sábado, março 11, 2006

D. Nélia

Como é bom lembrar que existe gente boa no mundo, de bem com a vida, disposta a fazer gentilezas, levar uma prosa...

Hoje, vocês vão conhecer D. Nélia, atendente do Banco Real, de Botafogo, no Rio de Janeiro. As mãos castigadas pelo tempo, as rugas no rosto, as pernas já inchadas fazem dessa personagem o ser mais jovem que conheci.

Cheguei ao banco, por volta das 15h30, para tirar folhas extras de talão de cheque. Isso porque as agências mais perto da minha casa - que tinham o serviço disponível - eram essa e a da Barra da Tijuca. Estava precisando muito das folhas, porque tinha que fazer um depósito urgente, naquele mesmo dia. Atentem para o fato de que eram 15h30 e o banco fechava às 16h. Como sempre, fazendo tudo em cima do laço. Fui apertando os botões da máquina, e nada acontecia. Hã? Sim, a máquina estava com problemas. O sangue subiu até metade do corpo (pois agora faço yoga e não me estresso como antes - até metade do corpo já é um grande progresso!!!) e, então, perguntei a uma das atendentes, uma senhora simpática, o que estava acontecendo. Ela me disse, gentilmente, que chamaria o técnico para resolver o problema e que eu sairia dali em alguns minutos com meus cheques. Acreditei naquela voz calma, serena, naquela senhora que me tratava como uma neta, me chamando ora de minha filha, ora de minha querida. De um jeito tão terno que - em meio à confusão do meu dia, roteiros mil para escrever, pautas pra fazer, dinheiro pra depositar na conta dos outros - me deu vontade de deitar em seu colo para que me contasse histórias de seu tempo.

"Se você estiver cansada e quiser esperar lá dentro, sentada, eu lhe chamo quando a máquina estiver pronta", disse a senhora, cujo nome eu já sabia que era Nélia, depois que li, discretamente, seu crachá. Agradeci, mas disse que estava bem ali, em pé, diante daquela máquina, da qual eu era totalmente dependente naquele momento. Aí, me peguei pensando na quantidade de tempo em que aquela senhora ficava em pé ali. E perguntei: "A senhora tem que ficar em pé o tempo todo?" "Sim", disse ela. "E por quanto tempo?", perguntei. "De 10h às 16h", respondeu, com um sorriso no rosto, como quem agradecia o fato de estar em pé e trabalhando. É, chega a ser irônico uma senhora que fica 6h em pé, todos os dias, perguntar para uma moleca, de seus quase trinta anos se ela está cansada e quer sentar...

O tempo foi passando, os ponteiros do relógio se aproximavam das 16h e nada da máquina. Enquanto isso, conversava com D. Nélia sobre os mais variados assuntos: o ônibus que ela pegava da Tijuca até Botafogo; as pessoas gentis que ela recebia; a pessoas grossas que ela tinha que receber; os meus traços bonitos de artista de TV... Segundo D. Nélia, maquiagem leve e cabelos ao vento eram suficientes para que eu me tornasse a sensação da TV Globo! Quanta ingenuidade, quanta bondade, quanta maravilha dentro de um ser humano só! Expliquei a ela que não era bem assim, que hoje a gente tem que namorar gente famosa pra subir na vida, mas que eu estava muito satisfeita com o maridão, que não troco por nada nesse mundo. Enfim, o papo fluiu, encontrei Virgílio, um amigo figura, que não via há muito; encontrei a mãe da Bonora, Vera, e levamos uma prosa rápida.

De repente, a máquina recuperou a vida e pude tirar minhas tão esperadas folhinhas. D. Nélia estava lá, ao meu aldo, não me deixou um minutinho sequer. Arrumou as folhas para mim, colocou-as em ordem. Já eram mais de 16h e eu não estava nem um pouco preocupada com o depósito que, agora, só poderia ser feito no dia seguinte. E essa tranqüilidade se devia exclusivamente a ela, D. Nélia, que nem imaginava o bem que me fazia. Eu estava amparada, protegida dentro daquele banco.

Chegou a hora de ir. Fiz questão de me despedir de D. Nélia, com dois beijinhos e um abraço! "Vai com Deus, minha filha", disse ela. "Obrigada", disse eu.

Que guerreira a D. Nélia. Deus me ajude a chegar a essa idade assim. Que exemplo a D. Nélia. Que terapia a D. Nélia. Que beleza a D. Nélia. Quem dera se o mundo fosse feito só de Donas Nélias!!! E quem dera se todas as idas ao banco fossem a assim...

D. Nélia para presidente!

5 comentários:

Anônimo disse...

Bel, acredite ou não, ainda existem anjos andando na face Terra. Alguns em forma de Donas Nélias...por que não? Ainda bem que há pessoas assim. São as que fazem a gente acreditar que gentileza, bondade e meiguice ainda são virtudes que valem à pena serem cultivadas. Beijos amiga.

Marco disse...

Querida Isa, a Bela: ando numa descrença sem tamanho da natureza humana. Fico muito feliz em ver que ainda tem almas que merecem ser salvas. Sei que não são muitas. A maioria não merece dividir o ar respirado pela D. Nélia. Um beijo, querida.

Unknown disse...

Tama Girl, é por gente como a dona Nélia que o Brasil não acaba. Aliás, que o mundo não acaba. Num tempo tão louco como esses que estamos vivendo, é um alívio mesmo esbarrar com pessoas desse tipo. E o que deveria ser regra, acaba virando exceção...coisa doida, né?
Bj!
PS.: Viu, blogueira carente! Comentei!rs...continue me visitando, sim? "Sua ligação é muito importante para nós!!!"rs...

Anônimo disse...

Mas é muito coisica, pelo amor de Deus.

Anônimo disse...

Belzinha

Amei a d. Nélia, mesmo sem a conhecer!

Cheguei a ficar até com lágrimas nos olhos, por saber que, por trás desta d. Nélia, devem ter outras milhares que a gente não conhece e que, apesar da vida dura que levam, estão sempre dispostas a ajudar os outros.

Ao contrário de muitos outros, de nariz em pé, que, apesar de ganharem para isto, estão cheios de má vontade e parece que estão nos fazendo um grande favor!!!

Mas, a vida tá aí prá ensinar e eles, um dia, aprenderão - espero!!!

Beijos da tia Sonia