Lembro-me como se fosse ontem do dia em que você nos encomendou um conto de tema livre para casa. Aspirante à escritora, no alto dos meus vinte e poucos anos, logo fui pra casa e me pus a pensar sobre o que escreveria, como começaria o texto, enfim, o trabalho passado havia me enchido de alegria e vontade de entregar algo que merecesse nota dez. Pois passei muito tempo a pensar e a escrever e, finalmente, o texto ficou pronto. Lá estava ele como um bebê que acabara de vir ao mundo. E lá estava eu como uma mãe literária de primeira viagem...
Minha surpresa, professora, foi quando recebi de volta o conto com uma nota nove. Não que tenha achado a nota ruim, mas é que eu - pela primeira vez - havia feito de fato um trabalho com prazer e fiquei na esperança de que minha nota fosse proporcional a esse sentimento. Mais surpresa ainda fiquei quando ouvi suas palavras: "Não posso acreditar que você tenha escrito esse lindo texto. Está muito bem feito, merece nota máxima mas, pela minha desconfiança, dei um desconto. Nota nove". Minhas recordações desse dia não são muito boas. O que havia sido um momento de êxtase para mim se transformou em decepção, frustração. Custava a acreditar que você, professora, que estava ali para incentivar os alunos, tinha conseguido tirar de sua mente brilhante palavras dignas de quem não merecia aquele posto.
É, professora, mas o mundo dá voltas.
Sempre soube que tinha talento para a escrita, desde meus tempos de colégio. Mas, nunca havia inscrito nenhum trabalho em concursos. Há pouco tempo pipocou um e-mail de uma editora na minha caixa de correio, convidando jovens escritores a concorrer a prêmios com quantos textos quisessem. E aí, professora, eu inscrevi aquele mesmo texto. Você não deve nem se lembrar dele... Nem de mim... Uma mexidinha aqui, uma atualização acolá... Pronto, apertei o "send".
Como você, professora, a comissão julgadora também não me achou merecedora do dez. Mas, pré-selecionou o meu texto, entre mais de mil e quinhentos concorrentes. E ainda vai publicá-lo junto aos ganhadores e outros pré-selecionados. Não, a editora não me disse nada parecido com o que ouvi naquela sala há mais ou menos dez anos. Pelo contrário. A editora sabe o real significado da palavra "incentivo". Num país onde poucos lêem, poucos escrevem o português correto, nada melhor do que gestos como esse. E nada pior do que permitir o ingresso de professores com muito preparo intelectual - isso não posso negar que você tem de sobra - mas pouco preparo emocional e psicológico, em faculdades de nome, espalhadas por esse nosso Brasil.
xxx
Pra quem ficou curioso, a professora em questão é Ana Arruda, viúva do grande mestre Antônio Callado e esse concurso me libertou da terrível sensação de que sempre alguém duvidaria da minha capacidade de escrever um bom texto.
quinta-feira, dezembro 27, 2007
sexta-feira, dezembro 07, 2007
O doce que cura o amargo... Ou não...
Acabo de comer um delicioso ninho de ovos e não consigo ter pensamentos amargos, mesmo procurando inquietamente por eles para dar continuidade à série iniciada dois posts atrás.
A propósito, chove no Rio, o calor é infernal e as malditas baratas habitam cada quadradinho das pedras portuguesas. Novamente peço desculpas a Gregor Samsa e G.H, mas eu odeio essas criaturas com todas as minhas forças.
Hum... E não é que isso foi amargo? Garçom, mais um ninho de ovos, por favor!
A propósito, chove no Rio, o calor é infernal e as malditas baratas habitam cada quadradinho das pedras portuguesas. Novamente peço desculpas a Gregor Samsa e G.H, mas eu odeio essas criaturas com todas as minhas forças.
Hum... E não é que isso foi amargo? Garçom, mais um ninho de ovos, por favor!
quarta-feira, novembro 28, 2007
Pessoas X Animais - mais uma da série "Pensamentos Amargos"
Ele se pega pensando que, em muitas das situações de perigo vistas num domingo chuvoso em programas do "Discovery Channel", salvaria primeiro o animal e depois a pessoa. Muita gente o incomoda e quanto menos dessa espécie no mundo melhor...
Aos homens sem "catiguria" - a primeira da série "Pensamentos Amargos"
Conheço alguns, poucos... Daqueles que adoram ofender o sexo oposto.
E acham que, com isso, fazem... graça.
A essas criaturas mal nascidas, cuja existência lamento profundamente, nem o melhor tratamento psicológico basta.
Um desses não aceito nem de... graça.
E acham que, com isso, fazem... graça.
A essas criaturas mal nascidas, cuja existência lamento profundamente, nem o melhor tratamento psicológico basta.
Um desses não aceito nem de... graça.
domingo, novembro 18, 2007
Mundo "Demenos"
Queria deixar registrada aqui a felicidade que me invade ao ver o Rio de Janeiro vazio, num feriado prolongado. Nada como menos pegadas na areia, menos vozes nos restaurantes, menos filas nos cinemas, menos gente. O mundo tá "demais" e, às vezes, preciso vê-lo "demenos", nem que seja só um pedacinho insignificante dele...
Ferreira
Sei que tenho estado meio ausente do blog, algumas pessoas andam me cobrando mais atenção... É que tá complicado de me dedicar tanto quanto eu gostaria. Mas, prometo "posts" mais curtinhos e nem sempre de minha autoria... Vocês sabem que gosto de publicar aqui coisas que leio e ouço e que martelam na minha mente, né... Então, aqui vai uma!
Essa eu li hoje, no jornal, vinda de Ferreira Gullar: "Eu não quero ter razão, eu só quero ser feliz".
E adorei!
Essa eu li hoje, no jornal, vinda de Ferreira Gullar: "Eu não quero ter razão, eu só quero ser feliz".
E adorei!
terça-feira, novembro 06, 2007
Piaf em ruínas
Só quem conhece Edith Piaf e já leu "As Ruínas", de Scott Smith, sabe o que é escutá-la (mais precisamente "Non, je ne regrette rien") enquanto devora as páginas deste thriller arrepiante!
