero isso, Abê. Admirar uma mulher bonita, um homem charmoso faz parte. É saudável. Além do mais, que traição há nisso?"

A: "Não é isso que estou dizendo, né. Olhar, todo mundo olha. Mas você acha que não vou transar com ninguém além de você e vice-versa, até o fim dos nossos dias? Impossível."

Tudo bem, Elisângela podia até concordar. Mas, pra que entrar nesse papo "vamossertransparentesemachucarumaooutro" agora?

E: "Amor, não estou entendendo o que está havendo. Você bebeu na rua, né?"

A: "Bebi um pouquinho. Mas o que isso tem a ver?"

Muito. Tinha muito a ver. Quando a gente não quer perder o controle do corpo e da mente e sabe que isso pode acontecer com uma mãozinha do álcool; quando sabemos que machucamos as pessoas mais especiais de nossa vida ao sairmos de nós mesmos, então é melhor evitar os exageros, não é mesmo? Cadê a força de vontade, Abelardo?

E: "Olha, eu não sei o que está havendo, acho que você quer me deixar maluca e me fazer ficar insegura contigo. Não vou entrar nessa. Por isso, saiba que minha opção de vida é viver sempre no respeito. Ser fiel ou não vem da consciência de cada um. E ser fiel a si mesmo é o mais importante. A gente não está livre de tentações. Somos humanos e podemos nos sentir atraídos por qualquer pessoa, desde que estejamos vivos. E até onde sei, Abê, nós dois estamos. Por isso, cada um faz com sua tentação o que quiser. Só peço a você que sempre pense em me respeitar e, se algo sair do seu controle, não me conte, não faça na frente dos amigos e previna-se. Não posso pedir mais nada e nem controlar você. Até porque minha natureza não é de mulher desconfiada, que fica no pé, você sabe. Meu lindo, eu não sou dona das suas vontades, nem do seu corpo. Mas, confio em você e isso faz de mim uma mulher feliz e segura. Satisfeito agora?"

Ele não estava...

A: "Você acha que seu pai está há 50 anos com a sua mãe e ficou quietinho esse tempo todo?"

E: "Mas por que os meus pais estão entrando nessa história, coitados? Você pirou, está completamente louco."

A: "Sabe, acho que estou falando tudo isso porque estava conversando com um amigo outro dia e ele me disse que o negócio é fazer 'swing'. Assim, você mata seus desejos e fantasias com outras, ela com outros e está tudo diante dos seus olhos, sem hipocrisia. Fiquei pensando muito nisso e acho que pode ser uma boa alternativa. Sabe, eu não consigo pensar no fato de você estar com outro e eu não saber. Te amo muito, meu amor. E isso seria doloroso demais pra mim."

E: "Eu sei. Eu também te amo e não estou entendendo que dispositivo foi ligado em você pra vir com essa conversa sem nexo. Olha, se você acha mesmo que esse troço de 'swing' é legal, não devemos ficar mais juntos, Abê. Você não consegue pensar em me ver com outro, mas pode fazer um 'swing' e me ver sendo jantada por um cara qualquer? Francamente... Não entendo e, além do mais, não curto essas coisas. Não acho que isso seja viver no respeito."

A: "E viver no respeito é o quê, viver na hipocrisia? Eu como uma aqui, você fica com outro ali e chegamos em casa dizendo: 'boa noite, amor, como foi seu dia hoje?'"

Elisângela se estressa e grita:

E: "Mas que papo de homem inseguro, Abelardo! Olha, quer saber, se essa hipocrisia for sinônimo de felicidade, por que não? E quem disse que pretendo levar minha vida assim? Quero ser feliz com o homem que eu escolher pra viver ao meu lado, se Deus quiser, o resto dos meus dias. Você está me confundindo, me deixando nervosa e já tirou o meu sono, caramba! Sabe, pra mim o importante é o amor, é me sentir amada, desejada, amparada, ter a certeza de que tenho um companheiro, um amigo, um amante, alguém que me realiza, me dá paz."

