sexta-feira, dezembro 23, 2005

Zorba, o Grego

"A vida é procurar encrencas, só a morte é sossego".

terça-feira, dezembro 20, 2005

Sentido?!

Sabe aqueles dias em que nada faz sentido? Hoje tá brabo...

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Pérola

De uma amiga, cuja mente é também inquieta... Via torpedo.

"Devia ter feito veterinária. Não existe bicho mais traiçoeiro que o homem".

segunda-feira, novembro 07, 2005

Vai um Doritos aí?

Chegou mais cedo do trabalho depois de um dia desanimador...

Aproveitou para ir ao supermercado e fazer de sua geladeira um eletrodoméstico mais feliz...

Chegou, rodou, olhou, cheirou, tocou, escolheu os produtos, entrou na fila para passar o cartão...

Em sua mente inquieta misturavam-se muitas informações, conclusões, surpresas, convicções, lições, certezas, dúvidas, interrogações, indecisões...

Pensou, não achou a saída...

Sentiu, não achou a saída...

Saída para onde? De onde queria sair?

Pensou no pai, pensou na mãe, pensou no amor...

Pensou em Saramago, pensou na noite anterior, pensou na Cuca...

Pensou nos desejos, nas realizações...

Como é bom saber que tem tudo isso!

Mas, também pensou na morena traíra, que se lamenta através da escrita, na amiga loura, que acabava de ser assaltada, no casal que casou, mas não casou, no gigante amado, que colocava todas as energias na Bahia, na família que não era a sua, nas febres, nas aves, nos carrapatos, nas favelas, nos colegas de trabalho...

Até que percebeu que olhava fixamente para um pacote de Doritos...

E realizou que, naquele momento, o que lhe fazia realmente bem era a lembrança do gosto artificial dos biscoitinhos triangulares, tantas vezes servidos em reuniões, no apartamento da Gávea...

sexta-feira, novembro 04, 2005

Um amor...

Delicado
Companheiro
Amigo
Compreensivo
Amante
Generoso
e...
em sintonia com a vida!

Em tempos tão complexos, é lindo descobrir que isso é possível...

Musclis!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, novembro 01, 2005

Aos amantes da mente inquieta de José Saramago:

Leiam "As Intermitências da Morte", sua mais recente publicação no Brasil.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Quem avisa, amigo é

Outro dia, ouvi de uma amiga cascuda no meio do jornalismo: "Você escolheu um caminho profissional muito árduo para seguir, onde vencer por mérito é quase impossível".

Well, well... Pensei nessa frase durante semanas e só me toquei que A.P havia sido muito franca e realista hoje, quando a mente inquieta entrou em erupção num quarto de hotel, na minha querida e agitada São Paulo.

Enquanto me arrumava para fazer uma entrevista com um dos fotógrafos de moda mais importantes do Brasil, liguei a TV. Às vezes faço isso: ligo a TV só para ficar ouvindo um barulho enquanto me apronto. É uma forma de não me sentir tão sozinha... Será? Pensei nisso agora. Pode ser... Pode não ser também, já que adoro ficar sozinha, no meu canto. Enfim, tomei banho, sequei as madeixas ruivas, fiz a maquiagem e enquanto tudo isso acontecia, realizei que, sem querer, deixei num canal onde passava o programa de um tal Leão Lobo. Fiquei tão irritada com aquele ser humano que troquei o canal. Quando, de repente, me aparece a Olga Bongio... Sei lá como se escreve o sobrenome dela. Uma Ana Maria Braga de outro canal. Mais abobrinhas. Troquei de novo: Monique Evans perguntava a Ivete Sangalo como era o novo namorado da cantora. Eu só queria presentear meus ouvidos com algo interessante e, naquele momento, não era do meu interesse ouvir as desgraças do mundo num noticiário qualquer. Amigos, sinto dizer, mas foi impossível! Tenho medo. Muito medo. Eram 8h45, horário em que crianças vêem TV e a programação é nada menos que bizarra!!!

Aí, volto a minha querida amiga A.P, aquela que me falou, sutilmente, para desistir. Será que está na hora de pular fora, de virar dona de pousada, de abrir uma loja de produtos naturais, uma academia de yoga?! Não sei... Ainda tenho esperanças, mesmo depois dessa avalanche de coisa ruim logo de manhã. Estou muito nova, apesar da proximidade dos 30, para desistir. Deixa isso pra mais tarde.

É isso, queridos leitores. Estava sumida, foragida, seja lá o que for... Mas, cá estou eu de volta. Fico por aqui, curtindo os ares da insone São Paulo e finalizo com a seguinte pérola: ontem, antes de tudo isso acontecer, quando cheguei exausta ao hotel, cometi o erro de ligar a TV, só para dar aquele soninho gostoso e adormecer. Parei no "Saia Justa", do GNT. Pensei: até que enfim, mulheres interessantes, com idéias inteligentes. Engano meu. Foram 3 ou 4 blocos seguidos sobre cabelos!!! Patético!!! Não deu. Apaguei as luzes e o resto vocês já sabem...

quarta-feira, outubro 12, 2005

Repouso para os dedos

A Mente Inquieta pede licença e tira uns dias de férias do blog. Mas, logo, logo ela volta cheia de inspiração!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Posso me aposentar!



Queridos fãs e amigos, comunico a todos que já posso me aposentar. Sabe, vida de repórter é muito sacrificada e, depois da entrevista que fiz ontem, decidi que já estou pronta pra parar...

BRINCADEIRINHA! Mas, é que tive o prazer de entrevistar uma das pessoas (se não "a pessoa", "the one") que mais admiro no vasto universo cinematográfico mundial: o ator Ralph Fiennes. Acompanho a carreira deste moço tímido, de olhos azuis, que quase sempre encarna personagens profundos e densos, há muito tempo. Desde seu sucesso em "O Paciente Inglês", passando por "Fim de Caso", "Dragão Vermelho", "Spider", "Sunshine", até chegar em seu mais recente trabalho em "O Jardineiro Fiel", do brasileiro Fernando Meirelles. Filmaço! A produção conta a história de um diplomata, interpretado por Fiennes que - em decorrência da morte de sua esposa, vivida pela linda e talentosa Rachel Weisz - se vê diante de uma conspiração da indústria farmacêutica ocidental, contra a qual sua mulher lutava na África.

Enfim, voltando a entrevista com meu ídolo... Não sei se vocês sabem o que é um "junket". Pra quem não sabe, "junket" é um tipo de entrevista que a distribuidora do filme organiza no país onde ele está sendo promovido, em que os entrevistados ficam numa pequena sala recebendo jornalistas de 10 em 10 minutos (suuuuuper cronometrados!!!). Aliás, quem quiser saber como realmente funciona esse esquema, não pode perder a matéria que fiz junto com o Fábio Júdice, do Multishow, canal 42, no "Revista Bastidores", nesta segunda, dia 10/10, às 23h45.

Primeiro entrevistei Fernando Meirelles, com quem já havia estado em Cannes, quando do lançamento de "Cidade de Deus", que aliás foi um sucesso, na época, no balneário francês. Fernando, como sempre, muito simpático e aberto a todos os tipos de perguntas. Um cara guerreiro, que colocou todo o seu talento e sua emoção neste projeto, e assina uma direção de quem entende mesmo do que faz.

Depois, chegou a vez de encontrar com Mr. Fiennes. Segundos antes, não estava acreditando que apertaria a mão do sujeito. E olha que nunca tenho esses ataques de fã, hein... Mas era ele, Ralph Fiennes, em carne e osso, que apareceu na minha frente e disse bem baixinho: "Hi". Eu já havia sentada na cadeira e me levantei ao perceber sua presença. Nossas mãos não se encaixaram no cumprimento, o que nos fez repetí-lo e daí surgiu o primeiro sorriso, ainda tímido, naquele rosto que se transforma a cada personagem. Enfim, depois de um "I´m ready" por parte dos dois, a entrevista começou. Fiennes é realmente tímido e guarda um mistério no olhar. Mistério esse que fica nítido a cada mergulho do ator, a cada palavra pronunciada. Ou seja, seu mistério existe na realidade e na ficção. Sua fala é baixinha e, ao responder uma pergunta, parece refletir profundamente sobre ela para, em seguida, expor calmamente seus pensamentos.

Nada do que aconteceu naquela pequena sala, em que nos encontramos cara a cara, como nunca havia imaginado - e olha que já estive cara a cara com Martin Scorscese, Sandra Bullock, Cameron Diaz, Whoopi Goldberg, Leonardo Di Caprio, Hugh Jackman, Will Smith, Woody Allen, Jack Nicholson e muitos outros da turminha de Hollywood - foi inesperado. Raph Fiennes não me surpreendeu. E nunca tive uma sensação tão boa por não ter me surpreendido positivamente com alguém. No caso dele, preferia que tivesse sido exatamente como foi. De acordo com todas as minhas expectativas. A idéia que fazia de Fiennes se confirmou e aqueles dez minutinhos pareceram 30 segundos.

Devo confessar que o dia segiu bem, com uma gripe que custa a me deixar, mas com uma sensação muito boa não só por ter estado com alguém especial, como também por ter falado de assuntos que realmente me interessam, com pessoas inteligentes, preocupadas em transformar o mundo, a realidade. Ah! E com profundidade, algo cada vez mais escasso no mundo de hoje.

Viva Mr. Fiennes e viva mais ainda Fernando Meirelles, por ter acertado em cheio ao abraçar este projeto. Ah! E viva a mente inquieta, que conseguiu convencer a chefe de que tais entrevistas deveriam ser feitas custasse o que custasse!

segunda-feira, outubro 03, 2005

Manderlay - Lars Von Trier

Diz uma coisa: como é que um sujeito pode fazer uma obra-prima sem tomadas externas, quase que o tempo inteiro na penumbra, com pouquíssimas variações de ambiente? E a gente aqui tentando fazer cinema de qualidade...


quarta-feira, setembro 21, 2005

Vai ou não vai pro xilindró?

Hoje, ao ler o jornal, uma notícia me fez voltar no tempo e lembrar de uma passagem curiosa da minha vida.

Sabe aquelas coisas que você faz e que, anos depois, lembra dizendo: "O que é que eu estava fazendo lá?!" Pois bem, na página 9, da sessão "O País", do Jornal "O Globo" de hoje, temos a seguinte manchete: "Daniel Dantas ganha direito ao silêncio na CPI". Se você não sabe quem é Daniel Dantas e com qual escândalo está envolvido, não sinta-se mal. Hoje em dia fica difícil acompanhar tanta picaretagem, com tantas novelas e tantos personagens. Vamos lá: Daniel Dantas é o presidente do Grupo Opportunity e "é suspeito de utilizar suas empresas para fazer depósitos bancários nas contas das agências DNA e SMP&B, de Marcos Valério".