Neste momento a vida tem um "quê" de fantástica...
Neste momento a vida tem um "quê" de fantástica...
Boa frase...
"Você ouve aquilo que você vê...", assim falou a personagem de Sandra Dee, em "Beyond the Sea", filme indicado por minha colega blogueira Vanda Viveiros de Castro - http://biscoitochines.blogspot.com
quarta-feira, outubro 31, 2007
Vai por mim...
Lá vai a mocinha falar de cinema de novo... Não resisto...
É que no último mês tive a oportunidade de assistir a dois filmes nacionais que me surpreenderam. Os que me conhecem sabem que pra mim cinema é, em primeiro lugar, sensação. Num primeiro momento, eu não fico prestando atenção na fotografia, nos enquadramentos, no que o cineasta quis dizer com tal e tal cena, enfim, é claro que esses aspectos me chamam a atenção, mas cinema para mim é, acima de tudo, a forma como eu saio da sala, o que ficou em mim, qual foi o impacto da história que acabei de assistir sobre a minha vida, o meu estado de espírito...
Bom, falei tudo isso porque fui presenteada com duas produções nacionais, recém-saídas do forno e obrigatórias, principalmente para aqueles que já vão ver um filme nacional de nariz torcido, como eu, confesso. Seus títulos: "Sem Controle" e "Pode Crer", duas produções completamente diferentes, mas que me fizeram sair do cinema acreditando mais nos roteiristas brasileiros e feliz por não ter conhecido mais um capítulo do nordeste do Brasil ou da violência que assola o país.
"Sem Controle" conta a história de um diretor de teatro, vivido pelo Du Moscovis, que resolve montar uma peça num sanatório. Não é tão simples assim, mas não me sinto muito à vontade de ficar aqui contando a história porque tenho medo de estragar as surpreendentes viradas do roteiro. Vale prestar atenção no trabalho dos atores, um dos maiores méritos do filme.
Já "Pode Crer" é uma deliciosa experiência cinematográfica sobre uma época que não volta mais: o Rio de Janeiro do início dos anos 80, com direito à imagens de Super 8. Também não vou ficar aqui contando tudo, se não o impacto do filme acaba reduzido.
Bom, estão aí duas dicas principalmente para aqueles que querem começar a ver o cinema nacional com outros olhos. E, lembrem-se, é apenas uma dica. Crítica já são outros quinhentos e é algo que não sou capaz de fazer como mera cinéfila que sou. Isso eu deixo para meus coleguinhas Wilker, Jaime Biaggio, Marcelo Janot e Renata Boldrini!
É que no último mês tive a oportunidade de assistir a dois filmes nacionais que me surpreenderam. Os que me conhecem sabem que pra mim cinema é, em primeiro lugar, sensação. Num primeiro momento, eu não fico prestando atenção na fotografia, nos enquadramentos, no que o cineasta quis dizer com tal e tal cena, enfim, é claro que esses aspectos me chamam a atenção, mas cinema para mim é, acima de tudo, a forma como eu saio da sala, o que ficou em mim, qual foi o impacto da história que acabei de assistir sobre a minha vida, o meu estado de espírito...
Bom, falei tudo isso porque fui presenteada com duas produções nacionais, recém-saídas do forno e obrigatórias, principalmente para aqueles que já vão ver um filme nacional de nariz torcido, como eu, confesso. Seus títulos: "Sem Controle" e "Pode Crer", duas produções completamente diferentes, mas que me fizeram sair do cinema acreditando mais nos roteiristas brasileiros e feliz por não ter conhecido mais um capítulo do nordeste do Brasil ou da violência que assola o país.
"Sem Controle" conta a história de um diretor de teatro, vivido pelo Du Moscovis, que resolve montar uma peça num sanatório. Não é tão simples assim, mas não me sinto muito à vontade de ficar aqui contando a história porque tenho medo de estragar as surpreendentes viradas do roteiro. Vale prestar atenção no trabalho dos atores, um dos maiores méritos do filme.
Já "Pode Crer" é uma deliciosa experiência cinematográfica sobre uma época que não volta mais: o Rio de Janeiro do início dos anos 80, com direito à imagens de Super 8. Também não vou ficar aqui contando tudo, se não o impacto do filme acaba reduzido.
Bom, estão aí duas dicas principalmente para aqueles que querem começar a ver o cinema nacional com outros olhos. E, lembrem-se, é apenas uma dica. Crítica já são outros quinhentos e é algo que não sou capaz de fazer como mera cinéfila que sou. Isso eu deixo para meus coleguinhas Wilker, Jaime Biaggio, Marcelo Janot e Renata Boldrini!
terça-feira, outubro 23, 2007
Algo me agita a mente...
Tenho me deparado com muitas biografias ultimamente. A última foi "Piaf - Um hino ao amor", que conta a vida da cantora francesa Edith Piaf. Por sinal, um filme obrigatório para seus fãs ou para aqueles que, como eu, cresceram ouvindo sua música. Mas, enfim, passei aqui só para deixar registrado que ainda não li uma biografia ou vi um filme sequer sobre a vida de um grande artista, que retrate alguém que tivesse desfrutado de uma infância saudável, normal. Que relação deve existir entre um início de vida conturbado e o despertar de um talento que transforma as pessoas em grandes gênios? Curiosa estou e curiosa vou permanecer até que alguém me responda. Meus quatro leitores assíduos sabem que tenho muito interesse nos assuntos mais misteriosos e profundos do sentimento humano... Se conseguir alcalmar minha mente através dessa descoberta, "postarei-a-a" aqui imediatamente...
segunda-feira, outubro 15, 2007
Qualquer semelhança é mera coincidência...
"O Don Juan do conhecimento... Ele não ama as coisas que conhece, mas tem espírito e apetite para a caça e as intrigas do conhecimento - até que afinal não resta para ele nada de conhecimento para caçar exceto o absolutamente pernicioso; ele é como o bêbado que acaba bebendo absinto e aqua fortis. Assim, no final ele deseja o Inferno - é o último conhecimento que o seduz. E esse também se revela uma desilusão, como todo conhecimento!... pois todo o universo não tem mais nem uma simples migalha para dar a este homem faminto."