A: "Não falei? Olha aí o amante. Ele está sempre escondido lá no cantinho das fantasias do cérebro."

E: "Saaaaaaco! Cê ta afim de me perturbar, é? O amor, amigo, amante são a mesma pessoa: você. Mas que diabo de 'monogamia' é essa que surgiu na sua cabeça do nada, Abelardo??? Será que foi o almoço de negócios que tive hoje, com alguém do sexo oposto?"

A: "Não ligo a mínima pros seus almocinhos medíocres de negócios. O fato é que a vida é a maior galinhagem mesmo. Todo mundo pega todo mundo. Por que há de ser diferente com a gente?"

E: "Porra, Abelardo, são 2h da manhã, e estou me sentindo mal, uma idiota aqui no escuro, sentada na minha cama, com palpitações, à beira de um ataque de nervos e escutando você falar muita besteira. De uma vez por todas: não me sinto parte dessa galinhagem, não quero viver nesse 'ôba, ôba'. Só quero ser feliz com quem amo, sentir que sou parte de um casal de verdade. Desejos e tentações vamos sempre ter e nem por isso somos hipócritas. Santo limite!!!"

A: "Hipócrita, hipócrita, hipócrita. Essa é a palavra que define melhor o mundo e seus habitantes, sempre movidos por desejos e tentações em todos os sentidos."

E: "Linda frase, meu bem. Leu isso na 'Veja' hoje? Olha, sei que é difícil mesmo nos encaixarmos nesse mundo atual. Mas, se não tentarmos... Quer saber? De que adianta ficar discutindo fidelidade? É uma conversa confusa, que sempre acaba sem respostas. Falamos o que não devemos, o que nem sabemos e estressa, cara, estressa muito. Se você me dá paz e vice-versa, é isso o que importa. Ah, e sei lá como é essa vida de casal de bodas de diamante. Nunca passei por isso. Mas, procuro seguir a minha consciência e fazer com que qualquer história que eu viva (seja de 1 dia, ou 100 anos) seja linda. Como a nossa, meu amor. Nem sempre dá pra ser, eu sei, mas tentar não custa nada, né. Desejo olhar pra trás e chegar sempre à conclusão de que valeu a pena. Bom, você já misturou muito as estações por hoje, querido. Que tal uma trégua?"

A: "É, meu anjinho, estou ficando com muito sono. Disse tudo isso porque te amo muito, tenho medo de te perder e sinto muito a sua falta. Quero você ao meu lado sempre. Mas, não consigo mais prestar atenção no que você está dizendo. Amanhã nos falamos, tá..."

xxx

Caras mentes inquietas: por que complicar tanto, se a vida pode ser bem mais simples? Vai entender os seres humanos...

sexta-feira, março 25, 2005

Ilha de Paquetá

Pegando um catamarã ali na Estação das Barcas, na Praça XV, em 40 minutos chegamos a esta ilha cheia de encantos... Diz a lenda que, em seus primórdios, morava ali uma indiazinha cujo coração batia incansavelmente por um índio belíssimo. Só que este não lhe dava a menor trela... Um dia a pobrezinha pôs-se a chorar sobre uma grande pedra, sem saber que o índio dormia sob a mesma. Suas lágrimas eram tão pesadas, guardavam tanta tristeza, que conseguiram perfurar a pedra e, então, cair sobre os olhos do índio, que despertou e se apaixonou imediatamente por ela. Desde então, formou-se no local uma gruta, onde uma fonte abriga, até hoje, a enorme quantidade de lágrimas dessa mulher tão apaixonada: a "Gruta dos Amores". Dizem que quem molha a boca por lá, acha o amor eterno...