A notícia diz que "ele obteve no STF um habeas-corpus que lhe dá o direito de permanecer calado diante das perguntas feitas pelos parlamentares da CPI dos Correios, à qual deverá prestar depoimento hoje". E mais: "A decisão do STF também livra o banqueiro de ser preso se ficar em silêncio". Ou seja... Não preciso perder aqui meu precioso tempo com este "ou seja", né?!

O fato é: o que li me fez lembrar de uma entrevista para estágio que fiz no Banco Opportunity há mais ou menos 10 anos. Aqueles que me conhecem bem vão perguntar, de cara: "Você procurando um estágio em banco?" Pois é, meu amigos, um dia eu passei por isso. Novinha, fazendo ainda publicidade e querendo ser marketeira, pode?!

A cena: entro numa sala com cerca de 15 pessoas, todas em silêncio, paradas, olhando para a minha cara. "Bom dia", digo eu. E ouço poucos "bom dia" do outro lado da mesa. Sim, porque as 15 pessoas estavam de um lado da mesa e a minha cadeirinha, sozinha, do lado oposto. A partir disso, começa uma entrevista surreal, com perguntas descabidas que nada avaliavam meu perfil profissional, mas sim outras características minhas que não determinariam se eu seria boa ou não para o cargo. Uma entrevista incompetente, feita por pessoas ignorantes, eu diria. Fui colocada contra a parede para ver se era forte o suficiente para agüentar o tranco; se eu seria mais uma heroína mal alimentada, mal amada e insone do mercado financeiro. Não fui tão forte assim, graças a Deus! Não resisti às garras daquela gente detestável. Num determinado momento, pedi para ir embora porque aquilo nada tinha a ver comigo, com meus valores, com a minha educação. E parti livre, leve e solta.

Hoje, vemos aí o dono da parafernalha toda tendo que pedir habeas-corpus para ficar calado. Que surpresa: finalmente, uma atitude inteligente. Se há muito tempo o homem já treinava sua equipe para falar todas aquelas abobrinhas, imagina como seu vocabulário e suas frases de efeito devem estar aprimoradas hoje em dia... Nesse caso, ficar calado deve ser mesmo a melhor opção para não ir direto pro xilindró!

terça-feira, setembro 20, 2005

Sorte Minha

Simples, porém impossível de passar despercebida. Assim definiria a canção “Sorte Minha”, de Léo Saramago. Sabe aquele tipo de música que, sem a gente notar, vai ficando na cabeça e, de repente, já estamos cantando toda a letra? Pois é assim mesmo.

“Sorte Minha” é uma mistura de bossa-nova, samba e eletrônico, lembrando o estilo inconfundível de Fernanda Porto. Na letra, Léo propõe um exercício de criatividade e imaginação para quem ouve sua música. Fala dos efeitos que uma determinada visão provocou no tempo e nele mesmo. Mas, não revela o que viu. E diz: “Quem não viu, não verá”.

Quem quiser conferir e conhecer um pouco mais da carreira do artista, pode entrar em www.leosaramago.com.br.
. Léo também é responsável por toda a concepção e construção do site, onde estão disponibilizados o conteúdo de todos os seus álbuns, fotos de shows e o clipe da música “Pedido ao Vento”.

Sorte a minha de ter topado com esse artista de mil e uma facetas. E, podem esperar, porque quem não viu, um dia ainda verá todo o talento de Léo Saramago.

A felicidade está logo ali, ó

Olha, vou te falar, produzir um almoço de domingo para os amigos não é mole não...

O casal acordou 12h e resolveu prestigiar algumas pessoas queridas com um almoço (comprado pronto, claro, já que os dois usam a cozinha para todos os fins possíveis, menos para cozinhar), previsto para começar às 13h30.

Depois do tour por 3 mercados cariocas, voltam eles pra casa (isso já eram umas 14h), para lavar a louça do dia anterior e começar a arrumar os quitutes (sim, o casal comprou saborosos quitutes para servir antes do almoço, caso tivesse calculado mal a quantidade de comida - aquele velho truque: enche o pessoal de torradinhas com patê e ovinhos de amendoim, que é certo de todo mundo ficar no primeiro prato).

Bom, os primeiros convidados chegaram em meio à confusão: preparação dos petiscos, arrumação da casa, leva a almofada pra lá, pega o jornal aqui e coloca ali, tira a cueca do banheiro, esconde os dadinhos pornográficos... Um deles, de repente, senta em algo estranho e grita: "Ui, tem arroz aqui!" É, a anfitriã havia esquecido o arroz em cima do sofá. Faz parte.

Tudo pronto, todos em casa, espalhados pelo chão, ouvindo "Beatles", conversando, matando as saudades, enquanto a chuva caía lá fora. O que é um estrogonoff de frango pálido, meio sem sal, com arroz "que alguém sentou em cima" e batatas palhas de saco, perto dessa cena? Hoje, conseguir reunir os amigos é uma vitória! Todo mundo cheio de compromissos, trabalhos, viagens, etc... Ê, mundo moderno! Foi uma tarde agradável, em que a felicidade era evidente para cada um. Sorvete: a sobremesa trazida por um casal de bom senso. Tinha de doce de leite, coco, chocolate alpino e creme. Quase acabou. Para vocês verem o sucesso que foi o prato principal...

Lá pelas tantas, depois que o pessoal foi embora, chegou o momento dos anfitriões lavarem a louça (muita louça) e colocarem tudo em seus devidos lugares. E ela, que sempre detestou arrumações, estava adorando aquilo tudo. O dia acabou com uma sessão de "O Iluminado", regada aos restos do almoço (eles preferiram comer os petiscos...). Depois, mergulharam num soninho bom. Melhor ainda porque deitaram com um largo sorriso no rosto. Um sorriso que comemorava o primeiro evento produzido em conjunto e a existência de um na vida do outro. É tão simples ser feliz...

quarta-feira, setembro 14, 2005

Bichos Escrotos


"Bichos, saiam dos lixos
Baratas, me deixem ver suas patas
Ratos, entrem nos sapatos
Dos cidadãos civilizados
Pulgas, que habitam minhas rugas
Oncinha pintada, zebrinha listrada, coelhinho peludo
Vão se foder!
Porque aqui na face da terra só bicho escroto é que vai ter!
Bichos Escrotos saiam dos esgotos, bichos escrotos venham enfeitar
Meu lar, meu jantar, meu nobre paladar..."

Outro dia, voltando do trabalho, veio das profundezas do meu inconsciente a canção aparentemente idiota, provavelmente composta depois de um longo consumo da erva,"Bichos Escrotos", do "Titãs". Parei para pensar no porquê de, justamente, essa música ter invadido minha mente inquieta numa tarde chuvosa, quando estava a bordo de minha viatura, cuja cor leva o nome de "Lúcifer". Ui, que "meda"!

Quem anda muito de carro, sabe que os insuportáveis trânsitos cariocas podem servir como um atalho pro Nirvana. É nessas horas que consigo tirar o pé do acelerador - no sentido real e figurado - e me distanciar da realidade. É nessas horas também que faço descobertas incríveis, inclusive que meu carro precisa urgente de um banho. Tem pelo de cachorro, vaga-certa dos últimos quinze dias, lata de coca-light amassada (com canudo), caixinha de óculos (sem os óculos), "Segundo Caderno" do mês passado... Ufa! Mas, nada disso atrapalha minha meditação ao som repetitivo de buzinas e afins.

Bom, voltando aos bichos escrotos... Depois de umas duas horas pensando em como aquele raio de música havia invadido meus aposentos cerebrais, cheguei a uma conclusão que fez sentido - pelo menos naquela hora e pra mim.

É que venho trombando bastante, nos últimos tempos, com bichos escrotos. É como se eles saíssem de seus esconderijos e se revelassem pra mim. Venho percebendo como estamos cercados, cada vez mais, de personagens de contos de terror. Edgar Allan Poe é fichinha pras nossas histórias. Digo "nossas" porque, com certeza, a minha história é a sua e a sua é a minha.

Organizo em tópicos para melhor entendimento de meu público assíduo de cinco leitores:

1 - Abrir o jornal às 7h30, antes de começar o dia lá fora, é um convite à depressão. Pergunta aí se os psiquiatras não estão ganhando mais dinheiro?

2 - Os valores estão completamente mudados ou é impressão minha? Hoje (tudo bem que isso já existe desde o "Homem de Neanderthal", mas agora tá demais "de la cuenta"...) a moda é, segura aí:

3 - Roubar muuuuuuuuiiiiiito (quem rouba pouco é mulher do padre), mentir deslavadamente (quem mente pouco fica com a mão amarela) - isso, no governo. Depois temos:

4 - Ser amigo da pessoa certa, por interesse, para poder subir no mercado de trabalho;

5 - Não reconhecer ninguém por mérito, mas sim porque tem dinheiro, é filho (a) do fulano (a), namorado (a) do ciclano (a), é gostoso (a), faz uns programinhas;

6 - Ah! Temos muitas mulheres casadas, juntadas, encoleiradas, whatever, paquerando descaradamente o namorado, marido das outras;

7 - Homens jogando charminho pra ver se fisgam a mulher do companheiro ali que olhou para o lado;

Posso estar parecendo moralista, com esses tópicos. Mas, não é isso, não. Em todos eles, há um ponto em comum: falo de "falta de respeito". E parece que todo mundo está fazendo um cursinho entitulado: "Como respeitar cada vez menos o próximo?". O problema é geral, a falta de respeito está em todos os cantos. Do mundo!!! Ei, alôou! Diante de nós circulam seres humanos, pessoas de carne, osso e espírito. Gente que tem sentimentos. Que tal revermos os nossos conceitos (como já diz a propaganda)?

8 - Ai, ai... Tô ficando cansada e sem saco de continuar. Mas a lista de atitudes que levam o ser humano a atingir sua condição mais fake é infinita. Ficaria aqui dias e mais dias escrevendo sem parar.

Lembra daquela brincadeira do programa do Sílvio Santos - Domingo no Parque - em que um jovenzinho sentava numa cadeira, que ficava dentro de uma espécie de cabine, colocava um fone no ouvido e lá de fora o Sílvio perguntava: "Você troca um apartamento na Av. Paulista por uma bola furada?" E a vítima respondia: "Siiiiimmm!" ou "Nããããooo!"? Então, às vezes sinto como se estivesse sentada nessa mesma cadeira, respondendo a perguntas parecidas, só que tendo que escolher entre uma opção pior que a outra: "Você troca uma bala perdida por um assalto à mão armada?", "Você troca uma viagem ao Iraque por uma outra à New Orleans?", "Você troca Roberto Jefferson por Severino Cavalcante?", "Você troca Bush por Bin?".

Ora, francamente, desculpem o meu pessismismo - não costumo ser assim, quem me conhece sabe que sou muito otimista e nada amarga- mas esse mundo e seus habitantes estão passando dos limites e, de vez em quando, alguém tem que gritar! Chegou a minha vez: Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!

