A matéria de capa da revista do jornal "O Globo" desse domingo (03/04/05) me assustou. "Brincadeira Perigosa" fala dos danos que os cosméticos, cada vez mais utilizados pelo público infantil, podem causar. O que mais me entristeceu, além da constatação de que cada vez mais crianças estão usando produtos que só deveriam usar mais velhas, foi ler a seguinte pérola:
"A veterinária Elisabeth Bomfim, de 44 anos, acha que algumas etapas da infância vêm sendo puladas. Ela incentivou tanto quanto pôde que a filha Carolina, de 11 anos, usasse vestidos rodados e cheios de babados. Não gosta que a menina use maquiagem, nem esmaltes. Salto alto? Nem pensar."
Até aí, tudo bem. Agora olha só:
"Mas, Elisabeth deixou que Carol passasse os produtos químicos da escova progressiva para alisar as ondinhas do cabelo. 'Ela estava constantemente com os cabelos presos. Não gostava muito de tirar fotos. Depois de procurar um produto aprovado e uma profissional confiável, deixei que ela fizesse. A carinha dela mudou' - diz a mãe, que antes de permitir que a filha fizesse o procedimento, testou em si mesma. 'Eu sou bastante alérgica. Então imaginei que, se fizesse em mim e desse tudo certo, ela poderia fazer também'. Carol, que já repetiu o tratamento três vezes, está feliz da vida com os cabelos. 'Quase todas as minhas amigas já fizeram, mas fizeram com produtos mais fortes e o cabelo ficou bem liso'.
E por aí vai a matéria...
Acredito que essa mãe esteja muito bem intencionada. De verdade. Estamos tão imersos nesta linha de produção, onde somos meros produtos, todos iguais, saindo quentinhos para consumo, que esquecemos de olhar de fora e tentar formar opinião sobre o que acontece em volta. Mas, será que a auto-afirmação dessa menina, de apenas 11 anos (ONZE ANOS!!!!), precisa se dar através da química da moda, da síndrome de Michael Jackson - insatisfação permanente, mudança constante?! O que aconteceria a Carol se ela permanecesse com os cabelos ondulados? O que tem de feio, de tão inaceitável nesse tipo de visual? Afinal, não é a diversidade da beleza da mulher brasileira que faz sucesso aqui e no mundo todo? Diferentes cabelos, tons de pele, cor de olhos... E o que queremos, ficar todos iguais??? O que faz uma criança se preocupar tanto com estética? E, pior, o que faz uma mãe acreditar que está fazendo muito bem à filha, estimulando um tratamento químico desses? E mais: para ter a certeza de que a filha pisa em terra firme, se submete ao tratamento antes, como se isso fosse banir qualquer conseqüência que Carol possa sofrer no futuro. Trash, não? Quando eu tinha 11 anos, estava na quinta série do Colégio Notre Dame, em Ipanema, jogando queimado e indo pra casa toda descabelada. Aí, você que me conhece vai dizer: "Mas, Bel, você sempre teve cabelo liso." Olha, minhas amigas de cabelos ondulados nunca tiveram esse tipo de preocupação nessa época. Pensávamos em outras coisas. O melhor dessa fase é poder brincar, sem se ligar em nada. Mas, parece que isso está mudando... Bons tempos aqueles! Tempos em que a ditadura da beleza não falava tão alto.
Quem, eu? Sendo radical? Não acho, não. Não sou contra tratamentos estéticos. Não mesmo. Mas, tudo que vem em doses exageradas é nocivo à saúde, à mente. E, sinto muito, mas uma criança de 11 anos fazendo escova progressiva e dizendo que na sua sala do colégio TODAS as suas amigas já passaram pela experiência... Francamente, plagiando nosso amigo Caetano Veloso, "alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial."
xxx
Esse texto é para uma outra Carol, a minha afilhada linda, de 10 anos.
sexta-feira, abril 08, 2005
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2 comentários:
Minha Bella Isa,
A infância atual está MESMO fora da ordem. E vai bem além do quesito vaidade pessoal. Algo me diz que isto vai dar problemas lá adiante...
Beijo.
Dinda
Adorei seu comentário, mas não sou doida de fazer escova progressiva, até porque meu cabelo é liso.
Obrigada por lembrar de mim.
Um beijo da sua afilhada
Carol
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