quinta-feira, junho 09, 2005

2:04

O relógio marca 2:04 e ela não pára de teclar. O sono não chega e a inspiração transborda. Seus pensamentos ramificam tanto quanto a árvore genealógica da família imperial brasileira. O silêncio da madrugada, misturado ao ruído da cadeira velha em que está sentada resultam numa bela sinfonia para sua escrita. Tica-tac, tic-tac...

O tempo passa e ela tem lembranças. Dos tempos mais remotos ao segundo que passou. Faz um filme da vida. Sorri, dá gargalhadas, choraminga, cai em prantos, sente os cheiros de momentos diferentes pelos quais passou e das pessoas mais marcantes que cruzaram seu caminho. Relembra filmes, viagens, leituras e, de repente, é invadida por uma felicidade plena.

Ela quer terminar a música que está compondo, escrever mais um capítulo do livro a que tanto se dedica. Não consegue. Olha para "A Mulher de Costas", de Dali, "As Meninas", de Velazquez e "O Jardim das Delícias", de El Bosco. Os três, ao seu redor, estabelecem um diálogo que só ela entende.

Depois dessa confusão de referências, cores e informações, uma simples imagem vem à sua cabeça: a de alguém que conseguiu lhe proporcionar muito conforto e dizer palavras sábias num momento em que ela realmente precisava. A vela acesa; a única parede azul, com um toque de Matisse; o vento frio da noite; o prego solitário que abrigava um Miró, agora estilhaçado... O sonho está muito bom e é um pecado acordá-la agora.

De supetão, ela acha a paz que sempre procura. O sono chega, o corpo amolece... Novamente, a princesa adormece e, desta vez, parece ter comido a maçã envenenada. Pois nenhum, nenhum barulho faz com que ela se mova. Nem o silêncio da madrugada, nem o ruído da cadeira velha, nem a voz dos artistas...

4 comentários:

Anônimo disse...

Belzinha, vim ver se tinha alguma novidade e me deparei com este texto tão gostoso que me deu até vontade de também comer a maçã envenenada prá sonhar tudo isto!!!

Beijo da tia Sonia

Anônimo disse...

Belzinha, os "barulhos" da madrugada podem ser aterrorizantes, mas pelo que vi também podem ser inspiradores. Santa cadeira velha, santo relógio. Ao mesmo tempo, suas sombras podem dar medo, mas também dão a forma de sua escrita, sempre leve e gostosa, que faz com que tenhamos vontade de ser um dos personagens de seus textos. Fico feliz que tenha conseguido se entregar a Morfeu. Um beijo carinhoso.

Anônimo disse...

atualiza! atualiza!

Anônimo disse...

Viva Chico e Viva Bel!!!
Filhota, seus textos estão deliciosos mas os horários (04:00/02:04h) são mais meus que seus, até então.
Não é ótima a madrugada?
Beijocas
IO