segunda-feira, março 21, 2005

PRK-30. Lauro Borges e Castro Barbosa, dois malucos no ar!

Fala, pessoal! Pedi a um amigo querido, Marco Santos, que escrevesse um texto sobre o trabalho de meu avô, Lauro Borges, um dos integrantes e criador da "PRK-30". Marco o interpretou no teatro, na peça "A Era do Rádio". Como todos sabemos, nosso país não tem memória. Infelizmente. O texto a seguir ajuda a refrescar a memória daqueles que viveram a época e informa os mais novos sobre um programa de rádio que marcou uma geração. Eis o texto:


"Bléim! Ao oubir esta suabe gongada, entra no ar, como se fosse uma barbuletinha dourada a PRK-30!..."

Costumava começar assim um dos melhores programas humorísticos de todos os tempos. Isso na época de ouro do Rádio no Brasil. Naquela época, uma caixinha iluminada se incumbia de levar ouvintes em uma viagem mágica, fazê-los sonhar, bastando somente a força da imaginação (palavra que saiu de moda em dias atuais.). O Rádio, esta invenção de um brasileiro (Está admirado? Entre no Google, digite "Roberto Landell de Moura" e se maravilhe com a história deste incrível padre gaúcho) era o companheiro fiel de todos os lares. Ele fazia chorar e fazia rir. No caso da PRK-30, fazia chorar de tanto rir.

Você nunca ouviu falar? Você é da geração Casseta e Planeta? E se diverte com as piadas, com as paródias de programas e comerciais que aqueles rapazes fazem? Acredite: Lauro Borges e Castro Barbosa, os locutores da PRK-30, já faziam isto bem antes, ao tempo em que os pais dos Cassetas eram meninos. E com uma pequena diferença: Lauro e Castro faziam muito melhor.

Meninos, eu ouvi. Não na época em que o programa era irradiado (de 1944 a 1964), que eu não sou tão velho assim. Aliás, infelizmente não sou daquela época. Hoje só me resta sentir saudade de um tempo em que não vivi. Mas existem programas gravados e até um livro sobre a PRK-30. Castro e Lauro, especialmente este último, são considerados como mestres pelas grandes estrelas do humor atual, o que vale dizer Chico Anísio, Jô Soares, Agildo Ribeiro entre outros.

Fazer humor hoje é difícil? Imagine naquela época em que não se podia fazer piadas envolvendo sexo, homossexualismo, palavrão (Falar termos hoje comuns como "bunda", "porrada" nem pensar!). Toda a família ouvia Rádio: da criança a vovó. Haveria de se ter muito cuidado com o que era dito diante do microfone.

O paulista Lauro Borges (Avô da Isabella Saes, inquieta mente autora deste blog) era o grande criador do programa. Ele escrevia todos os textos e ainda cuidava da produção da PRK-30. A sua habilidade em inventar vozes era algo impressionante, assim como a sua imaginação para escrever piadas que absolutamente não são datadas. Quem ouvir hoje, em pleno Século XXI, vai rolar de rir como nossos pais e avós rolavam, naquele tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. O personagem habitual de Lauro, "Otelo Trigueiro", quando anunciado, costumava alertar com aquela voz inconfundível: "Se os ouvintes me preferem, por que é que a gente vai discutir com os ouvintes?" E ninguém discutia mesmo. Lauro não era bem-humorado apenas no Rádio. Adorava pregar peças até nos desconhecidos. Boni (Esse mesmo, aquele que foi o poderoso da Globo) conta que ele entrava nos restaurantes e ao sentar pedia ao garçom: "Quer me chupar os nabos, por favor?". Os garçons, assustados, perguntavam: "O que o senhor disse?" E ele dizia: "Guardanapos, por favor?"