É, Friedrich Nietzsche parece ter antecipado nossas angústias pós-modernas... Mas, como o título desse post diz: qualquer semelhança é mera coincidência... Ou não?
É, Friedrich Nietzsche parece ter antecipado nossas angústias pós-modernas... Mas, como o título desse post diz: qualquer semelhança é mera coincidência... Ou não?
segunda-feira, outubro 01, 2007
Mais...
Eu falei que a lista aumentaria...
I´m not there - Conta a vida de Bob Dylan, com seis atores interpretando o cantor. Vale conferir a interpretação de Cate Blanchett, premiada como melhor atriz no Festival de Veneza 2007.
PQD - Documentário sobre os pára-quedistas do exército brasileiro.
Mundo Livre - Do diretor inglês, Ken Loach. Fala sobre trabalho ilegal no Reino Unido.
O Banheiro do Papa - Do Brasileiro Cesar Charlone, diretor de fotografia de "Cidade de Deus". Fala sobre um povoado remoto do Uruguai, que se prepara para uma visita do Papa João Paulo II.
Imperdíveis!!!
I´m not there - Conta a vida de Bob Dylan, com seis atores interpretando o cantor. Vale conferir a interpretação de Cate Blanchett, premiada como melhor atriz no Festival de Veneza 2007.
PQD - Documentário sobre os pára-quedistas do exército brasileiro.
Mundo Livre - Do diretor inglês, Ken Loach. Fala sobre trabalho ilegal no Reino Unido.
O Banheiro do Papa - Do Brasileiro Cesar Charlone, diretor de fotografia de "Cidade de Deus". Fala sobre um povoado remoto do Uruguai, que se prepara para uma visita do Papa João Paulo II.
Imperdíveis!!!
segunda-feira, setembro 24, 2007
quinta-feira, setembro 20, 2007
Palavras de Martha...
E disse Matha Medeiros nesse domingo: "Suicidavam-se mais, os escritores. Os escritores desse novo século não se suicidam, a Sylvia Plath de hoje faz mamografia, a nova Ana Cristina Cesar faz pilates, o William Burroughs do século XXI precisa parar de beber por recomendação médica. Está proibido o desatino".
E eu faço parte desta geração que vive regradamente e que precisa, sobretudo, evitar. Sim, devemos evitar o cigarro, a bebida, as comidas calóricas e otras cositas más, se quisermos ter uma vida saudável. Mas, pra mim, há outras coisas muito mais importantes a serem evitadas e que, na verdade, são as principais causadoras de grandes males. Não vou enumerá-las aqui, mas tenho certeza de que cada um pode fazer uma lista em menos de dez minutos.
Martha tem razão quando diz que sente falta de um tormento não diagnosticado num quadro do Fantástico e também de mais pileque em nossos textos. É, tá faltando pileque... Tenho pesquisado sobre a vida de muitos artistas de gerações bem anteriores à minha. E notei um fato interessante: essas pessoas tiveram trajetórias parecidas, houve mais tempo para pensarem no que realmente queriam fazer da vida, sofreram menos pressão externa (a tal pressão da sociedade), não viveram tão intensamente a era do "ter". Ouso dizer que havia mais liberdade, mesmo que muita gente não concorde com essa afirmação. Não precisa ir muito longe na vida dos artistas para perceber tais características. É só ver um filme como o que eu vi ontem, "Pode Crer", do Arthur Fontes. Ele se passa na década de 80, não muito longe de hoje em dia. O clima é outro, para mim muito mais saudável, em que o tempo tinha outro tempo, passava diferente.
Um tormento não diagnosticado num quadro do Fantástico... É, amigos, somos seres controlados, doidos para ter o controle. Permaneceremos aparentemente controlados e jamais conseguiremos controlar. Mas, será que perceberemos tudo a tempo de mudar? Ih... Isso não me cheira nada bem...
E eu faço parte desta geração que vive regradamente e que precisa, sobretudo, evitar. Sim, devemos evitar o cigarro, a bebida, as comidas calóricas e otras cositas más, se quisermos ter uma vida saudável. Mas, pra mim, há outras coisas muito mais importantes a serem evitadas e que, na verdade, são as principais causadoras de grandes males. Não vou enumerá-las aqui, mas tenho certeza de que cada um pode fazer uma lista em menos de dez minutos.
Martha tem razão quando diz que sente falta de um tormento não diagnosticado num quadro do Fantástico e também de mais pileque em nossos textos. É, tá faltando pileque... Tenho pesquisado sobre a vida de muitos artistas de gerações bem anteriores à minha. E notei um fato interessante: essas pessoas tiveram trajetórias parecidas, houve mais tempo para pensarem no que realmente queriam fazer da vida, sofreram menos pressão externa (a tal pressão da sociedade), não viveram tão intensamente a era do "ter". Ouso dizer que havia mais liberdade, mesmo que muita gente não concorde com essa afirmação. Não precisa ir muito longe na vida dos artistas para perceber tais características. É só ver um filme como o que eu vi ontem, "Pode Crer", do Arthur Fontes. Ele se passa na década de 80, não muito longe de hoje em dia. O clima é outro, para mim muito mais saudável, em que o tempo tinha outro tempo, passava diferente.
Um tormento não diagnosticado num quadro do Fantástico... É, amigos, somos seres controlados, doidos para ter o controle. Permaneceremos aparentemente controlados e jamais conseguiremos controlar. Mas, será que perceberemos tudo a tempo de mudar? Ih... Isso não me cheira nada bem...
quinta-feira, setembro 13, 2007
Billy
Olha, esse programa de rádio tem me feito viajar muito pelo mundo cibernético em busca de informações preciosas para os ouvintes... Um dia desses, pesquisando a vida de Billy Wilder, descobri pérolas faladas por essa figura lendária do cinema. Aí vão...
"Anyone who doesn't believe in miracles isn't a realist."
"You have to have a dream so you can get up in the morning."
"If there's anything I hate more than not being taken seriously, it's being taken too seriously."