Entenderam agora a razão pela qual minha mente resgatou das trevas os "bichos escrotos", né? E o pior é que os "bichos escrotos" externos acordam os internos, pois diante de tudo isso despertam aqui dentro a raiva, a vontade de explodir o Congresso, de colocar pra fora toda a pena que sinto de seres humanos fracos, que precisam partir para a ignorância pra vencer na vida. Chega. Vou gritar de novo: Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!

Pronto, tô ótima. Agora, vou ao cinema com o meu amor, meu achado, minha luz. A gente adora escapar da realidade numa sala escura qualquer... Depois, a gente volta pra ela prontos para encarar todos os monstros do dia-a-dia. Falando assim, parece até que só vejo o lado negativo das coisas. Vejo não. Tem muita coisa boa por aí. Só temo que elas se percam...

segunda-feira, setembro 12, 2005

Inspiração

Durante um passeio na praia, ela voltou!!! Os dedinhos da princesa estão desconnnnnnttttttrrrrooooollllaaaadddddoooos!

Plutão

Às vezes tenho a nítida impressão de que tomei uma vaca em Plutão e caí aqui na Terra... De cabeça, ainda por cima! Meu namorado veio junto comigo. Ele também não é desse planeta. Definitivamente. Cheers!

Telemarketing

Do irmão de uma amiga...

Trim... trim...

- Alô!

- Boa tarde, senhor, meu nome é Marcos, trabalho na central de relacionamentos TIM, com quem eu falo? (Com sotaque de paulista, claro. Meu amor, não é nada pessoal, hein?! Vc sabe que eu adoro o seu "intâo".)

O operador de telemarketing já esperando aquele fora habitual: "Marcos, agora não dá, tô super atolado, liga mais tarde, blá, blá..."

- Pô, cara, que bom que você ligou. Eu estava mesmo precisando conversar, tô deprimido demais, cheio de problemas... Você tem um tempinho pra me ouvir, né?!

Marcos não conseguiu completar o que tinha a dizer, tendo que voltar ao início da frase (como fazem os meninos contadores de história, nas portas das igrejas das cidades do interior)... Aí se enrolou todo, desligando logo depois.

Não é por nada, não. Mas taí uma técnica infalível para se livrar rápido de incovenientes telemarketeiros! I hate them! Com todo respeito...

sábado, agosto 06, 2005

Percepções

Os dias passam e deles captamos sensações, cheiros, lembranças... Fatos mais marcantes ficam, outros sem muita importância se dividem como bolinhas de mercúrio e desaparecem. Mas, sabe, algumas das minhas percepções demoram para tomar forma e acabo de relizar algumas delas neste exato momento. Boas, ruins, com sentido só para mim, sem nenhum sentido para vocês... Não importa. O que vale é que esses registros foram filtrados por meu cérebro e fazem parte do emaranhado de idéias e pensamentos de que é feita a minha mente inquieta. Aí vão alguns deles:

Tenho a impressão de que sou de outro planeta. Dia desses, no "pacato" bairro do Rio Comprido, um tiroteio comeu solto. Daqueles com armamentos pesados que nós, cariocas, conhecemos bem. No local onde me encontrava, todos começaram a rir, menos eu. Estariam rindo de nervosismo, e assim desafiando o absurdo; ou estariam acreditando que aquele momento era um filme de western, que não passava de uma fantasia com hora para terminar? Não sei... Mas confesso que essa reação me assusta mais do que a guerra civil em propriamente dita...

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Hoje, tive acesso a um livro sobre fama. Trata-se de um conjunto de dicas da autora "sei lá quem de sei lá o quê" sobre como se tornar uma celebridade. Ai... Já começa mal, né?! De repente, leio: "Quando fizer alguma viagem, procure armar um encontro com algum famoso e chame uma revista para cobrir o evento (que evento, cara pálida?). Melhor ainda se os dois estiverem estremecidos com seus parceiros, para que a nota tenha um tom de infidelidade no ar". Patético, não? Onde será que vamos parar? O pior é que essa "sei lá quem de sei lá o quê" deve estar rica e, no momento, talvez esteja sendo fotografada por uma das inúmeras revistas de fofocas existentes, num cruzeiro pelas Ilhas Gregas.

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Aloou! O ministério da saúde adverte: tv aberta faz muito mal à saúde. Mas, seu eu tivesse um convite para trabalhar nela, dependendo do conteúdo do programa, aceitaria. Sem hipocrisia, vai!

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Já reparou que a gripe está sempre por aí? Não tem uma pessoa para quem eu fale que estou gripada, que não venha com a seguinte frase: "Mas essa gripe que tá por aí, menina, anda pegando todo mundo". Devo confessar que isso me dá tic-tic nervoso. Em outras palavras: me irrrriiiita...

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Li um texto hoje que me fez refletir sobre uma das minhas profissões. Aos interessados: www.eletroliteraria.com.br - clicar em "Responsabilidade Social do Artista". Texto do Cadeh, um cara inteligente e antenado. Aliás, sou colaboradora desse site, criado pelo Leo Almeida, apresentador do Atitude.com (TVE): um dos melhores sites sobre cultura.

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Dia desses, peguei um táxi - mais uma vez no ensolarado, bucólico e pacífico bairro do Rio Comprido - e tive que deitar no chão do veículo ao perceber que estava no meio de um tiroteio. O motorista ficou perdidinho, coitado. Corta. Hoje, sonhei que estava no meio do fogo cruzado, numa estrada que me levava para fora da cidade. No mesmo sonho, vi zumbis estilo "Madrugada dos Mortos" correndo nus da cintura para cima, na pista asfaltada e depois... acordei. Corta. Ano passado, perdi um dos meus melhores amigos num assalto à mão armada. No mês seguinte, fiz um trabalho que me obrigava a pegar a Linha Vermelha todos os dias, na calada da noite. Conseguem imaginar o meu pânico? Corta. Depois de ler o jornal, recomenda-se um anti-depressivo. The end. Tudo isso está ligado ou é só impressão?

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Enquanto isso no salão de beleza (e na sala de justiça)... Mocinhas e moçoilas escapam da realidade com "Caras", "Quem", "Contigo" e outras revistinhas de nomes fofinhos. Vai dizer que você não vê pelo menos as fotos? Olha a hipocrisia...

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Você já olhou para o seu cachorro, tirando uma sonequinha depois do almoço, em pleno dia de semana, e desejou ser ele por alguns minutos? Eu já! Hora do rush, o pau comendo no mundo dos mortais e e a Cuca (minha linda cachorrinha da raça labrador) dorme sem preocupações, com comida pronta, sem contas a pagar e cheia de amor pra dar... Ê, vidão!

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A seguir cenas do próximo capítulo.

quinta-feira, agosto 04, 2005


A autora, em plena atividade mental...
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quinta-feira, julho 21, 2005

Saber perceber...

Enquanto espera para fazer uma entrevista com um astro do rock brasileiro, a mente inquieta começa sua atividade. Aliás, já tinha começado desde que sua dona havia aberto os olhos naquela manhã. Ela pensa: "Ando demorando demais para escrever"...

Semanas atrás, ela entrevistou uma atriz brasileira do primeiro time e o papo havia sido justamente sobre sentimentos traduzidos através das palavras. Ela ouviu algo do gênero: "As histórias de amor são publicáveis quando há sofrimento. Quando não há, não temos necessidade de colocá-las no papel". A mente inquieta teve que concordar. É a mais pura verdade. É do sofrimento que saem as palavras mais belas, a inspiração mais profunda, as idéias mais fervilhantes e, por fim, o amadurecimento.

Sofrer por amor? Faz parte, amigos. Chegar à conclusão de que o homem da sua vida não cabe dentro de você e vice-versa? Também é peça do jogo. E, confesso, passar por isso não é mole, não. Dói, machuca a alma, acaba com a gente. São muitas sensações para um único coração. Mas, é incrível perceber que, ao contrário de todas as previsões, ele agüenta. É muito mais forte do que se pode imaginar e talvez seja o único órgão do corpo humano que aprende junto com a gente e, se inteligente for, armazena sentimentos acumulados, faz uma seleção e fica com os melhores. Ah, o coração...

Já ia me esquecendo de citar a princesa, personagem sempre presente aqui e com uma das mentes mais inquietas que já conheci. Ela passou pela situação citada acima. E, se preciso fosse, viveria esse mesmo amor outra vez. Pois ela aprendeu muito e amou com nunca havia amado antes. Viveu momentos maravilhosos, onde a felicidade parecia ser o alimento da Terra. Viveu momentos ruins, em que a tristeza parecia ter garras afiadas. Aquele castelo, um dia, foi uma casa mal-assombrada; outro dia, uma plantação de maçãs envenenadas e outro dia, um jardim florido, cheio de hortências cor-de-rosa.

Hoje, ela consegue ver que a felicidade é possível sem o príncipe das notas musicais, que o amor pode ser transformado, que Raul Seixas e Elvis Presley tiveram um papel muito importante em sua vida e nela viverão para sempre. Mas, de um outro modo. Seu coração bate mais tranqüilo, se reinventa para receber.

E, assim que ela percebe isso, algo muito especial já começa a acontecer! Aquele sapo, para quem ela não ligou a mínima quando chegou ao castelo, começa a falar alto em seus ouvidos, e faz com que ela perceba que sua pele crespa e textura úmida têm significado. A princesa começa a enxergar o valor das coisas feias e belas e também das coisas que parecem insignificantes, mas que podem ser eternas enquanto durarem em sua vida...

Aos aventureiros do Planeta Vermelho e a todos que têm o amor da princesa...

segunda-feira, julho 11, 2005

Hã?

Eram 4h45 da manhã e ela ouviu um barulho. Vinha da cozinha. Não, na verdade vinha das escadas do prédio. Não, não. Na verdade, ela não sabia de onde vinha. Depois de muito procurar o motivo daquele som irritante, que parecia sair de uma corneta desafinada e velha, ela se deu conta de que o barulho vinha de sua própria mente.

Ócio? Existe quase nada dessas quatro letrinhas em sua vida. Quem dera... No dia anterior, havia lido na coluna de uma prestigiada revista, escrita por uma prestiagiada atriz, a seguinte frase: "Nem nas fantasias mais tortuosas, Deus imaginou filhos tão destrambelhados". É, amigos, estamos destrambelhados. Mesmo. É só ler os jornais, assistir à televisão aberta, ir na esquina comprar um pão, sem a certeza de voltar, que nos damos conta do caos completo a que estamos submetidos.

Semana passada, o espisódio sangrento e vergonhoso do ônibus 174 se repetiu, só que desta vez não demorou tanto. Foi rápido. A vida de um garoto de 20 anos foi levada numa fração de segundos por um homem para quem a vida não tem o menor valor, por alguém que não tem absolutamente nada a perder. E no dia do aniversário da vítima. Terá sido um presente de Deus? Balela...