Você que é apaixonado pelo Rio e suas lendas, dê uma passadinha em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=125955

quinta-feira, março 24, 2005

Vida - numa frase

Cada vez mais tenho a certeza de que ela desarruma tudo e, tempos depois, se encarrega de arrumar, fazendo com que, de repente, o caos volte a se chamar sintonia...

Para meus primos irmãos Guga, Bê e Lula.

"Baque"

Foi um soco no estômago. Daqueles que não sentia há muito tempo. À medida que a peça ia se desenrolando, eu encolhia na cadeira do teatro. Uma boa para aqueles dias em que dá pra esticar a noite, tomando um choppinho. Ir pra casa direto não é aconselhável, não... Atinge nossos orgãos vitais. Viva Neil Labute, dramaturgo e cineasta americano, responsável por filmes como "A enfermeira Betty" e "Na Companhia dos Homens" e autor de "Baque". E viva Deborah Evelyn, que presenteia o público com uma "Medéia Redux" impecável.

"Baque" está em cartaz no Centro Cultural dos Correios, de sexta a domingo, sempre às 19h. Até 22 de maio.

segunda-feira, março 21, 2005

PRK-30. Lauro Borges e Castro Barbosa, dois malucos no ar!

Fala, pessoal! Pedi a um amigo querido, Marco Santos, que escrevesse um texto sobre o trabalho de meu avô, Lauro Borges, um dos integrantes e criador da "PRK-30". Marco o interpretou no teatro, na peça "A Era do Rádio". Como todos sabemos, nosso país não tem memória. Infelizmente. O texto a seguir ajuda a refrescar a memória daqueles que viveram a época e informa os mais novos sobre um programa de rádio que marcou uma geração. Eis o texto:


"Bléim! Ao oubir esta suabe gongada, entra no ar, como se fosse uma barbuletinha dourada a PRK-30!..."

Costumava começar assim um dos melhores programas humorísticos de todos os tempos. Isso na época de ouro do Rádio no Brasil. Naquela época, uma caixinha iluminada se incumbia de levar ouvintes em uma viagem mágica, fazê-los sonhar, bastando somente a força da imaginação (palavra que saiu de moda em dias atuais.). O Rádio, esta invenção de um brasileiro (Está admirado? Entre no Google, digite "Roberto Landell de Moura" e se maravilhe com a história deste incrível padre gaúcho) era o companheiro fiel de todos os lares. Ele fazia chorar e fazia rir. No caso da PRK-30, fazia chorar de tanto rir.

Você nunca ouviu falar? Você é da geração Casseta e Planeta? E se diverte com as piadas, com as paródias de programas e comerciais que aqueles rapazes fazem? Acredite: Lauro Borges e Castro Barbosa, os locutores da PRK-30, já faziam isto bem antes, ao tempo em que os pais dos Cassetas eram meninos. E com uma pequena diferença: Lauro e Castro faziam muito melhor.

Meninos, eu ouvi. Não na época em que o programa era irradiado (de 1944 a 1964), que eu não sou tão velho assim. Aliás, infelizmente não sou daquela época. Hoje só me resta sentir saudade de um tempo em que não vivi. Mas existem programas gravados e até um livro sobre a PRK-30. Castro e Lauro, especialmente este último, são considerados como mestres pelas grandes estrelas do humor atual, o que vale dizer Chico Anísio, Jô Soares, Agildo Ribeiro entre outros.

Fazer humor hoje é difícil? Imagine naquela época em que não se podia fazer piadas envolvendo sexo, homossexualismo, palavrão (Falar termos hoje comuns como "bunda", "porrada" nem pensar!). Toda a família ouvia Rádio: da criança a vovó. Haveria de se ter muito cuidado com o que era dito diante do microfone.