"The best director is the one you don't see."
E por aí vai...
"Anyone who doesn't believe in miracles isn't a realist."
"You have to have a dream so you can get up in the morning."
"If there's anything I hate more than not being taken seriously, it's being taken too seriously."
"The best director is the one you don't see."
E por aí vai...
quarta-feira, setembro 12, 2007
quinta-feira, setembro 06, 2007
Santiago
Acabo de voltar do cinema com a mente mais do que inquieta e não resisti ao computador... Isso para deixar registrada a minha emoção provocada por um homem, que infelizmente não está mais entre nós: Santiago. O filme que acabo de ver leva esse nome e foi dirigido por João Moreira Salles. Santiago foi o mordomo da família do cineasta durante cerca de vinte anos.
Não vou perder meu tempo aqui descrevendo este homem. Não dá, só vendo o filme para ter noção de tamanha grandeza. Desta vez, o blog funciona mais como um bloco de notas do que como qualquer outra coisa. Os mais assíduos sabem que gosto de anotar frases, pensamentos que me chamam a atenção e afins...
Numa cena do documentário, Santiago diz que fazia arranjos de flores como ninguém. E, de um jeito doce e profundo, se compara Michelangelo quando fez a estátua de Davi. "De tão perfeita, o artista disse que só faltava a escultura falar". E Santiago diz sobre seus arranjos de flores: "Eram tão perfeitos, por que não cantavam? Olhava para eles e esperava que cantassem". Aqui pode parecer solto, mas no clima do filme vira uma poesia, carregada do emocionante gestual de Santiago.
Outra: ele cita uma personagem de Dante Alighieri, na "Divina Comédia". Francesca era o nome dela. E diz: "Francesca é personagem de uma das histórias de amor mais lindas que a humanidade conheceu. Mas, nunca ninguém lhe deu muita atenção. Dante foi o único que conseguiu lhe dar um nome, uma voz e um tormento".
Um nome, uma voz e um tormento... E não é disso que todos nós somos feitos?
Assistam.
Não vou perder meu tempo aqui descrevendo este homem. Não dá, só vendo o filme para ter noção de tamanha grandeza. Desta vez, o blog funciona mais como um bloco de notas do que como qualquer outra coisa. Os mais assíduos sabem que gosto de anotar frases, pensamentos que me chamam a atenção e afins...
Numa cena do documentário, Santiago diz que fazia arranjos de flores como ninguém. E, de um jeito doce e profundo, se compara Michelangelo quando fez a estátua de Davi. "De tão perfeita, o artista disse que só faltava a escultura falar". E Santiago diz sobre seus arranjos de flores: "Eram tão perfeitos, por que não cantavam? Olhava para eles e esperava que cantassem". Aqui pode parecer solto, mas no clima do filme vira uma poesia, carregada do emocionante gestual de Santiago.
Outra: ele cita uma personagem de Dante Alighieri, na "Divina Comédia". Francesca era o nome dela. E diz: "Francesca é personagem de uma das histórias de amor mais lindas que a humanidade conheceu. Mas, nunca ninguém lhe deu muita atenção. Dante foi o único que conseguiu lhe dar um nome, uma voz e um tormento".
Um nome, uma voz e um tormento... E não é disso que todos nós somos feitos?
Assistam.
terça-feira, agosto 28, 2007
Hora do Blush
Genteeeee!!!
Não percam o programa "Hora do Blush", de segunda à sexta, ao vivo, de 17h às 19h, na Paradiso FM (95,7). Eu e Luiza Sarmento falamos de música, trânsito, notícias curiosas e muito mais!
Quem quiser deixar comentário, pode ficar à vontade aqui ou então entrar em www.paradisofm.com.br, clicar em "contato" e mandar um e-mail direto para a rádio! Aliás, o programa pode ser ouvido nesse mesmo endereço.
É isso, então.
Divirtam-se!
Não percam o programa "Hora do Blush", de segunda à sexta, ao vivo, de 17h às 19h, na Paradiso FM (95,7). Eu e Luiza Sarmento falamos de música, trânsito, notícias curiosas e muito mais!
Quem quiser deixar comentário, pode ficar à vontade aqui ou então entrar em www.paradisofm.com.br, clicar em "contato" e mandar um e-mail direto para a rádio! Aliás, o programa pode ser ouvido nesse mesmo endereço.
É isso, então.
Divirtam-se!
segunda-feira, agosto 20, 2007
Fragilidade na China
O cenário era Beijing, na China. Tudo corria bem se não fosse aquele tombo insperado. Um tombo que rendeu àquela mãe uma cirurgia, em plenas férias e do outro lado do mundo. A filha do meio olha em volta e não acha os irmãos, que estão entretidos em meio aos templos e à riqueza da cidade que visitam. Chineses se aglomeram em volta daquela mulher que tem a testa sangrando e o braço quebrado. Mas estava tudo bem momentos atrás... Como pôde tudo mudar numa fração de segundos? A língua falada pela multidão é incompreensível. De repente, como uma miragem, aparece uma jovem prestativa e bem intencionada, que fala um pouco de inglês. Os irmãos chegam, um policial também, as pessoas aglomeradas e curiosas finalmente se afastam e aquela mãe, agora fragilizada e impotente diante daquela situação inusitada segue rumo ao hospital, num carrinho motorizado. O hospital é público, porém pago. E vem a notícia: ela precisa ser operada. Os irmãos pedem auxílio à Embaixada Brasileira em Pequim. Tudo certo. Conseguem a remoção para um hospital particular, um dos melhores da cidade. Ávidos por uma segunda opinião, com esperança de ser algo mais brando, ouvem: ela precisa ser operada em, no máximo, 48 horas. Os três irmãos, do outro lado do mundo, sem mais ninguém da família por perto, têm uma decisão a tomar. Precisam pensar rápido.