Seu companheiro, o mineiro Castro Barbosa, além de humorista era cantor de sucesso, parceiro de dupla com Jonjoca, tendo gravado, inclusive, a inesquecível marchinha "O teu cabelo não nega", de Lamartine Babo. Ninguém fazia uma voz de português mais engraçada do que ele, no seu personagem "Megatério Nababo de Alicerce", da PRK-30.
Lauro Borges e Castro Barbosa não brilharam apenas na PRK-30. Eles atuaram em filmes ("Banana da Terra" e "Abacaxi Azul"). Lauro também atuaria em "Laranja da China" e "Folias Cariocas". (Todos, infelizmente, desaparecidos no tempo) e também em outros programas de muito sucesso na Era do Rádio. Um deles, o "Piadas do Manduca", além dos dois, tinha no elenco Renato Murce (Produtor e Diretor), Brandão Filho, Alfredo Viviani entre outros. Este programa tem uma história curiosa: originalmente tinha o nome de "Cenas Escolares" e era apenas um quadro do programa "Hora Só...Rindo". Ele se passava em uma sala de aula, onde os alunos davam respostas absurdas às perguntas da professora. Isto lá pelos idos de 1936. Três anos depois, Renato relançou-o como programa inteiro. Era tempos do Estado Novo, a ditadura de Getulio Vargas. Houve reclamações no sentido de que o programa "era uma contribuição à desordem e à falta de respeito nas salas de aula". Imaginem só. A censura da época o colocou na lista negra. Renato, então, trocou o nome para "Piadas do Manduca", que não se passava em uma sala de aula e sim na casa da professora e seu marido, um inspetor escolar, que, conversando com os alunos, tentavam ver como andava o conhecimento deles. "Ah, assim é outra coisa", teria dito os "çábios" do terrível DIP (A censura). A "Escolinha do Professor Raimundo" nunca teria esse tipo de problema...

Tanto o "Piadas do Manduca", quanto a PRK-30 chegaram também à Era da Televisão (a Lenha...), nos anos 60. A gente só tem a lamentar não existir nesta época o vídeo tape. Daqueles programas, só restam os scripts originais, guardados como um verdadeiro tesouro por Vera Regina Saes, uma das filhas de Lauro.
Não há ninguém com mais de 60 anos que ao ouvir alguém falar "PRK-30", não comece a rir sozinho. Desde o seu lançamento, aquele humor absolutamente maluco fascinava as pessoas. Quando "Megatério", "o único locutor que já mordeu a língua mais de dez vezes sem ter tido hidrofobia", abria o programa, praticamente o país inteiro parava. Quando após ser anunciado ("o espícler, que já foi convidado diversas vezes para trabalhar nos Unaited Esteites, mas não aceitou por que não se dá bem com o clima da Europa") "Otelo Trigueiro", cuja "voz tão medicinal, neutraliza o excesso de acidez do estômago e age de modo rápido e suave, limpando os intestinos e regularizando as funções do fígado", assumia o microfone, ninguém pensava na dureza da vida ou na carestia.

A "emissora" PRK-30 se esmerava em anunciar os produtos de seus "patrocinadores". Como, por exemplo, as Pastilhas Maiorativas: "Cai-lhe o cabelo? Então use Pastilhas Maiorativas, uma delícia para a dor de dentes". Ou a Sapataria Ó Sola Minha, "especializada em sapatos para jóqueis e cavalariços, a preços que são uma barbada. Não jóquei fora o seu dinheiro! A sapataria fica ali na Rua 11, número 12, em frente ao 13, a 14 passos da Praça 15".

Pelo seu microfone, passavam "calouros", como o senhor "Manuel Benevides das Alpercatas Macias e Saltos Altos de Moraes e Pencas" e cantores famosos como "Pedro Canário e sua voz de cotovia". Radionovelas empolgantes como a "Frinéia Descabelada" e a "Atire a Terceira Pedra"; programas de perguntas e respostas, como aquele em que foi perguntado ao candidato, "com cara de leitão assado", se ele sabia o que era "oásis". Ele disse que sabia, mas que a pronúncia estava errada: a certa era "os ases", plural do "oásis de copis, oásis de paus, oásis de ouro e oásis de espaudas".

Durante 20 anos, a PRK-30 animou as noites de toda uma geração. Sua sigla, que representava o prefixo de uma emissora "de ondas longas e compridas, curtas e encolhidas", foi, é e será sinônimo do mais fino e talentoso humor de que já se teve notícia. Não é à toa que a Rede Globo colocará no ar, este ano, o seu programa comemorativo dos 40 anos de existência, e resolveu chamá-lo de...PRK-40!
Lauro Borges desde 1967 está no céu, matando os anjinhos de tanto rir. Em 1975, Castro Barbosa juntou-se a ele, e não me admiraria se por lá, volta e meia fosse ouvido algo assim:
"Plim! Ao oubir este suabe toque de harpa, entra no ar, como se fosse um querubim dourado..."

