quarta-feira, maio 17, 2006

Gatinha Mimi

No consultório psiquiátrico...

ANA (sub-texto: que saco esse psiquiatra): Oi, Conrado!

CONRADO (sub-texto: hummm... ela deu uma engordada): Bom dia, Ana!

ANA (sub-texto: ai, hoje ele está com mau-hálito): O dia hoje não está nada bom...

CONRADO (sub-texto: lá vem ela com mais uma história escabrosa de bichinhos): O que houve?

ANA (sub-texto: já que estou aqui, vou contar): Minha gatinha Mimi... Sempre que dou leite para ela, seguro sua cabeça, pois Mimi tem um probleminha de fundo nervoso e não consegue parar quieta. Só que, desta vez, me desliguei do que fazia e não vi que fiz força demais com a cabecinha dela e afoguei a bichinha no leite. Só percebi quando Mimi não mais resistia à minha força. Quando olhei, vi Mimi morta. Seu pelo branco se confundia com o leite e, aí, não consegui segurar e vomitei. Ai, doutor, estou péssima.

CONRADO (sub-texto: preciso segurar minha vontade de rir...): Quantos anos tinha Mimi?

ANA (sub-texto: como assim?): Três aninhos. Era linda, branquinha, branquinha.

CONRADO (sub-texto: ainda bem que ela me paga...): Mimi, quero dizer, Ana, desconfio que você esteja com a mente inquieta demais, o que faz você ter uma hiper-sensibilidade neural, formada por uma vascularização exagerada dos neurônios, provocando, assim, um surto de criatividade incontrolável.

ANA (sub-texto: ah, tá...): Compreendo perfeitamente.

CONRADO (sub-texto: compreende?): Veja bem: há três semanas você vem contando historinhas, onde os bichinhos mais fofos sofrem uma espécie de terror bizarro. Lembra da joaninha que teve suas asas arrancadas com pinças, do coelhinho que prendeu o pé na grade da gaiolinha e teve gangrena e do canarinho que se engasgou e morreu por asfixia? Agora foi a vez de Mimi... Na verdade, Ana, nada disso existe, está tudo em sua imaginação.

ANA (sub-texto: esse cara é muito chato e é mais doido que eu): Será, então, que devemos mudar de assunto?

CONRADO (sub-texto: um, dois, três e já): E aí, já comprou seu vestido de noiva?

ANA (sub-texto: quê?): Doutor, eu não vou casar...

Silêncio sepulcral.

ANA (não deu tempo para o sub-texto): Hã, hã... Sim, comprei. É lindo: preto, com brilhos dourados. Na cabeça, colocarei um enfeite de couro de avestruz, no pé uma sandalinha de couro, que comprei no artesanato lá perto de casa. Ih, menino, cê sabe que meu noivo é um deus grego, né...

xxx

Não adianta insistir. Às vezes não tem cura mesmo...

2 comentários:

Marco disse...

Rá! Rá! Rá!...Ei, você é boa TAMBÉM em ficção, heim? Essa menina não cansa de me surpreender...

Anônimo disse...

As vezes penso que todos deveriam fazer análise...deixar aflorar o "maluco" que tem dentro de si ou, quem sabe, realizar que não se é tão maluco assim, né? Sei lá, entende? (sub-texto: que sono! vou dormir...)