Sala de cirurgia, anestesia geral. No corredor, pernas aceleradas para um lado e para o outro. Angústia. Preocupação. Duas horas. Três horas. Mais um pouquinho e ela sai do centro cirúrgico bem, sem dor. Três dias de internação, os ânimos estão mais calmos. Ela passa bem e pode voltar ao quarto de hotel. Ainda falta uma semana para terminar a viagem. Volta antecipada? Nada. A viagem seguiu, muito bem, como se aquela família não tivesse sofrido absolutamente mal algum. O que poderia ter se transformado num caos, nas piores férias de todos os tempos para cada um, foi uma experiência enriquecedora, vivida em conjunto. Um momento de profundo auto-conhecimento, de valorização da vida e de momentos como aqueles.
Foi na China... E isso fez com que a condição de fragilidade de cada um aumentasse muito. Uma fragilidade que nos acorda, que nos faz pensar e, principalmente, nos diz que estamos vivos. Uma fragilidade que segundo Jean Claude-Carrière "é nossa fonte escondida, o motor de toda emoção e de toda beleza. Devemos aceitá-la. Reivindicá-la. Sejamos frágeis, porém flexíveis. E calmos diante do desconhecido".
Sala de cirurgia, anestesia geral. No corredor, pernas aceleradas para um lado e para o outro. Angústia. Preocupação. Duas horas. Três horas. Mais um pouquinho e ela sai do centro cirúrgico bem, sem dor. Três dias de internação, os ânimos estão mais calmos. Ela passa bem e pode voltar ao quarto de hotel. Ainda falta uma semana para terminar a viagem. Volta antecipada? Nada. A viagem seguiu, muito bem, como se aquela família não tivesse sofrido absolutamente mal algum. O que poderia ter se transformado num caos, nas piores férias de todos os tempos para cada um, foi uma experiência enriquecedora, vivida em conjunto. Um momento de profundo auto-conhecimento, de valorização da vida e de momentos como aqueles.
Foi na China... E isso fez com que a condição de fragilidade de cada um aumentasse muito. Uma fragilidade que nos acorda, que nos faz pensar e, principalmente, nos diz que estamos vivos. Uma fragilidade que segundo Jean Claude-Carrière "é nossa fonte escondida, o motor de toda emoção e de toda beleza. Devemos aceitá-la. Reivindicá-la. Sejamos frágeis, porém flexíveis. E calmos diante do desconhecido".
segunda-feira, agosto 13, 2007
O melhor do inverno carioca
Há quem ache que o melhor do inverno carioca é preparar aquele fonduezinho, regado ao vinho chileno que passa o verão inteiro na estante esperando uma ocasião para ser aberto... Ou então pegar um filme na locadora, se esconder debaixo das cobertas e comer uma pipoquinha recém-feita no microondas, aquela com gosto de manteiga... Ou ainda combinar com os amigos de ir no japa da esquina tomar saquê quente... É, minha gente, tudo isso é muito bom, mas eu não resisto e preciso dizer -mesmo que um dos meus quatro leitores assíduos, que nem mais assíduos são se oponham - que o melhor do inverno carioca é a ausência daquelas detestáveis, nojentas e repugnantes criaturas chamadas BARATAS!!!
Não há nada melhor que caminhar, à noite, em meio às pedras portuguesas escuras sem se preocupar se uma praga dessas vai fazer uma cosquinha no seu dedão. Como é bom chegar em casa e não se preocupar se esqueceu a janela aberta. Que maravilha é estacionar o carro na garagem quase sem luz (onde eu moro é assim...) e não ficar paralisada, sem conseguir abrir a porta do carro, com medo que uma delas venha lhe dar as boas-vindas. Clarice Lispector e sua G.H que me perdoem, mas... Gente, é bom demais passar o inverno sem dar pulinhos e gritinhos por causa de um desses abomináveis seres kafkanianos!
Podem me chamar de louca, de fresca, do que quiserem, eu deixo... Eu aceito. Mas é que ontem, ao me dar conta disso, fui invadida por um sentimento ímpar de liberdade, por uma inspiração que jamais se fez presente em meu ser e aí resolvi escrever esse lindo e profundo texto. É por essas e outras que voto pelo eterno friozinho no Rio de Janeiro.
Não há nada melhor que caminhar, à noite, em meio às pedras portuguesas escuras sem se preocupar se uma praga dessas vai fazer uma cosquinha no seu dedão. Como é bom chegar em casa e não se preocupar se esqueceu a janela aberta. Que maravilha é estacionar o carro na garagem quase sem luz (onde eu moro é assim...) e não ficar paralisada, sem conseguir abrir a porta do carro, com medo que uma delas venha lhe dar as boas-vindas. Clarice Lispector e sua G.H que me perdoem, mas... Gente, é bom demais passar o inverno sem dar pulinhos e gritinhos por causa de um desses abomináveis seres kafkanianos!
Podem me chamar de louca, de fresca, do que quiserem, eu deixo... Eu aceito. Mas é que ontem, ao me dar conta disso, fui invadida por um sentimento ímpar de liberdade, por uma inspiração que jamais se fez presente em meu ser e aí resolvi escrever esse lindo e profundo texto. É por essas e outras que voto pelo eterno friozinho no Rio de Janeiro.
terça-feira, agosto 07, 2007
WSPA
Para me redimir do texto abaixo...
Para quem curte animais e quer dizer NÃO aos maus tratos a eles, uma missão: não deixe de assinar a petição pelo bem-estar animal!
É rápido e fácil. Acesse http://www.wspabrasil.org/ e fique por dentro desse lindo projeto!
Para quem curte animais e quer dizer NÃO aos maus tratos a eles, uma missão: não deixe de assinar a petição pelo bem-estar animal!
É rápido e fácil. Acesse http://www.wspabrasil.org/ e fique por dentro desse lindo projeto!
quinta-feira, julho 12, 2007
Que mico...
No consultório psiquiátrico...
Dr. Gerúndio: O que está havendo, Clara, porque estamos com essa carinha, hein?!
Clara: Afoguei meu mico no leite.
Dr. Gerúndio: Não sabia que você estava criando um mico, filha. Sabe que é proibido?!
Clara: Não crio mais. Ele morreu.
Dr. Gerúndio: E isso está mexendo muito com você, não é?! Conte o que houve...
