sábado, março 19, 2005

Vaidade

Quando eu era mocinha, meus pais me ensinaram que ter vaidade era vestir uma roupa bonita, passar um batonzinho, me olhar uma, duas, três vezes no espelho e sair perfumada e saltitante para a diversão. Nossa, como era bom achar que vaidade era só isso. Que definição inocente! E como eu era ingênua, habitante de um mundo que me parecia sempre lindo e colorido.

Mas, um dia eu tive que crescer, né. Sair da "Terra do Nunca" e cair no asfalto quente. Ui! E aí percebi que, quando a gente cresce, as palavras mudam de sentido, as frases ganham diferentes conotações e o Papai Noel pega a rena do nariz vermelho, sobe no trenó, sai pela chaminé e não volta nunca mais. O Coelhinho da Páscoa, então, nem se fala. Esse aí partiu em disparada e eu nunca mais acordei cedo para procurar um ovinho sequer no jardim da casa da minha tia Carmen, em Teresópolis. Mas que ousadia da vida ficar desconstruindo papéis, sonhos e crenças, hein?! Quem ela pensa que é, essa mocinha?!

A pessoa que se torna vaidosa por causa de um trabalho público, de uma contribuição à vida alheia, de 125 ml de silicone nos peitos... Ora, francamente, merece o meu, o seu, o nosso desprezo. Já vi e vejo até hoje gente fazendo de tudo para aparecer. E, se precisar passar a perna no outro, tudo bem. Aí eu pergunto: Precisa disso? O mundo necessita dessas coisas? Pra quê? E a simplicidade, minha gente, onde está? Foi tentar achar as botas de Judas e volta já?! Volta já, sei. Volta nada. O mundo e as pessoas estão cada dia mais complexos, andamos nos esquecendo de que tudo pode ser mais simples na vida, de que a felicidade mora logo ali, ó, ao lado.

O problema é que hoje as mulheres têm que estar bombadas, fazer tratamentos caríssimos anti-celulite, fazer aquela (como é mesmo?)... Escova progressiva! Sou do tempo em que os nomes eram mais simples, tipo: depilação, escova (só escova, sem sobrenome. o rock já era progressivo, mas a escova não!), manicure, etc. Você já parou em frente a uma banca de jornais e ficou observando por 5 minutos o que está sendo oferecido aos seus olhos em primeiro plano? Faça essa experiência e depois me conte, tá?

E os homens? Eles têm que ter o carro do ano, um apezinho legal na zona sul pra levar a gatinha (gatinha esta que valoriza isso mesmo!)... Alguns estão se sentindo tão pressionados, que estão entrando para o time dos metrossexuais, sem nem saber direito o que é isso. Coitadinhos, tão perdidos... Mas que mundinho mais injusto, não? Senhoras e senhores, está implantada a era do ter, ter, ter! E a conseqüência disso é um mundo repleto de ansiosos, deprimidos e vaidosos.

Nada contra lutar pra ser bonita, malhar pra ficar com o corpo legal, trabalhar muito pra ganhar dinheiro e poder viajar, alugar um ap. Tudo isso eu também desejo. Mas são os exageros que me preocupam!

Hoje sou grata aos meus pais por terem tentado prolongar ao máximo a minha certeza de que ser vaidosa era apenas me enfeitar. Fui criança até onde pude, adolescente também. Hoje sou uma mulher de quase 30, cheia de sonhos, desejos, tentando não só me realizar, mas realizar também para os outros, para o mundo. Quero marcar positivamente quem amo, deixar boas heranças, amar, doar. Algo me diz que minha missão é fazer uma linda história.

3 comentários:

Anônimo disse...

“Um emprego bacana, um carro do ano, uma casa grande bem decorada, amigos descolados, fama, fortuna, um relacionamento perfeito. O mundo ao nosso redor vende a idéia de que é preciso ter tudo de bom e do melhor para ser feliz. E, uma vez alcançado esse nirvana na terra, é hora de defendê-lo da concorrência, da inveja alheia, dos criminosos. Resultado: a vida nos grandes centros urbanos brasileiros passou a ser sinônimo de ansiedade.”
“É o medo de que não vamos conseguir; e, se conseguir, não ser capaz de manter. Vamos todos morrer, mas não de cigarro, morto por ladrões, nem mesmo de enfarte. Vamos morrer de medo, medo de não poder comprar tudo o que nos mandam, de não poder comer tudo e todos que se oferecem virtualmente, medo de não sermos o que mandaram que fôssemos.”

Retirado do artigo “Seja Rico, Seja Bonito, Seja Feliz”.
Revista Trip, março de 2004

Anônimo disse...

Ah como era bom o tempo em que o tempo não era tão acelerado. Quando tinhamos tempo de brincar de pique, esconde-esconde, cabra-cega, chicotinho queimado. Quando tinhamos tempo de um num parque de diversão (pena que acabaram com o Tivoli) e ver um desenho no Drive-in da Lagoa. Lembra? Como era bom ir para Correas e fazer uma rodinha em volta de uma lareira e tocar violão a noite toda. É...como era bom. Hoje, trabalho 11 - 12 horas por dia e tudo que quero é voltar ao tempo em que tinhamos tempo para somente...contemplar!

Anônimo disse...

Bel, pode ter certeza que sua missão esta sendo cumprida a cada dia que passa, te adoro!
Adorei se blog...estou lendo todo!
Saudades da Fiuza!