Alô, governantes! Alôou! Mais insanos do que esse assassino são as cobras "mal" criadas da política, que colaboram para a proliferação do crime, da miséria, da falta de cultura, de educação, fazendo do nosso país uma decepção a cada jornal lido. É molhar o dedo para facilitar a passagem da próxima página do periódico, que já dá pra sentir o gosto amargo que brota de cada letra, palavra, frase.

O tempo passa e ela se dá conta de que não é só aqui. Outro dia mesmo, ao ligar a tv e ver as notícias sobre os atentados de Londres, ficou com todos os cabelos arrepiados (todos!!! porque é de arrepiar até os pentelhos mesmo) e ligou imediatamente para seu pai, para saber se ele já havia tido notícias de seu primo querido, residente na cidade. Ele estava bem.

Ela se distrai, larga as folhas azedas que mancham suas delicadas mãos de preto, e lembra da imagem tranqüila de seu querido amigo, Fervil, um dia assassinado durante um assalto, no Rio de Janeiro, uma das Mecas do consumo de drogas. Pensa na conversa que teve com um novo amigo no fim de semana sobre a ligação do tráfico com o consumo. Será que cada um plantar na sua varanda é a solução? Ela não tem certeza. Legalização já? Ela não tem a resposta, mas quer mudar o mundo, fazer o bem. Seu novo amigo, que mais parece uma fortaleza, um muro de concreto também não tem as respostas. Eles vão embora, saem pelas ruas da Lapa, na madrugada mais fria dos últimos tempos e ela sente-se protegida ao lado daquele gigante. Um sentimento falso. Nem os gigantes sobrevivem à selva urbana hoje em dia...

Está tarde, a mente inquieta embaralha. Ela acha melhor voltar pra cama. O barulho vem de dentro, ela sabe. E não pode fazer nada. Só lhe resta dormir. E acordar no dia seguinte, levar a vida de acordo com seus princípios e valores - muito bem ensinados por seus pais - e contar, mais do que nunca, com a fé e a sorte que nunca lhe faltaram...

Caco, o sapo


O despertador tocou mais cedo e ela acordou confusa, sem saber que dia era, que horas eram, onde estava... Por um segundo, ela sentiu que não se encaixava. Em nada. Que não fazia parte desta dimensão. Mas, de repente, a ordem se fez presente fazendo-a perceber que tudo permanecia igual. Os mesmos cheiros, barulhos, a mesma disposição dos móveis. Dali, El Bosco e Velazquez lhe sorrindo, como sempre.

Levantar não foi difícil, ativar a memória também não. Tratava-se de uma segunda-feira, dia agitado no Reino da Imaginação. Dia em que as mentes inquietas retomam a atividade, sempre mais em baixa nos fins de semana. Abriu logo a agenda e contou os compromissos: onze. Fez uma pausa. Onze? Teve que se controlar para não tomar um sonífero e voltar para a cama.

Seu coração batia diferente, não sabia se por causa de ansiedade ou pelas emoções vividas no dia anterior. Foi para a internet, tinha que pagar contas. Não entendia... Sua mãe sempre lhe disse que era uma princesa. E, segundo os livros a que tinha acesso, princesa não paga contas, não se aborrece, não tem onze compromissos. O que houve de errado? "Bem-vinda à vida real", disse uma voz.

Logo na página inicial do computador, formou-se a figura de um sapo, desses que se parecem com príncipes sob o efeito de alguma magia. Ficou intrigada. Ele falava com a princesa do outro lado da tela, mas ela não conseguia entender. Estava confusa. Fechou o navegador e foi ver os e-mails. Mas, a imagem daquele sapo ficou na cabeça. Vestia uma camisa branca, usava brinco e tinha o charme de Caco, o sapo dos Muppet´s. Lembra? Vai dizer que o Caco não era de parar o trânsito?! Aliás, outro dia, a princesa havia ouvido essa expressão, "de parar o trânsito", de alguém muito especial... O técnico de som do castelo. Um cara bacana, bom caráter, talentoso. Ficou feliz.

Enfim, mais um dia começava no Reino da Imaginação. Os jornais publicando as vergonhas do governo e as agendas das celebridades mais vazias do momento. O barulho da obra nos jardins do castelo, pessoas angustiadas, aparentemente felizes e realizadas por toda parte, a música de Cartola e tudo mais... Tudo igual. Mas, um igual muito gostoso. Um igual que alimentava a luta diária da princesa por um lugar ao sol, que lhe trazia força para lutar contra os monstros do Reino - e que monstros! - e que fazia dela alguém incansável.

Ao contrário dos outros dias, ela não comeu a maçã envenenada, não adormeceu e não achou que todos acabavam por se transformar numa única pessoa. Ali, diante dela, na base de sua mente inquieta, estava o produto de uma diferença transformada, de uma luz, de um tesouro perdido. Ela acordou com a disposição de um leão faminto e foi tentar encontrá-lo. A contagem regressiva já começou...

sexta-feira, julho 08, 2005

Cobertas

Sei que vocês vêm reclamando da falta de textos, mas é que realmente ando sem tempo. Estava me inspirando e me preparando agora para teclar quando, de repente, o barulhinho da chuva começou e eu olhei para as cobertas da minha cama. Tá um frio e eu tô com um sono, cansada... Desculpa, pessoal, vai ter que ficar pra amanhã! A princesa não tá com nada essa semana...

quinta-feira, junho 30, 2005

Beckett

"Quando tudo mais acabar, ainda resta a minha história".

Samuel Beckett

quarta-feira, junho 29, 2005

Viva Chico!


"A idiotice nos rodeia. Eu mesmo tenho medo de virar um idiota."

"Há 40 anos não era assim. Estávamos todos bêbados em Ipanema dizendo coisas absurdas, mas nada disso saía na imprensa. Hoje, um artista vai ver um jogo de futebol e vem um jornalista e pergunta o que você achou do jogo. Não gosto disso."

"Não gosto de lembrar dos anos 60, nem dos 70. Dos anos 80 não me lembro e nos 90 começou a idiotice. Gosto de estar vivo, de fazer as coisas no meu ritmo, sem pressões."

"Eu digo que vou escrever um novo livro e passo dois anos dando entrevistas. Depois, falo do livro que não saiu. E assim passa a vida. Hoje, é possível viver de feira literária em feira literária. Há festivais a cada semana, em alguma parte do mundo. Agora me consideram escritor e posso viver como um turista literário. Certamente, conseguiria ser muito mais conhecido como escritor do que sou hoje sem a necessidade de escrever mais livros."

Esse é o nosso Chico Buarque de Holanda, que acha ridículo estar na lista dos homens mais "sexy" do Brasil e que define o momento que vivemos hoje como um "momento de idiotice globalizada".

Depois disso, não é preciso dizer mais nada. Viva Chico!!!

quinta-feira, junho 23, 2005

Na livraria...

Numa livraria qualquer do Leblon, a princesa encantada se depara com muitas notícias, diversos lançamentos. Seus olhos fazem o zig-zag ansioso de quem não quer perder um só detalhe das linhas e cores que se apresentam ali e embaralham sua mente inquieta. Eles registram "O Kamasutra", "Cabeça de Porco", "Caras", "Vizoo", "Trip", "Buble Gum", "Anjos e Demônios" e outras centenas de títulos. Ela se dá conta da presença feminina na maioria das capas de revistas, e chega a pensar em produzir um ensaio fotográfico próprio, para estampar sua beleza na "Castle Magazine", a revista de maior tiragem, no Reino da Imaginação.

Alguns livros despertam sua curiosidade (Nesta noite, o que mais lhe interessou foi "O Kamasutra". Será que Freud tá livre hoje?), outros são eruditos demais, e muitos são surpreendentes (O Jean, do Big Brother, escreveu um livro???!!! Ela e sua santa ignorância não sabiam... E ele já está preparando o segundo... Ou seja, o primeiro vendeu bem. Nessa hora, ela desejou ter menos atribuições na vida, para que conseguisse acabar seu precioso livro dedicado às crianças.) Das caixas de som, saía um carinho para seus ouvidos: o novo trabalho de Badi Assad.

Mas, o que fez essa frágil donzela enfrentar a temperatura da madrugada polar do Rio de Janeiro (O termômetro marcava 18 graus! Um friiiiiooo...) e passar boa parte de sua noite numa livraria 24h? Na verdade, sua intenção era ir ao cinema, tomar umas caipivodkas de morango no bar da esquina e depois dançar um pouco. Rolou o cinema, rolaram as caipivodkas, mas a dança não rolou. O príncipe que lhe fazia companhia não estava bem, ficou cansado, pensativo e quis ir pra casa. Subiu no cavalo, a princesa lhe fez um carinho e ele partiu. Por isso, a moça de cabelos cor de fogo foi parar na livraria, de madrugada. Não era bem isso que planejava fazer, mas acabou se divertindo.

Sua mente inquieta pensava: "É nas livrarias 24h que topamos com as figuras mais curiosas. Quem nunca parou ao lado de alguém, num lugar desses, e começou a traçar todo um perfil e uma história de vida para essa pessoa: 'Esse aí tá todo de branco. Então, deve ser médico, estar voltando do plantão, e passou aqui pra dar uma relaxada. A mulher deve estar dormindo. Já deve estar acostumada com a ausência dele. Mas, será que ele está feliz?' Enfim, topamos também com insones deprimidos, bêbados chatos, coroas metidos a intelectuais, que bebem café, comem brownie e fingem ler Nietzsche. Sem falar nos milhares de pedestres carentes, que buscam conforto na palavra".

O relógio marcava 4h e a princesa já não tinha mais condição de ler uma linha sequer de "O Kamasutra". Entrou na carruagem e seguiu rumo ao castelo cor de laranja. A solidão havia lhe feito tão bem nesta noite... Ela trocou experiências com cada um que passou pela livraria. Mesmo que tenha sido uma troca silenciosa. O importante é que houve troca. Sentiu uma energia, que só as livrarias 24h têm. Uma energia que vem da madrugada fria, que vem dos que vagam por ela e aproveitam cada minuto seu. Uma energia que a fez perceber que, princesa ou não, ela continuaria sendo ela mesma. Para sempre. Uma energia que a fez se sentir mais viva do que nunca.

quinta-feira, junho 09, 2005

2:04

O relógio marca 2:04 e ela não pára de teclar. O sono não chega e a inspiração transborda. Seus pensamentos ramificam tanto quanto a árvore genealógica da família imperial brasileira. O silêncio da madrugada, misturado ao ruído da cadeira velha em que está sentada resultam numa bela sinfonia para sua escrita. Tica-tac, tic-tac...

O tempo passa e ela tem lembranças. Dos tempos mais remotos ao segundo que passou. Faz um filme da vida. Sorri, dá gargalhadas, choraminga, cai em prantos, sente os cheiros de momentos diferentes pelos quais passou e das pessoas mais marcantes que cruzaram seu caminho. Relembra filmes, viagens, leituras e, de repente, é invadida por uma felicidade plena.