Clara (muito perturbada): Estava assistindo "Law & Order" e, ao mesmo tempo, alimentava Sebastião, meu mico, segurando seu pescoço, fazendo tipo um carinho, sabe...
Dr. Gerúndio: Estou compreendendo...
Clara: Não sei o que houve, acho que me distraí e quando vi, tinha afundado a cabeça dele dentro do leite... Tentei socorrê-lo, fazer respiração boca-a-boca, mas de nada adiantou. Sabe, doutor, estou muito mal, nunca pensei que fosse tirar a vida de um ser humano...
Dr. Gerúndio: Filha, você não fez de propósito e, além do mais, sua relação com esse mico estava causando uma dependência psico-transgênica muito nociva à saúde. E você sabe o que Freud pensa das dependências...
Clara (tirando umas barbinhas que crescem de vez em quando no queixo, fruto da testosterona que seu corpo produz exageradamente): Mas o fato, doutor é que eu e Sebastião nos amávamos e eu tirei a vida da porra do mico. Não consigo me perdoar. Ele ficará para sempre em meu coração.
Dr. Gerúndio: Então, filha, o importante está sendo essa sua consciência bonita do amor. Sabe (já deixando escapar um choro e também seus sérios problemas neurológicos), tive um carneirinho uma vez... Nas férias, meus pais me deixavam na fazenda e me pagavam quando as aulas iam recomeçar. Ficávamos eu e o carneirinho. Fui pular a cerca, ele veio atrás de mim...
Clara: E...
Dr. Gerúndio: A cerca era elétrica e o carneirinho foi eletrocutado ali, na minha frente. Eu não podia fazer nada... Ele padeceu em meus braços (agora ele perde o controle de vez e chora copiosamente).
Clara: Doutor, não sei o que dizer... Que bom que o senhor me entende, então. Mas, já está na minha hora, vou indo... Combinei com o pessoal da igreja de ver "Transformers" no cinema... Além do mais, está um dia lindo. Um sorvete de manga cairia muito bem... Depois o senhor precisa me contar daquela viagem que fez ao Congo... Era para estudar o que mesmo? (ela vai saindo sorrateiramente e suas palavras vão ficando cada vez mais baixas)
Fade out.
Dr. Gerúndio: O que está havendo, Clara, porque estamos com essa carinha, hein?!
Clara: Afoguei meu mico no leite.
Dr. Gerúndio: Não sabia que você estava criando um mico, filha. Sabe que é proibido?!
Clara: Não crio mais. Ele morreu.
Dr. Gerúndio: E isso está mexendo muito com você, não é?! Conte o que houve...
Clara (muito perturbada): Estava assistindo "Law & Order" e, ao mesmo tempo, alimentava Sebastião, meu mico, segurando seu pescoço, fazendo tipo um carinho, sabe...
Dr. Gerúndio: Estou compreendendo...
Clara: Não sei o que houve, acho que me distraí e quando vi, tinha afundado a cabeça dele dentro do leite... Tentei socorrê-lo, fazer respiração boca-a-boca, mas de nada adiantou. Sabe, doutor, estou muito mal, nunca pensei que fosse tirar a vida de um ser humano...
Dr. Gerúndio: Filha, você não fez de propósito e, além do mais, sua relação com esse mico estava causando uma dependência psico-transgênica muito nociva à saúde. E você sabe o que Freud pensa das dependências...
Clara (tirando umas barbinhas que crescem de vez em quando no queixo, fruto da testosterona que seu corpo produz exageradamente): Mas o fato, doutor é que eu e Sebastião nos amávamos e eu tirei a vida da porra do mico. Não consigo me perdoar. Ele ficará para sempre em meu coração.
Dr. Gerúndio: Então, filha, o importante está sendo essa sua consciência bonita do amor. Sabe (já deixando escapar um choro e também seus sérios problemas neurológicos), tive um carneirinho uma vez... Nas férias, meus pais me deixavam na fazenda e me pagavam quando as aulas iam recomeçar. Ficávamos eu e o carneirinho. Fui pular a cerca, ele veio atrás de mim...
Clara: E...
Dr. Gerúndio: A cerca era elétrica e o carneirinho foi eletrocutado ali, na minha frente. Eu não podia fazer nada... Ele padeceu em meus braços (agora ele perde o controle de vez e chora copiosamente).
Clara: Doutor, não sei o que dizer... Que bom que o senhor me entende, então. Mas, já está na minha hora, vou indo... Combinei com o pessoal da igreja de ver "Transformers" no cinema... Além do mais, está um dia lindo. Um sorvete de manga cairia muito bem... Depois o senhor precisa me contar daquela viagem que fez ao Congo... Era para estudar o que mesmo? (ela vai saindo sorrateiramente e suas palavras vão ficando cada vez mais baixas)
Fade out.
O casal...
Lá fora ouço o toc, toc, toc da obra que não acaba... Aqui dentro o ambiente se faz acolhedor, friozinho gostoso, vinho tinto acompanha. No alto da estante me deparo com dois bonequinhos de biscuit, um casal de velhinhos, presente da minha mãe. Disse ela representar eu e maridão num futuro distante. A senhorinha é muito linda, tem um coque todo arrumadinho e faz tricot. Já ele carrega sobre o nariz uns óculos pesados e lê algo que minha imaginação diz que leva capa de couro. Tenho trabalhado muito, sempre olhando para esse casal. E olhar para eles tem me feito pensar em tantas coisas que, para a tristeza de meus quatro leitores assíduos, não vou listar por aqui...
Frases
"Simplicidade é algo que se alcança". Essa eu ouvi do meu sábio sogrão e não me saiu da cabeça...
"O que não é legítimo não dura". Essa veio da minha professora de canto, um doce e muito sábia também.