O paulista Lauro Borges (Avô da Isabella Saes, inquieta mente autora deste blog) era o grande criador do programa. Ele escrevia todos os textos e ainda cuidava da produção da PRK-30. A sua habilidade em inventar vozes era algo impressionante, assim como a sua imaginação para escrever piadas que absolutamente não são datadas. Quem ouvir hoje, em pleno Século XXI, vai rolar de rir como nossos pais e avós rolavam, naquele tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. O personagem habitual de Lauro, "Otelo Trigueiro", quando anunciado, costumava alertar com aquela voz inconfundível: "Se os ouvintes me preferem, por que é que a gente vai discutir com os ouvintes?" E ninguém discutia mesmo. Lauro não era bem-humorado apenas no Rádio. Adorava pregar peças até nos desconhecidos. Boni (Esse mesmo, aquele que foi o poderoso da Globo) conta que ele entrava nos restaurantes e ao sentar pedia ao garçom: "Quer me chupar os nabos, por favor?". Os garçons, assustados, perguntavam: "O que o senhor disse?" E ele dizia: "Guardanapos, por favor?"

Seu companheiro, o mineiro Castro Barbosa, além de humorista era cantor de sucesso, parceiro de dupla com Jonjoca, tendo gravado, inclusive, a inesquecível marchinha "O teu cabelo não nega", de Lamartine Babo. Ninguém fazia uma voz de português mais engraçada do que ele, no seu personagem "Megatério Nababo de Alicerce", da PRK-30.
Lauro Borges e Castro Barbosa não brilharam apenas na PRK-30. Eles atuaram em filmes ("Banana da Terra" e "Abacaxi Azul"). Lauro também atuaria em "Laranja da China" e "Folias Cariocas". (Todos, infelizmente, desaparecidos no tempo) e também em outros programas de muito sucesso na Era do Rádio. Um deles, o "Piadas do Manduca", além dos dois, tinha no elenco Renato Murce (Produtor e Diretor), Brandão Filho, Alfredo Viviani entre outros. Este programa tem uma história curiosa: originalmente tinha o nome de "Cenas Escolares" e era apenas um quadro do programa "Hora Só...Rindo". Ele se passava em uma sala de aula, onde os alunos davam respostas absurdas às perguntas da professora. Isto lá pelos idos de 1936. Três anos depois, Renato relançou-o como programa inteiro. Era tempos do Estado Novo, a ditadura de Getulio Vargas. Houve reclamações no sentido de que o programa "era uma contribuição à desordem e à falta de respeito nas salas de aula". Imaginem só. A censura da época o colocou na lista negra. Renato, então, trocou o nome para "Piadas do Manduca", que não se passava em uma sala de aula e sim na casa da professora e seu marido, um inspetor escolar, que, conversando com os alunos, tentavam ver como andava o conhecimento deles. "Ah, assim é outra coisa", teria dito os "çábios" do terrível DIP (A censura). A "Escolinha do Professor Raimundo" nunca teria esse tipo de problema...

Tanto o "Piadas do Manduca", quanto a PRK-30 chegaram também à Era da Televisão (a Lenha...), nos anos 60. A gente só tem a lamentar não existir nesta época o vídeo tape. Daqueles programas, só restam os scripts originais, guardados como um verdadeiro tesouro por Vera Regina Saes, uma das filhas de Lauro.
Não há ninguém com mais de 60 anos que ao ouvir alguém falar "PRK-30", não comece a rir sozinho. Desde o seu lançamento, aquele humor absolutamente maluco fascinava as pessoas. Quando "Megatério", "o único locutor que já mordeu a língua mais de dez vezes sem ter tido hidrofobia", abria o programa, praticamente o país inteiro parava. Quando após ser anunciado ("o espícler, que já foi convidado diversas vezes para trabalhar nos Unaited Esteites, mas não aceitou por que não se dá bem com o clima da Europa") "Otelo Trigueiro", cuja "voz tão medicinal, neutraliza o excesso de acidez do estômago e age de modo rápido e suave, limpando os intestinos e regularizando as funções do fígado", assumia o microfone, ninguém pensava na dureza da vida ou na carestia.