Ela quer terminar a música que está compondo, escrever mais um capítulo do livro a que tanto se dedica. Não consegue. Olha para "A Mulher de Costas", de Dali, "As Meninas", de Velazquez e "O Jardim das Delícias", de El Bosco. Os três, ao seu redor, estabelecem um diálogo que só ela entende.

Depois dessa confusão de referências, cores e informações, uma simples imagem vem à sua cabeça: a de alguém que conseguiu lhe proporcionar muito conforto e dizer palavras sábias num momento em que ela realmente precisava. A vela acesa; a única parede azul, com um toque de Matisse; o vento frio da noite; o prego solitário que abrigava um Miró, agora estilhaçado... O sonho está muito bom e é um pecado acordá-la agora.

De supetão, ela acha a paz que sempre procura. O sono chega, o corpo amolece... Novamente, a princesa adormece e, desta vez, parece ter comido a maçã envenenada. Pois nenhum, nenhum barulho faz com que ela se mova. Nem o silêncio da madrugada, nem o ruído da cadeira velha, nem a voz dos artistas...

terça-feira, maio 31, 2005

Quase

Cada vez mais tenho a impressão de que "nada se cria, tudo se transforma". À medida que a gente vai ficando velho, vai percebendo que não só fatos, mas até pessoas se repetem em nossas vidas. Com algumas variações, é claro. Para o bem, ou para o mal. E com tudo isso, ainda insistimos em achar que estamos experimentando algo totalmente diferente. Pra, meio metro depois, bater com a cabeça no muro e acordar do sonho. Mas, sabe, o que me encanta de verdade é essa magia da vida, a forma tão especial que ela tem de se comunicar com a gente, e que só não entende quem vive dormindo, drogado, desinteressado. As experiências mágicas pelas quais passamos nos mostram que existe mesmo um mistério na vida e que estamos ligados por ele. Somos todos um "quase", nunca inteiros. E é isso que faz de nós seres "em busca de". E quem está "em busca de" vive no risco. E viver no risco é o sal, o doce, o gosto da vida. Captou? Basta querer, basta aceitar, basta abrir a caixa, que entra na cabeça fácil, fácil...

terça-feira, maio 17, 2005

E o saquê tava geladinho!

Ele chegou de cavanhaque e costeletas, promovendo ali, na frente de uma simples e frágil donzela, uma mistura irresistível de Elvis Presley com Raul Seixas. Nas mãos, uma garrafa de saquê nacional. Vestia uma calça jeans escura e uma camisa em tom pastel, cheia de listrinhas. O cheiro? Da rua mesmo. Sem perfume, do jeito que ela gostava. Estavam sobre (sobre mesmo e não "sob") nuvens brancas e raios fortes de um sol alaranjado. É, a metáfora é de difícil compreensão mesmo. Deixa pra lá... Ambiente perfeito, papo agradável e todos os elementos químicos combinados. Poderia ser melhor? Hummm... Ela estava certa de que não. A hora dele ir embora chegou e, tempos atrás, seria motivo para a singela moça lamentar e chorar. Mas, inesperadamente, seu coração foi invadido por uma paz, uma impressão de que o passado não mais a atormentava e de que ela havia se libertado da dor. O sentimento, antes avassalador, estava mais brando. Era amor, mas ardia menos, machucava menos. E a certeza (cada vez mais forte) de que Raul Presley faria parte de sua vida de uma forma bem mais saudável - talvez como amigo, cúmplice, confidente - a invadiu de um jeito tão forte, que, assim que ele se foi, ela mergulhou num sono profundo e tranqüilo, como adormecem as princesas dos contos de fadas. Ela jamais havia dormido assim, quando esse artista cantava no palco do seu coração. Ah! E o saquê tava geladinho, geladinho...

sexta-feira, maio 13, 2005

Fui...

A véspera é hoje. Véspera do início de uma nova vida. 2004 foi um ano de grandes aprendizados e 2005 já está me ensinando muito. Hoje, entendo melhor a vida e brigo menos com ela. Sou mais consciente do que me faz bem e do que me faz mal. Conquistei um objetivo, realizei um desejo que, há tempos, habitava aqui dentro do meu peito... Cheers!

xxx

Àqueles que me ajudaram nessa empreitada deliciosa, principalmente Veroca e Guigui.

domingo, abril 24, 2005

Sintonia de 4

Éramos 4. Já passava das 22h. Sentamos num japonês no Leblon e, entre sushis de salmão contaminado, cervejas e saquês começamos a conversar. Tinha gente que não se conhecia, gente que se conhecia mais ou menos e gente que se conhecia muito bem. Os assuntos? Das coisas mais banais a momentos íntimos de cada um. Sexo? Teve. Não entre eles (pelo menos, ali na mesa). Mas esteve presente, de alguma forma, na maior parte do tempo. Coisas que só Freud explica... Cada um ali tinha pelo menos uma questão pra resolver, um sofrimento, uma alegria, um contexto de vida. Diferentes, porém com uma sintonia que não sei explicar. O pudor saiu pra dar uma volta e não apareceu mais, o que fez daquela noite algo muito especial. E, a partir de um determinado momento, percebi que a identificação com sentimento e com a palavra do outro nos tornou, ali, tão parecidos, que chegamos quase a formar um único ser. Levo desse gap de 3 horas no meu dia, a certeza de que momentos inesperados como esse traduzem a beleza da vida e confirmam que ela é o maior presente que um dia nos foi dado.

Aos 4 personagens dessa mesa de japonês...

domingo, abril 17, 2005

Abelardo e Elisângela II - Tá na hora de ceder!

11h de um sábado qualquer...

A: "Bom dia, minha flor!"

E: "Bom dia!"

A: "Está um dia lindo, né?"

E: "É. Vamos dar um pulinho na praia?"

A: "Ih, linda, não vai dar. Hoje eu tenho que finalizar, no computador, todos aqueles trabalhos que ficaram pendentes."

E: "Como sempre, né, Abê? Será que não vai ter um fim de semana sequer, em que vamos conseguir relaxar, ir à praia, tomar sorvete, andar de mãos dadas na Lagoa, viajar? Eu trabalho a semana inteira e adoraria que, pelo menos no fim de semana, pudéssemos ter um tempo pra nós!"

A: "Eu sei, minha flor, mas você sabe que eu tô numa fase assim mesmo, meio sem tempo, meio confusa."

E: "Será que isso é fase, amor? Está durando tanto..."

A: "É, é fase sim."

E: "Tá bom. Vou à praia, então, e depois fazemos algo, ok?"

A: "Ok."

Elisângela curte uma horinha de praia e volta.

E: "Oi! E aí, já almoçou?"

A: "Quê?"

E: "Já almoçou?"

A: "Hein?"

E: "Abelardo, você poderia tirar os olhos desse computador, olhar pra mim e se concentrar no que estou dizendo? Você já almoçou?"

A: "Oi! Ainda não. Desculpe, é que estava aqui nos finalmentes do trabalho."

E: "Sei, nos finalmentes. Então agora a gente vai poder namorar?"

A: "Vamos, meu amor, sou todo seu."

Os dois se enroscam na cama e Elisângela fala, toda carinhosa:

E: "Sabe, estava pensando. Podemos almoçar aqui pertinho de casa, descansar e depois dar um pulo lá naquele sambinha que rola hoje, na Lapa. Que achas, hein?! Depois a gente vem pra cá e namora até o sol raiar!"

A: "Adorei a sua idéia. A única coisa que não gostaria de fazer é ir ao sambinha. Você sabe que eu tô duro pra caramba e não tô podendo pagar couvert artístico por aí. Já sei! Hoje tem um show muito legal do "37 Não é Febre", lá no Circo Voador. Eu conheço os caras e posso pedir para colocar o nosso nome na porta. É de graça! Só pagamos a cerveja. E aí?"

E: "Abelardo, eu já fui no show desses caras com você. Lembra que eles não entraram para minha lista de bandas prediletas? Que tal, então, uma água de coco na praia?"

A: "Legal, amor. Ah! Sabe o que tá rolando também? Aquela festa gótica lá no 'Cine Íris'!"

E: "Deus me livre, festa gótica! Aquelas meninas de botas até o joelho, em pleno verão carioca! Uma doença só. Energia negativa não é comigo, Abelardo!"

A: "Meu amor, que tal você sair com as suas amigas e eu com os meus?"

E: "Custa você abrir mão um diazinho da sua vida, cara? Você sabia que se a gente não ceder ali e aqui, o relacionamento vai acabando aos poucos? Ninguém te contou, não? Caramba, você tem 35 anos e, às vezes, parece que tem 18. Francamente, você prefere resolver tudo com a brilhante idéia de ir cada um para um lado?"

A: "Meu amor, não vamos brigar, vai. Tá bom, eu vou ao sambinha na Lapa. Mas, vc paga hoje?"

E: "Fazer o quê, né? Pago..."

A: "Então, vamos, bonequinha, sambar até cansar ao som de Zeca!"

E: "O Zeca é pagodinho. A gente vai ouvir e dançar samba de raiz, Abelardo!"

A: "Ah, sim, linda, entendi. Vamos, então, que agora eu me empolguei!No caminho para o almoço, vamos ensaiando. Sabe aquele passo que você me ensinou outro dia, quando ouvíamos o CD do Vinícius..."

Abelardo começa a sambar, todo sem jeito, saltitando.

E: "Eu te amo, sabia?"

A: "Eu também, minha linda. Canta comigo, vai. Nada melhor do que o 'Samba da Benção' pra iluminar o nosso dia: "É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração..."

E os dois saem para almoçar - ele querendo churrascaria e ela japonês - felizes, mas com diferenças que só muita criatividade pode resolver. Ou não...

sexta-feira, abril 08, 2005

Brincadeira Perigosa

A matéria de capa da revista do jornal "O Globo" desse domingo (03/04/05) me assustou. "Brincadeira Perigosa" fala dos danos que os cosméticos, cada vez mais utilizados pelo público infantil, podem causar. O que mais me entristeceu, além da constatação de que cada vez mais crianças estão usando produtos que só deveriam usar mais velhas, foi ler a seguinte pérola:

"A veterinária Elisabeth Bomfim, de 44 anos, acha que algumas etapas da infância vêm sendo puladas. Ela incentivou tanto quanto pôde que a filha Carolina, de 11 anos, usasse vestidos rodados e cheios de babados. Não gosta que a menina use maquiagem, nem esmaltes. Salto alto? Nem pensar."

Até aí, tudo bem. Agora olha só:

"Mas, Elisabeth deixou que Carol passasse os produtos químicos da escova progressiva para alisar as ondinhas do cabelo. 'Ela estava constantemente com os cabelos presos. Não gostava muito de tirar fotos. Depois de procurar um produto aprovado e uma profissional confiável, deixei que ela fizesse. A carinha dela mudou' - diz a mãe, que antes de permitir que a filha fizesse o procedimento, testou em si mesma. 'Eu sou bastante alérgica. Então imaginei que, se fizesse em mim e desse tudo certo, ela poderia fazer também'. Carol, que já repetiu o tratamento três vezes, está feliz da vida com os cabelos. 'Quase todas as minhas amigas já fizeram, mas fizeram com produtos mais fortes e o cabelo ficou bem liso'.