"O que não é legítimo não dura". Essa veio da minha professora de canto, um doce e muito sábia também.
sexta-feira, junho 29, 2007
Amélia
Meu nome é Amélia e eu não tenho a menor vaidade. Bem, faço as unhas dos pés às sextas e quando alguém vai pro estrangeiro, peço sempre uma bolsinha ou um creminho Victória Secrets, se é que se pode chamar isso de vaidade em meio a tantas outras coisas que aconteceram na minha vida. Cresci no subúrbio carioca, mais precisamente em Belford Roxo, e com apenas 12 anos comecei a trabalhar com minha mãe na casa de uma patroa bacana, naquele bairro de nome cheio de pompa, "Itaiangá", onde moram as pessoas que a galera lá da minha vizinhança chama de "novurixi". Apartamento chique, precisava ver. Louça de cristal e tal. Tv de plasma, cremes importados, tudo do bom e do melhor. E foi com muito trabalho que cheguei onde cheguei. Sou do subúrbio, mas sou bonitinha mesmo, tá?! Olha o preconceito! E minha carinha de anjo e minhas curvas bem feitas (bem feitas até demais) acabaram me levando para uma vida melhorzinha, sabe. Foi quando eu fiz 22 anos que vi um anúncio lá na parede da universidade que fazia parte do meu caminho de trabalho. "Teste para apresentadora". Peguei todos os dados e me inscrevi. Noites antes treinei textos de jornal velho em frente ao espelho, segurando o microfone, que era a minha escova cheia de cabelos sujos. Cheguei no teste, cheio de moçoila de chapa no cabelo, batom da última, roupinha da loja do momento. Pensei: fodeu. É, foi isso mesmo que pensei. Mas, já que estava na chuva era pra me molhar. Fiz o teste e (vou parar de enrolar) passei. Virei apresentadora de TV de um dia pro outro. E o pior é que nem de um trato eu precisava, de tão bonitinha, de pele lisinha, olhos azuis, cheirosinha mesmo... Mudei, fui morar na Zona Sul, comecei a ter amigos da TV, pessoal influente, da hora. Estudei, passei a escrever também, tenho site na internet, colaboro para uma revista boazinha mesmo chamada "M.", faço um risoto delicioso para meu marido Renan, um alto executivo de multinacional e... estou de saco cheio. De saco cheio dessa vida de aparências, de gente que te chama pra fazer trabalho e não te paga, de gente que não combina as coisas direito, de anti-profissionalismo, de gordos, de magros, de bonitos, de feios, de vamos, não vamos, vamos, não vai mais... Dos escândalos políticos, da violência (não consigo voltar mais ao meu bairro... agora os ômi tudo invadiram lá e não deixam estranho entrar, eu virei estranha em Belford!), enfim, não tem mais espaço nenhum no meu saco. Cadê o mérito, minha gente? Cadê o respeito? Cadê os hospitais públicos? E as moscas do IML, que tanto ficaram íntimas de mim num determinado momento da vida, cadê? Estão lá, no mesmo lugar. Cadê o pobre, cadê o rico? Esses eu consigo ver bem divididos pelo Apartheid diário que se dá na nossa cara. Aí, eu pergunto: adiantou melhorar de vida? Ai... Tô cansada. Sabe, às vezes me dá vontade de voltar lá no tempo da minha infância em Belford, onde eu ainda não era uma mulher esclarecida, não tinha conquistado independência, estudo e tudo mais. Quando eu subia em árvores, não escutava tantos tiros, a vida tinha mais importância... Às vezes me dá vontade de ter permanecido burra. Pra não entender e não perceber certas coisas. Às vezes acho que aquela Amélia é que era a mulher de verdade.
Amélia vai até a cozinha de seu apartamento na Gávea pegar um suco...
Pensamento: Ai, mas que texto pessimista, meu Jesus... Será que deprimi e não percebi, gente? Bom, deixa eu ir, que tá na hora da minha drenagem linf... Ops!
Obs: esse texto tem inspiração em personagens da vida real...
Amélia vai até a cozinha de seu apartamento na Gávea pegar um suco...
Pensamento: Ai, mas que texto pessimista, meu Jesus... Será que deprimi e não percebi, gente? Bom, deixa eu ir, que tá na hora da minha drenagem linf... Ops!
Obs: esse texto tem inspiração em personagens da vida real...
sexta-feira, junho 22, 2007
A baiana e o suiço
Ela: morena, do sotaque baiano arretado. Ele: mais suiço impossível. Os dois: uns doces de pessoas. Seus nomes? Não faço a mais vaga idéia... Nosso papo? Exatamente a duração não vou saber, mas nada que tenha ultrapassado 20 minutos. Sentaram ao meu lado num restaurante barulhento. Ela pediu licença e ele me desejou bom apetite deixando claro, na primeira sílaba, sua ascendência estrangeira. Começamos a conversar. Casaram-se não sei há quanto tempo, mas o fato é que moraram um pouco na terra dele, a Suiça, e agora resolveram se mudar para a terra dela, o Brasil. E foi na hora em que tomaram tal decisão que as coisas começaram a dar errado, claro. Welcome to Brazil! Minha amiga soteropolitana estava quase sem ar, pois já tinha passado por todos os locais que prestam serviços de passaporte no Rio, e não havia conseguido resultado algum. Amigos, essa senhora e seu marido compraram uma passagem para visitar familiares na Suiça e, provavelmente, não vão conseguir embarcar, sendo que ele nasceu lá e ela é cidadã européia. Ela precisa tirar um passaporte brasileiro, mas não consegue, a burocracia é mais forte do que tudo. Sua passagem está marcada para o dia 18 de junho, mas a pessoa lá de dentro do guichê diz: "Sinto muito senhora, volte aqui em 90 dias". N-O-V-E-N-T-A D-I-A-S "Foi mais fácil tirar o documento suiço", disse a baiana. E ninguém duvida disso... Conversa vai, conversa vem, o casal foi se acalmando, dizendo que existem coisas boas aqui no Brasil, mas que dá vontade de ir embora quando o país começa a mostrar a cara de fato. Pois é... Não soube nem o que dizer. Ficar criticando ou defendendo Brasil seria uma boa? Dizer que poderia tentar ajudá-los de alguma forma (De que forma? Não tenho nenhum tio influente nessa área...)? Bom, a única coisa que posso afirmar com "catiguria" é que o bacalhau que comia estava divino e que sentar sozinha num restaurante faz você realizar que nessa vida louca que vivemos ainda existem encontros como esse, em que simples desconhecidos discutem, sem compromisso, as alegrias e mazelas da vida.