A "emissora" PRK-30 se esmerava em anunciar os produtos de seus "patrocinadores". Como, por exemplo, as Pastilhas Maiorativas: "Cai-lhe o cabelo? Então use Pastilhas Maiorativas, uma delícia para a dor de dentes". Ou a Sapataria Ó Sola Minha, "especializada em sapatos para jóqueis e cavalariços, a preços que são uma barbada. Não jóquei fora o seu dinheiro! A sapataria fica ali na Rua 11, número 12, em frente ao 13, a 14 passos da Praça 15".

Pelo seu microfone, passavam "calouros", como o senhor "Manuel Benevides das Alpercatas Macias e Saltos Altos de Moraes e Pencas" e cantores famosos como "Pedro Canário e sua voz de cotovia". Radionovelas empolgantes como a "Frinéia Descabelada" e a "Atire a Terceira Pedra"; programas de perguntas e respostas, como aquele em que foi perguntado ao candidato, "com cara de leitão assado", se ele sabia o que era "oásis". Ele disse que sabia, mas que a pronúncia estava errada: a certa era "os ases", plural do "oásis de copis, oásis de paus, oásis de ouro e oásis de espaudas".

Durante 20 anos, a PRK-30 animou as noites de toda uma geração. Sua sigla, que representava o prefixo de uma emissora "de ondas longas e compridas, curtas e encolhidas", foi, é e será sinônimo do mais fino e talentoso humor de que já se teve notícia. Não é à toa que a Rede Globo colocará no ar, este ano, o seu programa comemorativo dos 40 anos de existência, e resolveu chamá-lo de...PRK-40!
Lauro Borges desde 1967 está no céu, matando os anjinhos de tanto rir. Em 1975, Castro Barbosa juntou-se a ele, e não me admiraria se por lá, volta e meia fosse ouvido algo assim:
"Plim! Ao oubir este suabe toque de harpa, entra no ar, como se fosse um querubim dourado..."

Marco Santos é jornalista, ator e camelô de obras de artes, medicamentos e autopeças no Piscinão de Ramos, em Copacabana.

xxx

Muito obrigada pelo carinho, Marco. O Brasil precisa de pessoas como você, que ajudem a resgatar memórias preciosas. Aproveito também para deixar meu agradecimento ao jornalista Paulo Perdigão, que escreveu "No ar: PRK-30". Um trabalho brilhante, feito com carinho, competência e admiração. O livro está nas livrarias de todo o país e é um sucesso de vendas.

sábado, março 19, 2005

Multishow

Confira a minha estréia no dia 29/03, às 23h45!

Vaidade

Quando eu era mocinha, meus pais me ensinaram que ter vaidade era vestir uma roupa bonita, passar um batonzinho, me olhar uma, duas, três vezes no espelho e sair perfumada e saltitante para a diversão. Nossa, como era bom achar que vaidade era só isso. Que definição inocente! E como eu era ingênua, habitante de um mundo que me parecia sempre lindo e colorido.

Mas, um dia eu tive que crescer, né. Sair da "Terra do Nunca" e cair no asfalto quente. Ui! E aí percebi que, quando a gente cresce, as palavras mudam de sentido, as frases ganham diferentes conotações e o Papai Noel pega a rena do nariz vermelho, sobe no trenó, sai pela chaminé e não volta nunca mais. O Coelhinho da Páscoa, então, nem se fala. Esse aí partiu em disparada e eu nunca mais acordei cedo para procurar um ovinho sequer no jardim da casa da minha tia Carmen, em Teresópolis. Mas que ousadia da vida ficar desconstruindo papéis, sonhos e crenças, hein?! Quem ela pensa que é, essa mocinha?!