E por aí vai a matéria...

Acredito que essa mãe esteja muito bem intencionada. De verdade. Estamos tão imersos nesta linha de produção, onde somos meros produtos, todos iguais, saindo quentinhos para consumo, que esquecemos de olhar de fora e tentar formar opinião sobre o que acontece em volta. Mas, será que a auto-afirmação dessa menina, de apenas 11 anos (ONZE ANOS!!!!), precisa se dar através da química da moda, da síndrome de Michael Jackson - insatisfação permanente, mudança constante?! O que aconteceria a Carol se ela permanecesse com os cabelos ondulados? O que tem de feio, de tão inaceitável nesse tipo de visual? Afinal, não é a diversidade da beleza da mulher brasileira que faz sucesso aqui e no mundo todo? Diferentes cabelos, tons de pele, cor de olhos... E o que queremos, ficar todos iguais??? O que faz uma criança se preocupar tanto com estética? E, pior, o que faz uma mãe acreditar que está fazendo muito bem à filha, estimulando um tratamento químico desses? E mais: para ter a certeza de que a filha pisa em terra firme, se submete ao tratamento antes, como se isso fosse banir qualquer conseqüência que Carol possa sofrer no futuro. Trash, não? Quando eu tinha 11 anos, estava na quinta série do Colégio Notre Dame, em Ipanema, jogando queimado e indo pra casa toda descabelada. Aí, você que me conhece vai dizer: "Mas, Bel, você sempre teve cabelo liso." Olha, minhas amigas de cabelos ondulados nunca tiveram esse tipo de preocupação nessa época. Pensávamos em outras coisas. O melhor dessa fase é poder brincar, sem se ligar em nada. Mas, parece que isso está mudando... Bons tempos aqueles! Tempos em que a ditadura da beleza não falava tão alto.

Quem, eu? Sendo radical? Não acho, não. Não sou contra tratamentos estéticos. Não mesmo. Mas, tudo que vem em doses exageradas é nocivo à saúde, à mente. E, sinto muito, mas uma criança de 11 anos fazendo escova progressiva e dizendo que na sua sala do colégio TODAS as suas amigas já passaram pela experiência... Francamente, plagiando nosso amigo Caetano Veloso, "alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial."

xxx

Esse texto é para uma outra Carol, a minha afilhada linda, de 10 anos.

domingo, março 27, 2005

Gute Reise!

Um belo dia, uma de minhas melhores amigas me disse: "Bel, estou apaixonada por um alemão e vou para a Alemanha viver com ele."

Um silêncio se fez por 5 segundos, consegui me recompor e, diante daquelas palavras tão puras, movidas a amor, só pude dizer que a admirava muito e que estaria sempre ao seu lado, mesmo com um oceano nos separando.

Pois bem, amigos, ela correu atrás, tirou sua cidadania portuguesa e me deu a notícia, assim de supetão, que parte nesta terça-feira, 29/03/05. O coração acelerou, senti que o chão não estava mais sob meus pés por alguns segundos e depois, finalmente, comemoramos! Aquele jantar no japonês, numa rua qualquer do Leblon, vai ficar pra sempre na minha mente inquieta!

Não sinto isso como uma perda, mas sim como uma conquista. Ah, sim, porque a conquista de meus amigos é minha também! Além do mais já perdi um amigo de verdade, que saiu deste plano. Sei bem o que é isso. E o que estou sentindo agora é muito diferente... Uma mistura de saudade adiantada com felicidade plena, por ver alguém que amo se realizando. Que coisa boa!

Boa viagem, amiga guerreira, amiga sonhadora! Que você seja sempre assim desse jeito, que a Alemanha lhe reserve só boas surpresas e que a nova vida que lhe espera em terras germânicas seja sempre generosa e só lhe dê alegrias!

Abelardo e Elisângela

O celular de Elisângela toca...

E: "Alô!"

A: "Oi, meu amor!"

E: "Oi! Nossa, isso foi mesmo 'transmimento de pensação'. Tinha acabado de pegar o telefone para ligar pra você, meu lindo!"

A: "Isso acontece porque a gente se ama, minha flor."

E: "É... E aí, como foi o dia hoje?"

A: "Ótimo. E o seu almoço de trabalho com o Vladmir?"

E: "Ótimo também. Resolvemos várias coisas pendentes".

Uma pequena pausa se dá...

E: "Então, tá, gatinho, tô com um sono louco, vou dor..."

Elisângela é interrompida.

A: "Porque a monogamia é realmente um problema."

E: "Quê?"

A: "A monogamia. Vivemos numa hipocrisia sem fim. Todo mundo finge que acredita em monogamia, mas ela não existe. Ah, mas não mesmo!!!"

Neste momento, Elisângela sentiu o coração apertar e pensou: "Ele bebeu de novo e resolveu tirar da cartola mais uma de suas pérolas. O alvo mais próximo e vulnerável? Eu, sempre eu". Na verdade, o erro da moça foi ter dado corda para o que o namorado falava. Mas, tudo parecia tão bem... O papo fluía tão gostoso, com tanto carinho... Elisângela não resistiu e deu trela. Talvez seu inconsciente quisesse ver onde Abelardo iria chegar com toda aquela inquietação mental.

E: "Ei, o que houve? Estávamos conversando tão bem. Que sentido faz esse papo agora, meu amor?"

A: "Faz muito sentido e eu quero falar sobre isso. Você acha que, se a gente ficar o resto da vida juntos, vamos conseguir não olhar para o lado?"

O fato, minha gente, é que o questionamento de Abelardo é o de muitas pessoas por aí. Senta só numa rodinha de bar pra ver se esse papo de "fidelidade", "hipocrisia", bla, bla, bla ... não surge?! Ah, surge...

E: "Não. E nem eu quero isso, Abê. Admirar uma mulher bonita, um homem charmoso faz parte. É saudável. Além do mais, que traição há nisso?"

A: "Não é isso que estou dizendo, né. Olhar, todo mundo olha. Mas você acha que não vou transar com ninguém além de você e vice-versa, até o fim dos nossos dias? Impossível."

Tudo bem, Elisângela podia até concordar. Mas, pra que entrar nesse papo "vamossertransparentesemachucarumaooutro" agora?

E: "Amor, não estou entendendo o que está havendo. Você bebeu na rua, né?"

A: "Bebi um pouquinho. Mas o que isso tem a ver?"

Muito. Tinha muito a ver. Quando a gente não quer perder o controle do corpo e da mente e sabe que isso pode acontecer com uma mãozinha do álcool; quando sabemos que machucamos as pessoas mais especiais de nossa vida ao sairmos de nós mesmos, então é melhor evitar os exageros, não é mesmo? Cadê a força de vontade, Abelardo?

E: "Olha, eu não sei o que está havendo, acho que você quer me deixar maluca e me fazer ficar insegura contigo. Não vou entrar nessa. Por isso, saiba que minha opção de vida é viver sempre no respeito. Ser fiel ou não vem da consciência de cada um. E ser fiel a si mesmo é o mais importante. A gente não está livre de tentações. Somos humanos e podemos nos sentir atraídos por qualquer pessoa, desde que estejamos vivos. E até onde sei, Abê, nós dois estamos. Por isso, cada um faz com sua tentação o que quiser. Só peço a você que sempre pense em me respeitar e, se algo sair do seu controle, não me conte, não faça na frente dos amigos e previna-se. Não posso pedir mais nada e nem controlar você. Até porque minha natureza não é de mulher desconfiada, que fica no pé, você sabe. Meu lindo, eu não sou dona das suas vontades, nem do seu corpo. Mas, confio em você e isso faz de mim uma mulher feliz e segura. Satisfeito agora?"

Ele não estava...

A: "Você acha que seu pai está há 50 anos com a sua mãe e ficou quietinho esse tempo todo?"

E: "Mas por que os meus pais estão entrando nessa história, coitados? Você pirou, está completamente louco."

A: "Sabe, acho que estou falando tudo isso porque estava conversando com um amigo outro dia e ele me disse que o negócio é fazer 'swing'. Assim, você mata seus desejos e fantasias com outras, ela com outros e está tudo diante dos seus olhos, sem hipocrisia. Fiquei pensando muito nisso e acho que pode ser uma boa alternativa. Sabe, eu não consigo pensar no fato de você estar com outro e eu não saber. Te amo muito, meu amor. E isso seria doloroso demais pra mim."

E: "Eu sei. Eu também te amo e não estou entendendo que dispositivo foi ligado em você pra vir com essa conversa sem nexo. Olha, se você acha mesmo que esse troço de 'swing' é legal, não devemos ficar mais juntos, Abê. Você não consegue pensar em me ver com outro, mas pode fazer um 'swing' e me ver sendo jantada por um cara qualquer? Francamente... Não entendo e, além do mais, não curto essas coisas. Não acho que isso seja viver no respeito."

A: "E viver no respeito é o quê, viver na hipocrisia? Eu como uma aqui, você fica com outro ali e chegamos em casa dizendo: 'boa noite, amor, como foi seu dia hoje?'"

Elisângela se estressa e grita:

E: "Mas que papo de homem inseguro, Abelardo! Olha, quer saber, se essa hipocrisia for sinônimo de felicidade, por que não? E quem disse que pretendo levar minha vida assim? Quero ser feliz com o homem que eu escolher pra viver ao meu lado, se Deus quiser, o resto dos meus dias. Você está me confundindo, me deixando nervosa e já tirou o meu sono, caramba! Sabe, pra mim o importante é o amor, é me sentir amada, desejada, amparada, ter a certeza de que tenho um companheiro, um amigo, um amante, alguém que me realiza, me dá paz."

A: "Não falei? Olha aí o amante. Ele está sempre escondido lá no cantinho das fantasias do cérebro."

E: "Saaaaaaco! Cê ta afim de me perturbar, é? O amor, amigo, amante são a mesma pessoa: você. Mas que diabo de 'monogamia' é essa que surgiu na sua cabeça do nada, Abelardo??? Será que foi o almoço de negócios que tive hoje, com alguém do sexo oposto?"

A: "Não ligo a mínima pros seus almocinhos medíocres de negócios. O fato é que a vida é a maior galinhagem mesmo. Todo mundo pega todo mundo. Por que há de ser diferente com a gente?"

E: "Porra, Abelardo, são 2h da manhã, e estou me sentindo mal, uma idiota aqui no escuro, sentada na minha cama, com palpitações, à beira de um ataque de nervos e escutando você falar muita besteira. De uma vez por todas: não me sinto parte dessa galinhagem, não quero viver nesse 'ôba, ôba'. Só quero ser feliz com quem amo, sentir que sou parte de um casal de verdade. Desejos e tentações vamos sempre ter e nem por isso somos hipócritas. Santo limite!!!"