Marco Santos é jornalista, ator e camelô de obras de artes, medicamentos e autopeças no Piscinão de Ramos, em Copacabana.

xxx

Muito obrigada pelo carinho, Marco. O Brasil precisa de pessoas como você, que ajudem a resgatar memórias preciosas. Aproveito também para deixar meu agradecimento ao jornalista Paulo Perdigão, que escreveu "No ar: PRK-30". Um trabalho brilhante, feito com carinho, competência e admiração. O livro está nas livrarias de todo o país e é um sucesso de vendas.

4 comentários:

Marco disse...

Minha Bella Isa,
Eu é que me sinto honrado em ser escolhido por você para escrever sobre o seu avô, uma das poucas pessoas que eu posso chamar de "ídolo". Embora eu não o tenha conhecido, ele foi e sempre será o meu mestre nas lides do humor. Representa-lo no espetáculo "Na Era do Rádio" (e o Castro Barbosa, na outra peça, "Nas Ondas do Rádio")foi um dos maiores prazeres que tive na minha carreira de ator. Quem me dera ter uma faísca do talento de seu avô, Lauro Borges!
Graças a Deus que eu posso manifestar a enorme admiração que eu tenho por ele por intermédio do imenso carinho que eu tenho por você e por sua mãe, pessoas muito, muito queridas.
Aproveito para avisar aos leitores do seu blog que além do livro do Paulo Perdigão eles podem adquirir fitas com gravações da PRK-30 no site www.colectors.com.br.
Um grande beijo.
Marco Santos

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto.
Me emocionou.
Duplamente.
Até porque através dele, descobri que fora a amizade, temos outra coisa em comum, Isabella. Sou descendente com muita honra do Castro Barbosa.

Anônimo disse...

DESDE GAROTO -TÃO ANTIGAMENTE, FUI, E CONTINUO SENDO, FÂ DO RÁDIO. DAQUELE RÁDIO DAS ESTAÇÕES AM, QUE "CONVERSA" CONOSCO EM TODAS AS HORAS, AINDA MAIS COM O ADVENTO DO RÁDIO DE PILHA.
CHEGAVA EM CASA, VINDO DO COLÉGIO E FICAVA AGUARDANDO OS PROGRAMAS DA RÁDIO NACIONAL - O ANJO, JERÔNIMO, O MUNDO DA BOLA, ATÉ A NOVELA DAS OITO - PATROCÍNIO GOLGATE/PALMOLIVE, O REPÓRTER ESSO E ENTÃO O HUMORÍSTICO PRK-30 COM AGENIAL DUPLA LAURO BORGES E CASTRO BARBOSA.
AOS DOMINGOS, APÓS A JORNADA ESPORTIVA,ESPERAVA PELAS "PIADAS DO MANDUCA".
PARA MIM, A ERA DO RÁDIO PERSISTE ATÉ HOJE, MAS AQUELE TEMPO ERA MÁGICO!
50 ANOS DEPOIS QUIS O DESTINO, UNIR NOSSAS FAMÍLIAS PELOS LAÇOS FAMILIARES - MINHA NETA, SUA PRIMA DIRETA.
BEIJO.
CARLOS ANDRÉ BONOW FILHO

Anônimo disse...

Olá Isabella, meu nome e Angélica e seu avô era irmão do meu avô, acredito que sejamos primas. Hoje recebi um e-mail onde fala sobre a radio nos anos 70, e é claro não poderia faltar a PRK 30, e foi com muita saudades que li nome do seu avô, e certo que na epoca eu era menina, mas meu pai, meus tios e minha avó sempre fala sobre ele.
Meu avô chamava-se Horacio Borges Sáes.
Gostaria muito que você entrasse em contato comigo. pelo meu e-mail: maryangel_saes@terra.com.br
Um grande abraço.

Maria Angélica Jacome Borges Sáes