A pessoa que se torna vaidosa por causa de um trabalho público, de uma contribuição à vida alheia, de 125 ml de silicone nos peitos... Ora, francamente, merece o meu, o seu, o nosso desprezo. Já vi e vejo até hoje gente fazendo de tudo para aparecer. E, se precisar passar a perna no outro, tudo bem. Aí eu pergunto: Precisa disso? O mundo necessita dessas coisas? Pra quê? E a simplicidade, minha gente, onde está? Foi tentar achar as botas de Judas e volta já?! Volta já, sei. Volta nada. O mundo e as pessoas estão cada dia mais complexos, andamos nos esquecendo de que tudo pode ser mais simples na vida, de que a felicidade mora logo ali, ó, ao lado.

O problema é que hoje as mulheres têm que estar bombadas, fazer tratamentos caríssimos anti-celulite, fazer aquela (como é mesmo?)... Escova progressiva! Sou do tempo em que os nomes eram mais simples, tipo: depilação, escova (só escova, sem sobrenome. o rock já era progressivo, mas a escova não!), manicure, etc. Você já parou em frente a uma banca de jornais e ficou observando por 5 minutos o que está sendo oferecido aos seus olhos em primeiro plano? Faça essa experiência e depois me conte, tá?

E os homens? Eles têm que ter o carro do ano, um apezinho legal na zona sul pra levar a gatinha (gatinha esta que valoriza isso mesmo!)... Alguns estão se sentindo tão pressionados, que estão entrando para o time dos metrossexuais, sem nem saber direito o que é isso. Coitadinhos, tão perdidos... Mas que mundinho mais injusto, não? Senhoras e senhores, está implantada a era do ter, ter, ter! E a conseqüência disso é um mundo repleto de ansiosos, deprimidos e vaidosos.

Nada contra lutar pra ser bonita, malhar pra ficar com o corpo legal, trabalhar muito pra ganhar dinheiro e poder viajar, alugar um ap. Tudo isso eu também desejo. Mas são os exageros que me preocupam!

Hoje sou grata aos meus pais por terem tentado prolongar ao máximo a minha certeza de que ser vaidosa era apenas me enfeitar. Fui criança até onde pude, adolescente também. Hoje sou uma mulher de quase 30, cheia de sonhos, desejos, tentando não só me realizar, mas realizar também para os outros, para o mundo. Quero marcar positivamente quem amo, deixar boas heranças, amar, doar. Algo me diz que minha missão é fazer uma linda história.

quinta-feira, março 17, 2005

Quando um amigo parte...

Quando um amigo parte, a gente perde o chão. Ainda por cima quando ele vai embora sem se despedir, sem avisar e de forma violenta.

No dia 26 de julho de 2004, minha vida mudou. Perdi o meu querido amigo Fernando Villela, o Fervil, assassinado com um tiro no coração, durante um assalto, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Em momentos de perda, como esse, a cabeça pira, a mente (que já é inquieta) dá piruetas sem parar e tudo acaba se tornando estranho, sem sentido. Procurei explicação no budismo, no espiritismo, em leituras sobre vida após a morte mas, como não sou muito ligada em religião (e sim em energia), acabei não conseguindo me confortar. Na verdade, tive uma longa conversa comigo mesma e encontrei a serenidade.

Mas, o que me fez mesmo respirar de novo aliviada foi me juntar a um grupo de pessoas bem intencionadas e dispostas, e colocar em prática o "Cinema da Paz", uma inciativa da qual tenho o maior orgulho. Uma sessão de cinema - que exibe um filme cujo tema é "violência" - seguida de um debate sobre o assunto. O primeiro ocorreu no dia 27/01/05, com a exibição de "Ônibus 174", no Armazém Digital, e foi um sucesso. Gente sentada no chão da sala! Sinal de que a nossa preocupação com o caos em que o Rio se encontra é a de muitas outras pessoas. Conscientizar e não deixar o problema sair de pauta é o objetivo deste projeto. E sinto que estamos indo no caminho certo.

Peço a todos que tiverem interesse em falar com o grupo, que enviem e-mails para contato@fervilvive.org

O próximo "Cinema da Paz" será realizado em parceria com o "Viva Rio" e deve acontecer em setembro. O tema: desarmamento. Confirmo mais perto, aqui mesmo, no "Mente Inquieta". Conto com a presença de todos!