A: "Hipócrita, hipócrita, hipócrita. Essa é a palavra que define melhor o mundo e seus habitantes, sempre movidos por desejos e tentações em todos os sentidos."

E: "Linda frase, meu bem. Leu isso na 'Veja' hoje? Olha, sei que é difícil mesmo nos encaixarmos nesse mundo atual. Mas, se não tentarmos... Quer saber? De que adianta ficar discutindo fidelidade? É uma conversa confusa, que sempre acaba sem respostas. Falamos o que não devemos, o que nem sabemos e estressa, cara, estressa muito. Se você me dá paz e vice-versa, é isso o que importa. Ah, e sei lá como é essa vida de casal de bodas de diamante. Nunca passei por isso. Mas, procuro seguir a minha consciência e fazer com que qualquer história que eu viva (seja de 1 dia, ou 100 anos) seja linda. Como a nossa, meu amor. Nem sempre dá pra ser, eu sei, mas tentar não custa nada, né. Desejo olhar pra trás e chegar sempre à conclusão de que valeu a pena. Bom, você já misturou muito as estações por hoje, querido. Que tal uma trégua?"

A: "É, meu anjinho, estou ficando com muito sono. Disse tudo isso porque te amo muito, tenho medo de te perder e sinto muito a sua falta. Quero você ao meu lado sempre. Mas, não consigo mais prestar atenção no que você está dizendo. Amanhã nos falamos, tá..."

xxx

Caras mentes inquietas: por que complicar tanto, se a vida pode ser bem mais simples? Vai entender os seres humanos...

sexta-feira, março 25, 2005

Ilha de Paquetá

Pegando um catamarã ali na Estação das Barcas, na Praça XV, em 40 minutos chegamos a esta ilha cheia de encantos... Diz a lenda que, em seus primórdios, morava ali uma indiazinha cujo coração batia incansavelmente por um índio belíssimo. Só que este não lhe dava a menor trela... Um dia a pobrezinha pôs-se a chorar sobre uma grande pedra, sem saber que o índio dormia sob a mesma. Suas lágrimas eram tão pesadas, guardavam tanta tristeza, que conseguiram perfurar a pedra e, então, cair sobre os olhos do índio, que despertou e se apaixonou imediatamente por ela. Desde então, formou-se no local uma gruta, onde uma fonte abriga, até hoje, a enorme quantidade de lágrimas dessa mulher tão apaixonada: a "Gruta dos Amores". Dizem que quem molha a boca por lá, acha o amor eterno...

Você que é apaixonado pelo Rio e suas lendas, dê uma passadinha em http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=125955

quinta-feira, março 24, 2005

Vida - numa frase

Cada vez mais tenho a certeza de que ela desarruma tudo e, tempos depois, se encarrega de arrumar, fazendo com que, de repente, o caos volte a se chamar sintonia...

Para meus primos irmãos Guga, Bê e Lula.

"Baque"

Foi um soco no estômago. Daqueles que não sentia há muito tempo. À medida que a peça ia se desenrolando, eu encolhia na cadeira do teatro. Uma boa para aqueles dias em que dá pra esticar a noite, tomando um choppinho. Ir pra casa direto não é aconselhável, não... Atinge nossos orgãos vitais. Viva Neil Labute, dramaturgo e cineasta americano, responsável por filmes como "A enfermeira Betty" e "Na Companhia dos Homens" e autor de "Baque". E viva Deborah Evelyn, que presenteia o público com uma "Medéia Redux" impecável.

"Baque" está em cartaz no Centro Cultural dos Correios, de sexta a domingo, sempre às 19h. Até 22 de maio.

segunda-feira, março 21, 2005

PRK-30. Lauro Borges e Castro Barbosa, dois malucos no ar!

Fala, pessoal! Pedi a um amigo querido, Marco Santos, que escrevesse um texto sobre o trabalho de meu avô, Lauro Borges, um dos integrantes e criador da "PRK-30". Marco o interpretou no teatro, na peça "A Era do Rádio". Como todos sabemos, nosso país não tem memória. Infelizmente. O texto a seguir ajuda a refrescar a memória daqueles que viveram a época e informa os mais novos sobre um programa de rádio que marcou uma geração. Eis o texto:


"Bléim! Ao oubir esta suabe gongada, entra no ar, como se fosse uma barbuletinha dourada a PRK-30!..."

Costumava começar assim um dos melhores programas humorísticos de todos os tempos. Isso na época de ouro do Rádio no Brasil. Naquela época, uma caixinha iluminada se incumbia de levar ouvintes em uma viagem mágica, fazê-los sonhar, bastando somente a força da imaginação (palavra que saiu de moda em dias atuais.). O Rádio, esta invenção de um brasileiro (Está admirado? Entre no Google, digite "Roberto Landell de Moura" e se maravilhe com a história deste incrível padre gaúcho) era o companheiro fiel de todos os lares. Ele fazia chorar e fazia rir. No caso da PRK-30, fazia chorar de tanto rir.

Você nunca ouviu falar? Você é da geração Casseta e Planeta? E se diverte com as piadas, com as paródias de programas e comerciais que aqueles rapazes fazem? Acredite: Lauro Borges e Castro Barbosa, os locutores da PRK-30, já faziam isto bem antes, ao tempo em que os pais dos Cassetas eram meninos. E com uma pequena diferença: Lauro e Castro faziam muito melhor.

Meninos, eu ouvi. Não na época em que o programa era irradiado (de 1944 a 1964), que eu não sou tão velho assim. Aliás, infelizmente não sou daquela época. Hoje só me resta sentir saudade de um tempo em que não vivi. Mas existem programas gravados e até um livro sobre a PRK-30. Castro e Lauro, especialmente este último, são considerados como mestres pelas grandes estrelas do humor atual, o que vale dizer Chico Anísio, Jô Soares, Agildo Ribeiro entre outros.

Fazer humor hoje é difícil? Imagine naquela época em que não se podia fazer piadas envolvendo sexo, homossexualismo, palavrão (Falar termos hoje comuns como "bunda", "porrada" nem pensar!). Toda a família ouvia Rádio: da criança a vovó. Haveria de se ter muito cuidado com o que era dito diante do microfone.

O paulista Lauro Borges (Avô da Isabella Saes, inquieta mente autora deste blog) era o grande criador do programa. Ele escrevia todos os textos e ainda cuidava da produção da PRK-30. A sua habilidade em inventar vozes era algo impressionante, assim como a sua imaginação para escrever piadas que absolutamente não são datadas. Quem ouvir hoje, em pleno Século XXI, vai rolar de rir como nossos pais e avós rolavam, naquele tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça. O personagem habitual de Lauro, "Otelo Trigueiro", quando anunciado, costumava alertar com aquela voz inconfundível: "Se os ouvintes me preferem, por que é que a gente vai discutir com os ouvintes?" E ninguém discutia mesmo. Lauro não era bem-humorado apenas no Rádio. Adorava pregar peças até nos desconhecidos. Boni (Esse mesmo, aquele que foi o poderoso da Globo) conta que ele entrava nos restaurantes e ao sentar pedia ao garçom: "Quer me chupar os nabos, por favor?". Os garçons, assustados, perguntavam: "O que o senhor disse?" E ele dizia: "Guardanapos, por favor?"

Seu companheiro, o mineiro Castro Barbosa, além de humorista era cantor de sucesso, parceiro de dupla com Jonjoca, tendo gravado, inclusive, a inesquecível marchinha "O teu cabelo não nega", de Lamartine Babo. Ninguém fazia uma voz de português mais engraçada do que ele, no seu personagem "Megatério Nababo de Alicerce", da PRK-30.
Lauro Borges e Castro Barbosa não brilharam apenas na PRK-30. Eles atuaram em filmes ("Banana da Terra" e "Abacaxi Azul"). Lauro também atuaria em "Laranja da China" e "Folias Cariocas". (Todos, infelizmente, desaparecidos no tempo) e também em outros programas de muito sucesso na Era do Rádio. Um deles, o "Piadas do Manduca", além dos dois, tinha no elenco Renato Murce (Produtor e Diretor), Brandão Filho, Alfredo Viviani entre outros. Este programa tem uma história curiosa: originalmente tinha o nome de "Cenas Escolares" e era apenas um quadro do programa "Hora Só...Rindo". Ele se passava em uma sala de aula, onde os alunos davam respostas absurdas às perguntas da professora. Isto lá pelos idos de 1936. Três anos depois, Renato relançou-o como programa inteiro. Era tempos do Estado Novo, a ditadura de Getulio Vargas. Houve reclamações no sentido de que o programa "era uma contribuição à desordem e à falta de respeito nas salas de aula". Imaginem só. A censura da época o colocou na lista negra. Renato, então, trocou o nome para "Piadas do Manduca", que não se passava em uma sala de aula e sim na casa da professora e seu marido, um inspetor escolar, que, conversando com os alunos, tentavam ver como andava o conhecimento deles. "Ah, assim é outra coisa", teria dito os "çábios" do terrível DIP (A censura). A "Escolinha do Professor Raimundo" nunca teria esse tipo de problema...

Tanto o "Piadas do Manduca", quanto a PRK-30 chegaram também à Era da Televisão (a Lenha...), nos anos 60. A gente só tem a lamentar não existir nesta época o vídeo tape. Daqueles programas, só restam os scripts originais, guardados como um verdadeiro tesouro por Vera Regina Saes, uma das filhas de Lauro.
Não há ninguém com mais de 60 anos que ao ouvir alguém falar "PRK-30", não comece a rir sozinho. Desde o seu lançamento, aquele humor absolutamente maluco fascinava as pessoas. Quando "Megatério", "o único locutor que já mordeu a língua mais de dez vezes sem ter tido hidrofobia", abria o programa, praticamente o país inteiro parava. Quando após ser anunciado ("o espícler, que já foi convidado diversas vezes para trabalhar nos Unaited Esteites, mas não aceitou por que não se dá bem com o clima da Europa") "Otelo Trigueiro", cuja "voz tão medicinal, neutraliza o excesso de acidez do estômago e age de modo rápido e suave, limpando os intestinos e regularizando as funções do fígado", assumia o microfone, ninguém pensava na dureza da vida ou na carestia.

A "emissora" PRK-30 se esmerava em anunciar os produtos de seus "patrocinadores". Como, por exemplo, as Pastilhas Maiorativas: "Cai-lhe o cabelo? Então use Pastilhas Maiorativas, uma delícia para a dor de dentes". Ou a Sapataria Ó Sola Minha, "especializada em sapatos para jóqueis e cavalariços, a preços que são uma barbada. Não jóquei fora o seu dinheiro! A sapataria fica ali na Rua 11, número 12, em frente ao 13, a 14 passos da Praça 15".