segunda-feira, junho 18, 2007
Dona Cicia
Suas mãos não mentem... Deram muito duro na vida. Cada ruga em seu rosto é dona de uma história diferente, que faz a gente parar, prestar atenção e se emocionar. Sua prosa deixa claro: os estudos passaram longe. Mas, quem disse que precisa de estudo para ter opinião, criticar, saber o que quer? Lá no alto de uma rua que não sei o nome, sento num sofá surrado e confortável, admiro uma parede feita de mosaicos, onde cada pedacinho de ladrilho forma a imagem de Jesus Cristo. Degusto um delicioso doce de chique-chique feito pelas mesmas mãos que não se cansam de trabalhar e ouço histórias de tempos que não vivi, sobre uma realidade distante muitos quilômetros da minha. Que mulher é essa que constrói a própria casa, perde o marido cedo e trabalha para sustentar seis filhos, faz doce, cria lindas figuras em mosaico, cozinha, participa de longa-metragem do Guel Arraes, dança quadrilha e está sempre pronta para a próxima? Que mulher é essa que faz a gente olhar pra dentro e ver que a felicidade está mesmo nas pequenas coisas, como já diz o nosso conhecido clichê? Que mulher é essa que olha no olho, convida pra sentar, canta músicas do Rei, chora, ri e, por fim, diz "volte sempre"? Que mulher é essa? Na minha terra, foi-se o tempo em que essa mulher deu o ar de sua graça...
segunda-feira, junho 11, 2007
Choveu!
Desta vez choveu na cidade mais seca do Brasil. Chuva fina, de nuvens em constante movimento. O mesmo cheiro, o mesmo ar... Povo acolhedor, que fica amigo num piscar de olhos. Sair da cidade grande por alguns dias deveria ser obrigação para qualquer um de nós. Olhar no olho, levar uma prosa sem hora para terminar, andar sem pressa, dormir em cama frágil, comer comidas duvidosas e saborosas... Por que não se dar o direito de cruzar com a simplicidade de Dona Cicia; com o humor de Gilzane, com a doçura de Sandrely - mais conhecida como Bel (?) - e tomar um delicioso xixi de cabrita?! Voltar para o anonimato da cidade grande chega a dar angústia. Descer desse bonde de vez em quando é necessário e muito saúdável. Que eu continue me permitindo tal movimento. E que aqueles que não o fazem comecem a se perceber como apenas uma fração de gente nesse vasto universo que é a vida!
quinta-feira, maio 31, 2007
Junta tudo e... joga fora
"Mas o que ela gosta é de namorados descartáveis... Do tipo one way, do tipo one way, do tipo one way..." Que ser humano na faixa dos trinta não lembra desse sucesso do "Ciclone"? Pois o refrão me veio à cabeça não por causa dos "namorados", mas sim pela palavra "descartável"...
É que nos últimos tempos tenho pensado muito sobre a nossa condição atual de seres descartáveis. Ou será que sempre fomos? Afinal de contas, nos meus anos de colégio (isso já faz um certo tempo...), eu já era um número na chamada. Um número que aprendia, falava, lia, tinha vida... Mas, um número. E hoje, o que somos? Algo diferente disso? Não. Somos números diante da boa ou da má voltade alheia. Números rentáveis ou números que levam à falência. E o mais curioso é que essa condição muda num passe de mágica... Assim como um ciclone que invade uma cidade qualquer e castiga sua desavisada população...
É que nos últimos tempos tenho pensado muito sobre a nossa condição atual de seres descartáveis. Ou será que sempre fomos? Afinal de contas, nos meus anos de colégio (isso já faz um certo tempo...), eu já era um número na chamada. Um número que aprendia, falava, lia, tinha vida... Mas, um número. E hoje, o que somos? Algo diferente disso? Não. Somos números diante da boa ou da má voltade alheia. Números rentáveis ou números que levam à falência. E o mais curioso é que essa condição muda num passe de mágica... Assim como um ciclone que invade uma cidade qualquer e castiga sua desavisada população...
domingo, maio 27, 2007
Um novo tempo...
Calma, calma... Digo isso aos meus 3 leitores assíduos. Essa não é a minha volta definitiva, mas é que me deu uma vontade de vir aqui... Deve ter sido meu papo com Bonora e com Tia Sonia, em que descobri que toda semana elas passam aqui e dão com a cara na porta. Não prometo voltar em breve, ando sentindo muito sono nas horas em que mais rendo, mas vamos lá...
A menina entrou naquele ambiente novo, como um bebê que chega ao mundo todo errado, de cabeça pra baixo, espiando por um buraquinho as mãos aflitas de um cara vestido todo de verde meleca. Conheceu gente nova, palavras novas, palavrões novos (e como!), sotaques familiares e... gostou.
Lembrou do avô. Ah! Como ele deve estar feliz onde quer que esteja... Conversou, deu idéias, ouviu muito. Observou, sentiu-se um peixe fora d´água e ao mesmo tempo dona de si, inteira. Há muito tempo não se sentia assim. E, no fim de uma semana importante, sentiu que pode ser que se inicie um novo tempo, sem comidas amargas, banho de água fria, língua raspando na madeira do palito do picolé e "otras cositas más"... É, pode ser.
A menina entrou naquele ambiente novo, como um bebê que chega ao mundo todo errado, de cabeça pra baixo, espiando por um buraquinho as mãos aflitas de um cara vestido todo de verde meleca. Conheceu gente nova, palavras novas, palavrões novos (e como!), sotaques familiares e... gostou.
Lembrou do avô. Ah! Como ele deve estar feliz onde quer que esteja... Conversou, deu idéias, ouviu muito. Observou, sentiu-se um peixe fora d´água e ao mesmo tempo dona de si, inteira. Há muito tempo não se sentia assim. E, no fim de uma semana importante, sentiu que pode ser que se inicie um novo tempo, sem comidas amargas, banho de água fria, língua raspando na madeira do palito do picolé e "otras cositas más"... É, pode ser.
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