Fiquem sempre bem e em paz...

quarta-feira, março 16, 2005

Amor Genuíno

Quem aí já sentiu um amor genuíno?

Chega uma hora na vida em que nos damos conta de que muitas pessoas já passaram por ela. Principalmente, quando os nossos deliciosos e tão esperados 30 anos se aproximam. Está certo que algumas acenam lá de longe pra gente e outras chegam quase perto ou bem perto. Mas, tocar no ponto G do coração, chegar às profundezas sem pedir licença... Ah, isso é pra poucos!

Loiros, morenos, fortes, franguinhos, fumantes, não fumantes, caretas, tatuados, psicóticos, chatos, legaizinhos, insuportáveis, drogados, sovinas, honestos, ciumentos, mulherengos, fiéis (ôpa, existe isso?)... Ufa! Eles estão todos espalhados por aí em diferentes modelos, cores e cheiros (ah! e como o cheiro é importante...). E, confesso a vocês que, diante desta vida agitada de "jornalistaatrizprodutora", sempre achei que bastava dar uma olhada na vitrine, juntar as peças e escolher o meu tipo. Aí, quando eu cansasse da roupa velha, era só jogar fora, sem muitos ressentimentos.

É, a vida não erra na hora de escrever os nossos próximos capítulos. E chegou uma hora em que ela foi obrigada a me provar que eu estava muito enganada com essa história de modelos e vitrines (santa ignorância!). Nananana, não! A senhora está redondamente equivocada, Isabella Saes!

E foi numa "bella" noite de lua cheia, num lugar misterioso chamado Marte (é, este mesmo, o planeta vermelho) que ele chegou como quem não quer nada (na verdade, ele queria tudo!) e não demorou muito para me deixar de pernas para o ar, me tirar do eixo, me dar frio na barriga, provocar agonias e questionamentos incessantes, me amar, provar coisas até então impossíveis para mim e me chamar de amor da forma mais pura que meus ouvidos já haviam experimentado. E foi neste momento, meus amigos, que eu percebi que algo havia balançado o meu reino. E eu nem desconfiava que era tão bom...

Hoje, depois de um ano, nossas almas, em sintonias e equilíbrios diferentes, tiveram que se afastar. E o que me faz acreditar e sentir que foi único é o fato deste amor permanecer intocável dentro do meu coração. Um amor que um dia pode ser transformado, porém jamais exterminado. Um amor que vou sentir quantas vezes a vida quiser. Um amor incondicional, de espíritos evoluídos, yogues, lamas, gurus, budistas que alcançaram o Nirvana (será que rola isso mesmo? bom, conheço muitas mulheres que achavam que jamais alcançariam o orgasmo e hoje, queridos leitores, gemem 3, 4, 5 vezes a cada transa! pensando assim, tudo é possível...). Ah, sei lá! Só sei que esse amor é bom e diferente.

Tenho saudades das minhas lembranças, admiração pelo que vivemos, superamos e aprendemos no ontem, no hoje e pelo que vamos viver, superar e aprender no amanhã - juntos ou não. E a certeza sobre o amanhã, que, é fato, não posso prever; a falta de necessidade do palpável para estar certa de algo; e a confiança no abstrato (é lá onde estão escondidas nossas emoções mais fortes, Dali e Magritte que o digam!) são provas mais do que reais de que este amor é e sempre será genuíno.

Divido com vocês um desejo inquieto: que todos sintam a presença, pelo menos uma vez na vida, deste sentimento que tem o poder de nos transformar para sempre e fazer de nós pessoas muito melhores do que já somos. Estou feliz, pois aprendi a amar assim.

Esse texto é dedicado às pessoas que amo e ao meu companheiro de aventuras suadas no Planeta Vermelho!