Pelo seu microfone, passavam "calouros", como o senhor "Manuel Benevides das Alpercatas Macias e Saltos Altos de Moraes e Pencas" e cantores famosos como "Pedro Canário e sua voz de cotovia". Radionovelas empolgantes como a "Frinéia Descabelada" e a "Atire a Terceira Pedra"; programas de perguntas e respostas, como aquele em que foi perguntado ao candidato, "com cara de leitão assado", se ele sabia o que era "oásis". Ele disse que sabia, mas que a pronúncia estava errada: a certa era "os ases", plural do "oásis de copis, oásis de paus, oásis de ouro e oásis de espaudas".

Durante 20 anos, a PRK-30 animou as noites de toda uma geração. Sua sigla, que representava o prefixo de uma emissora "de ondas longas e compridas, curtas e encolhidas", foi, é e será sinônimo do mais fino e talentoso humor de que já se teve notícia. Não é à toa que a Rede Globo colocará no ar, este ano, o seu programa comemorativo dos 40 anos de existência, e resolveu chamá-lo de...PRK-40!
Lauro Borges desde 1967 está no céu, matando os anjinhos de tanto rir. Em 1975, Castro Barbosa juntou-se a ele, e não me admiraria se por lá, volta e meia fosse ouvido algo assim:
"Plim! Ao oubir este suabe toque de harpa, entra no ar, como se fosse um querubim dourado..."

Marco Santos é jornalista, ator e camelô de obras de artes, medicamentos e autopeças no Piscinão de Ramos, em Copacabana.

xxx

Muito obrigada pelo carinho, Marco. O Brasil precisa de pessoas como você, que ajudem a resgatar memórias preciosas. Aproveito também para deixar meu agradecimento ao jornalista Paulo Perdigão, que escreveu "No ar: PRK-30". Um trabalho brilhante, feito com carinho, competência e admiração. O livro está nas livrarias de todo o país e é um sucesso de vendas.

sábado, março 19, 2005

Multishow

Confira a minha estréia no dia 29/03, às 23h45!

Vaidade

Quando eu era mocinha, meus pais me ensinaram que ter vaidade era vestir uma roupa bonita, passar um batonzinho, me olhar uma, duas, três vezes no espelho e sair perfumada e saltitante para a diversão. Nossa, como era bom achar que vaidade era só isso. Que definição inocente! E como eu era ingênua, habitante de um mundo que me parecia sempre lindo e colorido.

Mas, um dia eu tive que crescer, né. Sair da "Terra do Nunca" e cair no asfalto quente. Ui! E aí percebi que, quando a gente cresce, as palavras mudam de sentido, as frases ganham diferentes conotações e o Papai Noel pega a rena do nariz vermelho, sobe no trenó, sai pela chaminé e não volta nunca mais. O Coelhinho da Páscoa, então, nem se fala. Esse aí partiu em disparada e eu nunca mais acordei cedo para procurar um ovinho sequer no jardim da casa da minha tia Carmen, em Teresópolis. Mas que ousadia da vida ficar desconstruindo papéis, sonhos e crenças, hein?! Quem ela pensa que é, essa mocinha?!

A pessoa que se torna vaidosa por causa de um trabalho público, de uma contribuição à vida alheia, de 125 ml de silicone nos peitos... Ora, francamente, merece o meu, o seu, o nosso desprezo. Já vi e vejo até hoje gente fazendo de tudo para aparecer. E, se precisar passar a perna no outro, tudo bem. Aí eu pergunto: Precisa disso? O mundo necessita dessas coisas? Pra quê? E a simplicidade, minha gente, onde está? Foi tentar achar as botas de Judas e volta já?! Volta já, sei. Volta nada. O mundo e as pessoas estão cada dia mais complexos, andamos nos esquecendo de que tudo pode ser mais simples na vida, de que a felicidade mora logo ali, ó, ao lado.

O problema é que hoje as mulheres têm que estar bombadas, fazer tratamentos caríssimos anti-celulite, fazer aquela (como é mesmo?)... Escova progressiva! Sou do tempo em que os nomes eram mais simples, tipo: depilação, escova (só escova, sem sobrenome. o rock já era progressivo, mas a escova não!), manicure, etc. Você já parou em frente a uma banca de jornais e ficou observando por 5 minutos o que está sendo oferecido aos seus olhos em primeiro plano? Faça essa experiência e depois me conte, tá?

E os homens? Eles têm que ter o carro do ano, um apezinho legal na zona sul pra levar a gatinha (gatinha esta que valoriza isso mesmo!)... Alguns estão se sentindo tão pressionados, que estão entrando para o time dos metrossexuais, sem nem saber direito o que é isso. Coitadinhos, tão perdidos... Mas que mundinho mais injusto, não? Senhoras e senhores, está implantada a era do ter, ter, ter! E a conseqüência disso é um mundo repleto de ansiosos, deprimidos e vaidosos.

Nada contra lutar pra ser bonita, malhar pra ficar com o corpo legal, trabalhar muito pra ganhar dinheiro e poder viajar, alugar um ap. Tudo isso eu também desejo. Mas são os exageros que me preocupam!

Hoje sou grata aos meus pais por terem tentado prolongar ao máximo a minha certeza de que ser vaidosa era apenas me enfeitar. Fui criança até onde pude, adolescente também. Hoje sou uma mulher de quase 30, cheia de sonhos, desejos, tentando não só me realizar, mas realizar também para os outros, para o mundo. Quero marcar positivamente quem amo, deixar boas heranças, amar, doar. Algo me diz que minha missão é fazer uma linda história.

quinta-feira, março 17, 2005

Quando um amigo parte...

Quando um amigo parte, a gente perde o chão. Ainda por cima quando ele vai embora sem se despedir, sem avisar e de forma violenta.

No dia 26 de julho de 2004, minha vida mudou. Perdi o meu querido amigo Fernando Villela, o Fervil, assassinado com um tiro no coração, durante um assalto, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Em momentos de perda, como esse, a cabeça pira, a mente (que já é inquieta) dá piruetas sem parar e tudo acaba se tornando estranho, sem sentido. Procurei explicação no budismo, no espiritismo, em leituras sobre vida após a morte mas, como não sou muito ligada em religião (e sim em energia), acabei não conseguindo me confortar. Na verdade, tive uma longa conversa comigo mesma e encontrei a serenidade.

Mas, o que me fez mesmo respirar de novo aliviada foi me juntar a um grupo de pessoas bem intencionadas e dispostas, e colocar em prática o "Cinema da Paz", uma inciativa da qual tenho o maior orgulho. Uma sessão de cinema - que exibe um filme cujo tema é "violência" - seguida de um debate sobre o assunto. O primeiro ocorreu no dia 27/01/05, com a exibição de "Ônibus 174", no Armazém Digital, e foi um sucesso. Gente sentada no chão da sala! Sinal de que a nossa preocupação com o caos em que o Rio se encontra é a de muitas outras pessoas. Conscientizar e não deixar o problema sair de pauta é o objetivo deste projeto. E sinto que estamos indo no caminho certo.

Peço a todos que tiverem interesse em falar com o grupo, que enviem e-mails para contato@fervilvive.org

O próximo "Cinema da Paz" será realizado em parceria com o "Viva Rio" e deve acontecer em setembro. O tema: desarmamento. Confirmo mais perto, aqui mesmo, no "Mente Inquieta". Conto com a presença de todos!

Fiquem sempre bem e em paz...

quarta-feira, março 16, 2005

Amor Genuíno

Quem aí já sentiu um amor genuíno?

Chega uma hora na vida em que nos damos conta de que muitas pessoas já passaram por ela. Principalmente, quando os nossos deliciosos e tão esperados 30 anos se aproximam. Está certo que algumas acenam lá de longe pra gente e outras chegam quase perto ou bem perto. Mas, tocar no ponto G do coração, chegar às profundezas sem pedir licença... Ah, isso é pra poucos!

Loiros, morenos, fortes, franguinhos, fumantes, não fumantes, caretas, tatuados, psicóticos, chatos, legaizinhos, insuportáveis, drogados, sovinas, honestos, ciumentos, mulherengos, fiéis (ôpa, existe isso?)... Ufa! Eles estão todos espalhados por aí em diferentes modelos, cores e cheiros (ah! e como o cheiro é importante...). E, confesso a vocês que, diante desta vida agitada de "jornalistaatrizprodutora", sempre achei que bastava dar uma olhada na vitrine, juntar as peças e escolher o meu tipo. Aí, quando eu cansasse da roupa velha, era só jogar fora, sem muitos ressentimentos.

É, a vida não erra na hora de escrever os nossos próximos capítulos. E chegou uma hora em que ela foi obrigada a me provar que eu estava muito enganada com essa história de modelos e vitrines (santa ignorância!). Nananana, não! A senhora está redondamente equivocada, Isabella Saes!

E foi numa "bella" noite de lua cheia, num lugar misterioso chamado Marte (é, este mesmo, o planeta vermelho) que ele chegou como quem não quer nada (na verdade, ele queria tudo!) e não demorou muito para me deixar de pernas para o ar, me tirar do eixo, me dar frio na barriga, provocar agonias e questionamentos incessantes, me amar, provar coisas até então impossíveis para mim e me chamar de amor da forma mais pura que meus ouvidos já haviam experimentado. E foi neste momento, meus amigos, que eu percebi que algo havia balançado o meu reino. E eu nem desconfiava que era tão bom...

Hoje, depois de um ano, nossas almas, em sintonias e equilíbrios diferentes, tiveram que se afastar. E o que me faz acreditar e sentir que foi único é o fato deste amor permanecer intocável dentro do meu coração. Um amor que um dia pode ser transformado, porém jamais exterminado. Um amor que vou sentir quantas vezes a vida quiser. Um amor incondicional, de espíritos evoluídos, yogues, lamas, gurus, budistas que alcançaram o Nirvana (será que rola isso mesmo? bom, conheço muitas mulheres que achavam que jamais alcançariam o orgasmo e hoje, queridos leitores, gemem 3, 4, 5 vezes a cada transa! pensando assim, tudo é possível...). Ah, sei lá! Só sei que esse amor é bom e diferente.

Tenho saudades das minhas lembranças, admiração pelo que vivemos, superamos e aprendemos no ontem, no hoje e pelo que vamos viver, superar e aprender no amanhã - juntos ou não. E a certeza sobre o amanhã, que, é fato, não posso prever; a falta de necessidade do palpável para estar certa de algo; e a confiança no abstrato (é lá onde estão escondidas nossas emoções mais fortes, Dali e Magritte que o digam!) são provas mais do que reais de que este amor é e sempre será genuíno.

Divido com vocês um desejo inquieto: que todos sintam a presença, pelo menos uma vez na vida, deste sentimento que tem o poder de nos transformar para sempre e fazer de nós pessoas muito melhores do que já somos. Estou feliz, pois aprendi a amar assim.

Esse texto é dedicado às pessoas que amo e ao meu companheiro de aventuras suadas no Planeta Vermelho!