O celular de Elisângela toca...
E: "Alô!"
A: "Oi, meu amor!"
E: "Oi! Nossa, isso foi mesmo 'transmimento de pensação'. Tinha acabado de pegar o telefone para ligar pra você, meu lindo!"
A: "Isso acontece porque a gente se ama, minha flor."
E: "É... E aí, como foi o dia hoje?"
A: "Ótimo. E o seu almoço de trabalho com o Vladmir?"
E: "Ótimo também. Resolvemos várias coisas pendentes".
Uma pequena pausa se dá...
E: "Então, tá, gatinho, tô com um sono louco, vou dor..."
Elisângela é interrompida.
A: "Porque a monogamia é realmente um problema."
E: "Quê?"
A: "A monogamia. Vivemos numa hipocrisia sem fim. Todo mundo finge que acredita em monogamia, mas ela não existe. Ah, mas não mesmo!!!"
Neste momento, Elisângela sentiu o coração apertar e pensou: "Ele bebeu de novo e resolveu tirar da cartola mais uma de suas pérolas. O alvo mais próximo e vulnerável? Eu, sempre eu". Na verdade, o erro da moça foi ter dado corda para o que o namorado falava. Mas, tudo parecia tão bem... O papo fluía tão gostoso, com tanto carinho... Elisângela não resistiu e deu trela. Talvez seu inconsciente quisesse ver onde Abelardo iria chegar com toda aquela inquietação mental.
E: "Ei, o que houve? Estávamos conversando tão bem. Que sentido faz esse papo agora, meu amor?"
A: "Faz muito sentido e eu quero falar sobre isso. Você acha que, se a gente ficar o resto da vida juntos, vamos conseguir não olhar para o lado?"
O fato, minha gente, é que o questionamento de Abelardo é o de muitas pessoas por aí. Senta só numa rodinha de bar pra ver se esse papo de "fidelidade", "hipocrisia", bla, bla, bla ... não surge?! Ah, surge...
E: "Não. E nem eu quero isso, Abê. Admirar uma mulher bonita, um homem charmoso faz parte. É saudável. Além do mais, que traição há nisso?"
A: "Não é isso que estou dizendo, né. Olhar, todo mundo olha. Mas você acha que não vou transar com ninguém além de você e vice-versa, até o fim dos nossos dias? Impossível."
Tudo bem, Elisângela podia até concordar. Mas, pra que entrar nesse papo "vamossertransparentesemachucarumaooutro" agora?
E: "Amor, não estou entendendo o que está havendo. Você bebeu na rua, né?"
A: "Bebi um pouquinho. Mas o que isso tem a ver?"
Muito. Tinha muito a ver. Quando a gente não quer perder o controle do corpo e da mente e sabe que isso pode acontecer com uma mãozinha do álcool; quando sabemos que machucamos as pessoas mais especiais de nossa vida ao sairmos de nós mesmos, então é melhor evitar os exageros, não é mesmo? Cadê a força de vontade, Abelardo?
E: "Olha, eu não sei o que está havendo, acho que você quer me deixar maluca e me fazer ficar insegura contigo. Não vou entrar nessa. Por isso, saiba que minha opção de vida é viver sempre no respeito. Ser fiel ou não vem da consciência de cada um. E ser fiel a si mesmo é o mais importante. A gente não está livre de tentações. Somos humanos e podemos nos sentir atraídos por qualquer pessoa, desde que estejamos vivos. E até onde sei, Abê, nós dois estamos. Por isso, cada um faz com sua tentação o que quiser. Só peço a você que sempre pense em me respeitar e, se algo sair do seu controle, não me conte, não faça na frente dos amigos e previna-se. Não posso pedir mais nada e nem controlar você. Até porque minha natureza não é de mulher desconfiada, que fica no pé, você sabe. Meu lindo, eu não sou dona das suas vontades, nem do seu corpo. Mas, confio em você e isso faz de mim uma mulher feliz e segura. Satisfeito agora?"
Ele não estava...
A: "Você acha que seu pai está há 50 anos com a sua mãe e ficou quietinho esse tempo todo?"
E: "Mas por que os meus pais estão entrando nessa história, coitados? Você pirou, está completamente louco."
A: "Sabe, acho que estou falando tudo isso porque estava conversando com um amigo outro dia e ele me disse que o negócio é fazer 'swing'. Assim, você mata seus desejos e fantasias com outras, ela com outros e está tudo diante dos seus olhos, sem hipocrisia. Fiquei pensando muito nisso e acho que pode ser uma boa alternativa. Sabe, eu não consigo pensar no fato de você estar com outro e eu não saber. Te amo muito, meu amor. E isso seria doloroso demais pra mim."
E: "Eu sei. Eu também te amo e não estou entendendo que dispositivo foi ligado em você pra vir com essa conversa sem nexo. Olha, se você acha mesmo que esse troço de 'swing' é legal, não devemos ficar mais juntos, Abê. Você não consegue pensar em me ver com outro, mas pode fazer um 'swing' e me ver sendo jantada por um cara qualquer? Francamente... Não entendo e, além do mais, não curto essas coisas. Não acho que isso seja viver no respeito."
A: "E viver no respeito é o quê, viver na hipocrisia? Eu como uma aqui, você fica com outro ali e chegamos em casa dizendo: 'boa noite, amor, como foi seu dia hoje?'"
Elisângela se estressa e grita:
E: "Mas que papo de homem inseguro, Abelardo! Olha, quer saber, se essa hipocrisia for sinônimo de felicidade, por que não? E quem disse que pretendo levar minha vida assim? Quero ser feliz com o homem que eu escolher pra viver ao meu lado, se Deus quiser, o resto dos meus dias. Você está me confundindo, me deixando nervosa e já tirou o meu sono, caramba! Sabe, pra mim o importante é o amor, é me sentir amada, desejada, amparada, ter a certeza de que tenho um companheiro, um amigo, um amante, alguém que me realiza, me dá paz."
A: "Não falei? Olha aí o amante. Ele está sempre escondido lá no cantinho das fantasias do cérebro."
E: "Saaaaaaco! Cê ta afim de me perturbar, é? O amor, amigo, amante são a mesma pessoa: você. Mas que diabo de 'monogamia' é essa que surgiu na sua cabeça do nada, Abelardo??? Será que foi o almoço de negócios que tive hoje, com alguém do sexo oposto?"
A: "Não ligo a mínima pros seus almocinhos medíocres de negócios. O fato é que a vida é a maior galinhagem mesmo. Todo mundo pega todo mundo. Por que há de ser diferente com a gente?"
E: "Porra, Abelardo, são 2h da manhã, e estou me sentindo mal, uma idiota aqui no escuro, sentada na minha cama, com palpitações, à beira de um ataque de nervos e escutando você falar muita besteira. De uma vez por todas: não me sinto parte dessa galinhagem, não quero viver nesse 'ôba, ôba'. Só quero ser feliz com quem amo, sentir que sou parte de um casal de verdade. Desejos e tentações vamos sempre ter e nem por isso somos hipócritas. Santo limite!!!"
A: "Hipócrita, hipócrita, hipócrita. Essa é a palavra que define melhor o mundo e seus habitantes, sempre movidos por desejos e tentações em todos os sentidos."
E: "Linda frase, meu bem. Leu isso na 'Veja' hoje? Olha, sei que é difícil mesmo nos encaixarmos nesse mundo atual. Mas, se não tentarmos... Quer saber? De que adianta ficar discutindo fidelidade? É uma conversa confusa, que sempre acaba sem respostas. Falamos o que não devemos, o que nem sabemos e estressa, cara, estressa muito. Se você me dá paz e vice-versa, é isso o que importa. Ah, e sei lá como é essa vida de casal de bodas de diamante. Nunca passei por isso. Mas, procuro seguir a minha consciência e fazer com que qualquer história que eu viva (seja de 1 dia, ou 100 anos) seja linda. Como a nossa, meu amor. Nem sempre dá pra ser, eu sei, mas tentar não custa nada, né. Desejo olhar pra trás e chegar sempre à conclusão de que valeu a pena. Bom, você já misturou muito as estações por hoje, querido. Que tal uma trégua?"
A: "É, meu anjinho, estou ficando com muito sono. Disse tudo isso porque te amo muito, tenho medo de te perder e sinto muito a sua falta. Quero você ao meu lado sempre. Mas, não consigo mais prestar atenção no que você está dizendo. Amanhã nos falamos, tá..."
xxx
Caras mentes inquietas: por que complicar tanto, se a vida pode ser bem mais simples? Vai entender os seres humanos...
domingo, março 27, 2005
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2 comentários:
Pois é Bel. O problema é que está cada vez mais difícil encontrar caras resolvidos. Sim, porque pessoas como eu, você e mais uma penca de amigas nossas, são pessoas independentes e resolvidas. Será que é tão complicado assim encontrar alguém para compartilhar uma história? Oh se é...
Beijos, Rezinha
Rezinha, eu discordo um pouco de vc. É fácil culpar os homens, mas a complicação nos relacionamentos é causada por muuuitos fatores, principalmente culturais. Muito se pensa no "eu" hoje. "Eu estou chateado", "Eu não acho que vc deva fazer tal coisa", "Eu quero ser feliz", etc. Onde anda o "você"? O "nós"? Além disso, não existe ninguém "resolvido", ninguém completo ou perfeito. Nem plena felicidade nos relacionamentos, pois sempre haverá a outra pessoa, diferente de vc. E essa diferença não é ruim, é positiva. Muitos criticam Narciso, mas querem se ver no outro. Muitos defendem a fidelidade, mas sabem que não ficarão muito tempo com uma só pessoa. Tanto homens, quanto mulheres. Existem pessoas interessantes, mas certamente terão seus defeitos: celulite, miopia, barriga, etc., sem falar nos defeitos abstratos. O segredo está em diminuir o que é ruim e aumentar o que é bom. Claro, desde que a dupla em questão tenha um mínimo de valores compatíveis.
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